I
forcei um pouco em busca dos teus lábios,
O terreno irregular conduzia correntes,
de ribanceiras de gelado veneno
O xisto aprumado das levadas
arrebenta o beiço animal esventrado
cães selvagens dos montes uivam porque este ano
o mel está estragado
E ainda mal começara a viagem
Brilhantes lagos refletem o horizonte,
a dois a solidão partilhada de inverno
Sopravas no meu rosto,
teu vento norte
no granito distraído do meu rosto
Beijo a lama enganado,
o fel das azeda despenha-se na garganta
e é primavera
II
espreguiço-me,
oiço a água do teu duche,
a luz rivaliza em brutalidade
com a sombra no pátio
O sol esturricava os carros na praça
riscam de negro saguão
Cheira a cano e são frescos os corredores
de acesso aos elevadores
na mesa do porteiro deescançam antigas faturas de electricidade e do gás
escadas sobem de tétano
Lá em cima as telhas despenham-se de ferrugem
a olhar a cidade as luzes e o jantar
há muito que aqui não chega o teu correio
escondido,
o teu tesouro que te tem trazido na solidão.
o chão de grelha enferrujada
o frio distante das máquinas
um gesto mal calculado
A grande basílica varrida por varandins técnicos
ecoa o mais silenciosamente que lhe permite a pedra
III
chapinhas fresca nos seixos
toda a pele rasguei
para a conquistar
paixões não as quero gastar
sentidos sob o teu comando
meu orgulho em tiras
Desce a memória do desenho do que se quer ser
Oiço a voz
toca a campainha,
soltos em círculo
arrancamos as ladaínhas
rodamos e rodamos
aspergimos nossos passos
Um Castelo
pequena galeria de fogo
não me abandones,
ondas sensuais
o glaceado olhar encova a lareira
E quando aprendemos a rezar
estilhaçados arfamos na poeira prata
que desprende das asas da gaivota
é mar é madrugada
Tempo do sonho
Arcos terrosos de ruína
tudo brilha despido
nu, resplandece da mais límpida tristeza
as asas do morcego matizando as sombras
O sino reflete no empedrado...
o desmaiado da torre
o frio da aldeia esvai-se em bruma pelo vale toda a noite
enregelados brotam aos lábios rezas
a batalha mais importante
sente o gozo de vencer
a noite clara
a serra já tomada
O cume não se vê
os becos da imaginação irrequieta.
textura do cheiro da noite.
manda no corpo
O cinzeiro
a maresia e os sons inesperados
O arrepio de incerteza
uma figura esboçada no pó da terra