18.3.15

congratulai-vos nas assembleias de destroços

Quero fazer artes mas também quero ganhar pilim
viver decadente não me atrevo que tenho uma boa família para manter assim a sim
e perante a qual devo manter uma imagem de bastião de segurança ar de senhorim
peito feito


Se pudéssemos fazer do nosso desalento dinheiro
e da nossa ânsia de felicidade alegria
empastelamos demasiado os nossos caminhos, porcaria
por pisarmos vezes sem conta na mesma lama
e só vemos o reflexo do céu numa poça turva, caramba
que brotou do nosso suor lacrimejado

Mais que estudar prepara-te para seres fudido
aprende a estar calado e a trepar no que te é devido
anche te de raiva por quem te rodeia
mas sem ser reconhecido
fui ver fui ver a tempestade
que caía o céu a magotes
e na terra meus melões tão franganotes
ameaçavam morrer, crueldade

aprenda a ilhar-se
deixe cair os destroços à sua volta
e feche os olhos de nuvens e chova
sobre a sua mulher, propague-se

O barro invade as nossas ruas
não preciso de dizer que calamos de espaldas recurvadas e nuas
não temos ódio mas medo de quem nos governa
de vez em quando paramos para fecundar a terra
a terra tropical empapada de sangue de quem sempre se ajoelha

Bones

deixo os móteis em fogo
uma ardência nas candurosas bocas brandas
levemente babadas
e passo jingando o molho de cordas chicoteando as latas de lixo
chuto o ar epilático das costas salto numa só bota com a outra perna esticada como o angus
e atiro o meu corpo contra as vitrines de noite
encharcado de amêndoa amarga morna tragada como se fosse leite podre
jamais me defino jamais me definho jamais me dê filho
jamaaaais me dêÊÊ fino
deixem emancipar-se a juventude deixem que se instale a preguiça
vou de óculos escuros cruzando o imaviz 4 da manhã de segunda
sem nenhum osso partido no esqueleto
um swingar de flippers
falando com as lixeiras e os postes
um medo dos crimes
mas sentindo-me um rei cigano

Já perdi tanto dinheiro que sei lá o que mais fazer para recompor a vida alguém me ajuda?

bemvindos sejam à minha humilde residência
estou  aqui para vos encantar com a as minhas ideias
as loucuras da minha cabeça

de tanto vivermos o mesmo dia
sufocados das mesmas espaldas
travancos e enxurradas de merda sobre os ombros
esquecemos que habitualmente vivemos
passo a passo como automatos
somos cada vez mais virtuais
fotos sempre com o mesmo sorriso
de redes sociais memórias de férias
e praias que já nem existem

estamos cada vez mais convencidos
à força
dos benefícios da higiene, do desporto,
das dietas, dum certo calculismo
e de abraçar sem pensar e com um sorriso rasgado e estúpido
a esfarelada moral pública que tentam colar nos nossos ombros e panturrilhas
como a areia da praia
e vamos vivendo nestas cidades
nadando para ultrapassar quem quer que seja
que se foda se meta à nossa frente no metro
e empilhamos as faturas de contas unicas cartas que ainda nos enfiam no correio
sobre as mesas compradas no IKEA que pagámos a alguém para que viesse montar
os ventos arfam constantemente nos escantilhões dos nossos apartamentos
como se dormissemos de janelas abertas
com risco de que se esbaldem os nossos filhos do 4ºandar
Lemos mentiras que contradizem mentiras
nos jornais
e habituamo-nos a desconfiar dos sentidos dos dizeres e das teorias
afavelamo-nos em tijolo e concreto com arame farpado nas beiradas
e desligamos o celular para ninguém nos incomodar
os violinos deixaram de nos comover com os seus lamentos
talvez nos abalemos se virmos um corpo baleado na calçada
mas não abrandaremos o passo
flagelam-nos a visão de animais maltratados por não se poderem defender
incapazes de prever o futuro e tomar as rédias de algum futuro
confiamo-nos aos tarots, signos e listas de supermercado
e como as crianças no infantário ou formigas na bancada da cozinha atacamos em grupo
tudo o que nos parece bom
nada pode ser bom para ninguém porque todos devem participar do  sofrimento comum
e a quem se suicida uma estátua deve ser erguida

mas não nos deixemos exaltar pelas emoções
mantenhamos uma certa ironia
uma certa pose de indiferença
de inexpugnabilidade
todas as formas de um homem se queixar e dizer mal já foram usadas
e sinto sempre que estou a desperdiçar tempo

ou deverei experimentar um alvoroço mais polokiano
como quem chicoteia o espaço

Corcovado

Os seus olhos eram tão separados como montanhas
e o processamento das duas verdades levava séculos
a serem fundidas quando do seu pensamento brotavam
horizontes de granito meticulosamente cristalizados

a bruma nunca ninguém a soube explicar
do verde das escarpas destacavam-se remansos
de amarelo e vermelho das lindas mimosas e Ipês
que emergiam para respirar do casaco húmido da floresta

Vibroprensado

piso vibro prensado
cabeças vibro prensadas
colchões estafados sobre a caruma
perto do complexo industrial
corpos peludos de macacão
carne desidratada e trocos no chão
espécies ameaçadas
anfíbeos mutantes óxidos estafados nos córregos
de cores psicadélicas
infecções urinárias feridas de mijo
caciques de mangas dobradas chegando e partindo em carros brancos
pó encobrindo tudo das nuvens entre os brônquios
charros unhas amareladas estruturas metálicas difusas
queimaduras no estofo do carro abandonado numa berma descalcetada
as borboletas pipocam nos todos de competindo em estridência
com as vagabundas flores amarelas
apercebemo-nos das manhãs e dos crepusculos
o resto dos dias é um limbo cravado num armazém com cheiro a diluente
e charros e comida nebulizada até aos vórtices do vómito

17.3.15

Casa na Cova do Vapor

comprem-me uma casa na cova do vapor junto à praia
onde eu possa ouvir o hiphop e fazer uma churrascada
onde eu me possa poluir junto do tejo e sentir português
deixe de sentir qualquer urgência mergulhado no atlântico


dêem uma casa com vista para a menor praia
perto da rua onde os carros só transitam de madrugada
perto da mata perto daquela rua com nome de número
perto da vista para lisboa e destroços que boiam na areia


dêem-me uma casa mais operária onde possa ser de novo adolescente
uma casa com quintal na rua perto daquele chaço estacionado
com skyline de chaminés com vozes de português mais frugal
com o pescoço vergado pelo peso do estado

com mais ódio pelos que dirigem sem compaixão este barco

Entre Nós e as Palavras

Ao Mário Cesariny

Entre nós e as palavras morre toda a gente
à palavras candeias que seguem à nossa frente
à palavras nevoeiro que se esfumam e não têm limites
e à palavras dentro das palavras que se multiplicam como bolhas de sabão
entre nós e as palavras à poços lavrados na rocha que nos engolem por noites inteiras
por que nos levam por escadas que só descem e que desaguam em esplanadas
onde de longe em longe nos cruzamos com uma pessoa e as paredes não têm forma só escadas que se precipitam na vertigem sem fundamento
à palavras centelhas que nos dão esperança que abrem remansos na cascata dos acontecimentos
são como fotos ou pinturas ou esculturas que nas partes baixas nos dependuramos
á palavras de indústria que nos arrastam em tristeza ritmíca e geométrica exponencial que nos vergam
entre nós e as palavras abruptamente, lágrimas que caem profusas sem entender
formando cascata
entre nós e as palavras futuros que nos furam as palmas das mãos e nos arrastam como grilhões
à palavras aliança que nos laçam em contratos e mentiras se nada as confirma
à palavras mentira que nos envolvem em sufoco e se liquidificam geladamente
entre nós e as palavras à angústia e espanto porque são como milhares de gavetas
entreabertas donde saem baratas, pó e farpas de outras letras

Alhadas

os armários da cozinha tinham uma tela plástica em vez de vidros
e a madeira tinha um cheiro de anos
havia descrepância nas idades dos armários, do pavimento,
dos azulejos, do fogão encaixado na antiga chaminé
no paneleiro de ganchos e nos imãs poéticos colados no frigorífico
era uma forma lenta de cozinhar gerações
Bêbados avançávamos leituras alternativas para as figuras lascadas do teto

concelho - Top albuns

on the loop now

Linda Martini

Father John Misty

Wire

Por eles peço desculpa pelos palavrões e ordinarices

e uma música - Radio Jaipur  do cd All India Radio

Processos

vou alternando entre bares de alterne
ora ajunto uma consideração metafísica
ora atacho uma curiosidade pseudo-indie
casquino sem querer mostrar os dentes
e admito uma certa melosidade do coração
perante as coisas belas da natureza

Lamentos

Continuamos a escrever lamentando a perda do celular recheado de textos maravilhosos
que não sei se poderão ser recuperados… estavam tão encharcados de tristeza
começamos o dia com uma talochada de Linda Martini e artigos da Piauí
havemos de chafurdar na melancolia e ir à missa todos os dias
e o sérgio godinho lambuzado em doce de chila chi chi chi chila
e um feed acelerado de instagram
recorda-nos esse passado recente de devassidão e futiliddade
e preferiamos ter aproveitado melhor o tempo desde aquela época em que ainda cagávamos nas fraldas
tudo flui mas no feed sempre o mesmo estafermo gordo de sunga ou camisa tropical
cheio de medalhões de fancaria enferrujando no peito

digressão sobre artes divinatórias

A profecia oferece um suporte ao milagre
exponencia o impacto do destino
como se alguém pudesse ler as mãos de todo um povo
os druidas, as bruxas e o horóscopo no metro
são serviço social
“Você vai casar com o seu cão”
“não chore”
Sometimes I feel we feel the need to be guided
encaixamo-nos numa porra dum personagem
e isso é Rap, hip hop e e novela juntas
e quando o personagem morre
sentimos os pelos do braço vibrar e damos graças a deus por estarmos vivos

26.2.15

Solilóquio

A música tem duas correntes como duas linhas de coca
uma espinha simples da consciência
e uma espinha que voa com o vento quando abrem a porta

Ponham um africano a cantar os fados de coimbra
façam-no palrar considerações sobre o assassinato do major Humberto Delgado
e dêem o nome de “políticossonegadores” a estádios abandonados

Preparem-se para um  fluxo de consciência com a duração de um dia
não se preocupem é sábado
As cigarras levantam entre as árvores muralhas
de ruído nas asas do calor
e iludem as noções de proximidade elevando-nos
de olhos fechados por labirintos de som infernal
infernalmente quente
esquadram as planícies armando secretas províncias que encaixotam o calor
em ondas de Verão
Nos alentejos armam-se as populações segundo cartilhas marxistas
esquartejam-se os capatazes
põem-se as massas a andar com uma malga de latão e uns talheres encarquilhados novos

Eu Que ro la VAR  a Mi nha pa LE    ta
No brasil é mais fácil rimar com maleta
sacos azuis - comprimidos de todas as cores
bandeiras desfraldadas uma para cada doutor

o meu amigo que quase foi padre
casou-se com uma garota dos trópicos
uma estatueta do alípio de freitas colada com cuspe no tejadilho
da picape cortava o vento por entre as costelas chicoteadas do sertão

Podes sempre sufocar com o que escreves
assumir uma postura de caganer de textos
e esperar que engracem com a tua loucura
acocorado na chuva dum arrozal
sublevas hordas de khmers vermelhos
sobes a favela e padronizas o comando vermelho
destila a raiva do medronho alentejo vietcong

E um dardo de sangue alastrará pelo ninho da noite
e um lardo de sangue arrastará pelo meio da noite
e um fardo de rompante assoará pelo meio te açoite
e um saco de leite foi que te afoite
mantro eu sem querer parecer muito veado
e um barco de leite se lançará dançando magoei-te
e um traço de skate lascando no meio-fio de azeite
e um laço de esguelha matou-te cravei-te
não sei craveira mamou-me deleite
sempre tive dúvidas que um dia me visite a felicidade
sempre tive brumas álgidas fronteiras

mulher das patilhas finas
penugem
leve nas axilas
e um sombreado nos cantos dos lábios
é branca de neve
é luz esfumada
e tem pêlo de pêssego
esfumado negro no pescoço de porcelana
os lábios negros de mercúrio
pan pan gurl riot gerl
mártir da pátria
barata que se esmaga à chinelada
fanta sem gás sola do ténis borrada
prateleira esquálida que se parte com uma marretada
de punho fechado
caminho sobre os ossos calcinados de uma vaca
ardida na pradaria
os cães selvaagens matam as cabras monteses na serra do gerês
eu vi algumas apodrecendo com a garganta destroçada
casamo-nos e ficamos à mercê
ajoelhamos e enláçam-nos os pulsos
e arrastam a nossa paciência morro acima e morro abaixo
sempre com um sorriso de gengiva rebentada nas trombas
venham as verdadeiras tragédias que arrasem o planeta que não aguento mais esta tensão
tirem este jugo da burocracia e dos impostos e das conveniências de cima dos meus testículos
não vêem que já estou com a cara toda vermelha a pontos de explodir?

Dá para ouvir as gravações das falas do raul lino
ele chorava imenso quando partia para alemanha
estudou em Hannover, chorava como chorou o Zeca Afonso ao ver aqueles que partiam
partia-se-lhes o cuore como ao pato quando não pode embarcar para a gravação
e teve de entrar o josé mário branco
entra o batuque e ouve-se “Ó Zé Mário pah, não se ouve” un deux trois undeux trois undeux trois
e que bestas marítimas nós éramos
baixos, compactos, um equilíbrio natural como que talhados na madeira das naus
verdadeiros sarrafos de pinho leiriense com voracidade por mulatas e tudo mais que mexa e se possa vender
hoje os mesmos predicados nos carimbam as testas de cada vez que jogamos à bola com a estrangeirada “ah cuidado eles parecem sei lá o quê”
os mexicanos vejo que também se poderão vir a notabilizar pelas suas humildes origens mas ganas de prosperar ao lado de um país 5 vezes maior

Também eu sei que existe uma casa tradicional brasileira
feita de tijolo e com um terraço coberto com telha cancerígena de fibrocimento
repara o que tentaram fazer ao Ventura Terra quando este ganhou o concurso de Paris

Ficou amigo do Roque Gameiro o mestre Lino e andavam os dois a molhar a sopa entre odeceixas e lavacolhos
exaltemos a saloiedade
desfrutemos das riquezas das tias dos amigos
e enchamos os peitos de nacionalismos

era uma casa de jovens uma casa em benfica
emprestada por uma secção do partido comunista
viviamos de olhar vermelho esgazeado

enervava-se com a ostentação dos cardeais

ficámos no campo de concentração quando vieram os japoneses

era um bar com os cômodos todos diferentes cada um com uma iluminação mortiça diferente
cantava-se a música independente dessess finais dos anos noventa
bebia-se e fumavam-se uns charros e mostrava-se as roupas novas

era uma escola infantil as paredes pejadas de bricolages, trabalhos coloridos, lãs e plasticinas coladas em cartolinas coloridas
as crianças tinham cabelos fartos e camiblusas de gola alta e colants garridos de malha sintética
era uma casa com as suas empregadas de limpeza e a figura maternal das professoras

gravamos num convento abandonado
um homem que para ali andava ocioso ficou a guardar a estrada
espantámos as galinhas e os pombos
gravámos depois no palácio de Monserrat quando esteve fechado para obras
o edifício tinha uma estrutura em volta que lhe dava um ar de nave prestes a voar com duas asas enormes trepámos pelos andaimes
e entrámos pelas janelas de cima
os salões silenciosos e abandonados a ostentação descascada
a grandiosidade manchada de chuva
o pó é só uma maquiagem a largura das paredes assegura a potência de ser palácio
os andrajos nunca impediram o filósofo e o poeta

era um bar onde havia a mistura em nossas frágeis cabeças de álcool, dEUS, Red Hot,
pobres jovens de ereções constantes sob as largas bermudas que lhes escorriam no pescoço das cuecas abaixo só à base de charro para suportar tanta loucura

Os presos mais perigosos -os que matam de forma consciente e que ganham gosto pela caçada- não dão respostas escorreitas
reiniciam as frases: deixe me ver, assim, superficialmente
pensam e escudam-se tão perfeitamente como quem dispõem calhaus no rio
um a um em cima de um calhau previamente colocado meio molhado e limoso
tentando criar um caminho tortuoso ao longo do rio

será mal se estiver a seguir alguém?
será mal se estiver seguindo uma irmandade?
E se nos irmanarmos de teorias ou seitas?
e se as nossas irmandades nos tornarem violentos?

vou lavrar as palavras até que venham sem travas

a glória persegue os que não a buscam
as canções que se choram não terminam
será um novo espatifanço num matagal
perdido numa berma duma estrada regional
longe das casas

hão-de passar os operários sem tempo a desperdiçar
como bêbados

Ouvimos uma tabla, uma flauta sintetizada e uma guitarrada psico-bolliwoodesca
ouvimos falar em especiairias e mulheres envoltas em saris rosa forte
e ouvimos uma stratocaster rouca e sentimos forte cheiro de combustível
um fiddle e um banjo parodiando as ceroulas duma dançarina de saloon

somos cowboys, zulus e cartelistas mexicanos
tresandamos a kebab e pato à pequim e chamussas
repetimos vezes sem conta as mesmas fotos e frases
no instagram e no facebook
como as formigas seguimos pelos mesmos carreiros
e dissecamos as mesmas baratas mortas
para nos alimentarmos no inverno cagando para as cigarras
que tocam sanfona lá fora quando se aproxima um tufão

ouvimos os uivos dos cães que acordaram entre os vinhedos
a terra ainda emana o calor do dia
se todos tivéssemos uma casa e cultivássemos
e todos juntos enfiássemos as mãos na terra

Por inveja o estado roubou-me o meu nome
costumava ser jardim gonçalves mas não é mais
venderam também os meus filhos
e querem abduzir minhas células estaminais
e vendê-las em kits de sócio
distribuídos pela população nos próximos census

sinto a vergonha que ela devia ter e não tem

podemos sempre ser acusados de excessiva modéstia
excessiva sentimentalidade, tristeza escandalosa
loucura desmesurada, incompreensível, estúpidez

Como acertar naquele ponto de equilíbrio
que para a maioria é arte
A maioria é arte
A melhor obra de arte é minha mulher grávida
A melhor obra de arte é minha mulher grávida
A pele bem esticada como se engolira um melão
sobre a barriga pitoresca de umbigo a querer eclodir
uma estátua de amor
uma estátua de carinho
mais que uma estátua
mais que um monumento
mais que uma pessoa
fixo bem de perto e sigo os movimentos da minha filha
sob a pele perfeita da minha mulher
aspiro o cheiro perfeito da sua pele
baixo me para que a curvatura me faça sentir um criador de um mundo
com o reflexo da luz da tarde no horizonte deste mundo que inspira e expira

quem será esta menina que vai brotar na nossa vida
e dar-lhe um significado mais rico
não sei o que se vai passar comigo

poderei falar da paternidade duma forma mais velada
eu serei um rei e ela princesa
que raio de rei

sentimos a pressão da sociedade hoje mais que nunca?
Voltámos ao estágio de viver em aldeia
e acordarmos sob constante vigilância
não me quero expôr mas quero a vossa alabança
confirmem que vou bem sem pousarem sobre mim o olhar
avaliem meu curriculo imperfeito
mas não me firam com a vossa ganância
é assim mesmo que se pensa
com flashes distintos disparados por algum gatilho
atrelado nos significados das palavras

hoje enrolei enquanto estive lúcido o resto do dia dormi sentado
continuo esperando por calamidades tão atrozes que distraiam as pessoas dos meus erros
que suba o nível do mar
arrasem um país
reatem uma guerra intensa
por favor não sejam tão diplomatas e rebentem aos estoiros
deixem correr o fogo da vossa ira
e matem-se uns aos outros e esqueçam que não paguei os impostos

discotecas e cloro de piscinas
olhos vermelhos mulheres chacinas
patinamos com raiva na gordurosa perfídia
dos que vivem do mal dos outros e nunca são queimados
somos milhões de olhos colados nos televisores e ecrans de celular
vendo desfilar os biltres nas passarelas das suas mansões
sobrevoando as nossas almas em seus jatos particulares
chafurdando em dinheiro roubado
remando violentamente sobreo mar encapelado da moral
e gritando para trás venham daí e afoguem-se na esteira da nossa disenteria

O Villaret fez uma concessão ao poetas brasileiros
poemas cómicos e eróticos
foram uns faunos malcriados da modernidade
que enxovalharam as ideias mais subtis

poderei ser irônico para dizer mal de alguém importante ou de uma instituição?
tenho muito medo de que me batam ou envenenem
e nunca acreditei que não houvesse um limite à liberdade de expressão
até em casa apanhámos por abrirmos a boca ao coração
quanto mais no meio destas bestas que nos pisoteiam com impostos
e nos envergonham com burocracias despudoradas
até ao josé mourinho fodem como não a mim…

Sinto-me doente do corpo e da alma
acho que é por estar mau tempo e eu dever tanto dinheiro

Plantei dois pepinos e senti a natureza dando-me uma lição de moral e pudor
o falo verde era encoberto graciosamente por grandes folhas
tudo o que planto ultimamente morre
não domino a técnica e começo a ficar farto
de tanto dinheiro gasto

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...