22.10.11

Drave

Vida a Dois

suas folhas sobre as minhas
secas mãos de outono
o fogo sobre a pedra da cozinha
o torpor dos anos foi um sono

a chaleira espalha as brasas
pela sombra do sobrolho um fulgor
de chuva no fundo da alma, os pratos
são memórias que escondo no aparador

as rendas brancas suspiram à noite
as estrelas atrás das vidraças
fervilham num continuo pensamento

A vida a dois é um resguardo no socalco
da escarposa serra, é uma cozinha quente
que ao final da tarde se encerra

Leonardo Cardo

No Dout

Procurava convencer em sonhos os teus
inimigos a que não te ferissem
e acabava por deles me irmanar
perplexo com qual verdade amar

por vezes a razão mais fria
sobrevinda por um caloroso diálogo
adenda-se de nebulosa dúvida

Alcatra Vecon

Para uma Gazela

Sonhei espaçadamente ao longo dos anos
como uma doença sazonal que volta
num misto de tristeza e melancolia
que ainda na mesma casa juntos viviamos

e o nosso conhecimento era mais profundo
aprendi a ler ao longe a intenção dos teus gestos
passei em sonhos a defender as tuas causas
e tu aceitavas a minha devoção

acordava por fim suado
numa rodilha de lençóis abandonado
com o olhar difuso no fundo do quarto

e uma ancestral noção de corte com uma vida
que ressecou ainda jovem como erva ao sol
como um corso que deixa escapar a sua gazela

pela floresta densa e brumosa da memória perdida

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Major Catete

Indecisão Querida

o leito das estradas ensopado
o asfalto de chuva e lampião
alaranjado clarão da noite
que vagueio às vezes em busca

Do que de dia jamais enxergo
e só o opaco bréu me revela
no silêncio de passos madrugadores
meus anseios, medos, humores

rumino até à ardência cerebral
evitando por entre as árvores
do caminho qualquer conclusão

apraz-me dançar na confusão
que a alma a dúvida me devore
e arvore a indecisão na alma

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Major Catete

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...