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22.5.12

Abat-jour de Enfartos


um abat-jour de enfartos
uma malga de ácaros
e um relógio que bate em retirada
os passos sobre a água das pombas
fedem
fedem
os canos nas trapas
fedem os canos pluviais das casas
choram os líquenes nos beirais
e ao fundo as paisagens desfocadas

Mosquito Dengoso

22.10.11

No Dout

Procurava convencer em sonhos os teus
inimigos a que não te ferissem
e acabava por deles me irmanar
perplexo com qual verdade amar

por vezes a razão mais fria
sobrevinda por um caloroso diálogo
adenda-se de nebulosa dúvida

Alcatra Vecon

Para uma Gazela

Sonhei espaçadamente ao longo dos anos
como uma doença sazonal que volta
num misto de tristeza e melancolia
que ainda na mesma casa juntos viviamos

e o nosso conhecimento era mais profundo
aprendi a ler ao longe a intenção dos teus gestos
passei em sonhos a defender as tuas causas
e tu aceitavas a minha devoção

acordava por fim suado
numa rodilha de lençóis abandonado
com o olhar difuso no fundo do quarto

e uma ancestral noção de corte com uma vida
que ressecou ainda jovem como erva ao sol
como um corso que deixa escapar a sua gazela

pela floresta densa e brumosa da memória perdida

~~~~

Major Catete

Indecisão Querida

o leito das estradas ensopado
o asfalto de chuva e lampião
alaranjado clarão da noite
que vagueio às vezes em busca

Do que de dia jamais enxergo
e só o opaco bréu me revela
no silêncio de passos madrugadores
meus anseios, medos, humores

rumino até à ardência cerebral
evitando por entre as árvores
do caminho qualquer conclusão

apraz-me dançar na confusão
que a alma a dúvida me devore
e arvore a indecisão na alma

~~~~

Major Catete

17.8.11

Bossa Senses


Chia a cuíca
zumbe o besouro
fervilha ramada do coqueiro
o céu côr de rosa
o mar verde
e o ipê vermelho
cheiro de engrenagem
cruzado em aroma de asfalto
e aqueloutra fragrância de nívea
o toque acetinado do caju
e rugoso morro granítico
e o toque líquido da cachoeira
a acidez do limão
e o sal do mar nalgum sobrolho
e jovialidade do guaraná

Sôr Flamengo

Sacolé


sacolé sacolé gelado
enche o saco
sacolé cheio de côco
dente, língua, raspa
chupa, soca, engole
sacolé de leite e côco
fibra e creme o doce
e o sublime um êmbolo
aspiro o teu fresco sopro
beijo de côco, maracujá,
limão, goiaba, côco, Côco
papilas agitadas de tanto molho
ácido, doce, amendoado
papilas aroma agitado
odor na língua mole
exótica natureza língua no saco
últimas gotas
melhores gotas
dentes que sulcam o resto do saco
delícia lábios de côco
hálito tropical
coalho nos recantos molhados
da boca fresca
gelado de fresa ou framboesa
sacolé que embrulhas a floresta
lábios vermelhos

Sôr Flamengo

Lágrimas



Pequena entre os cacos
pequena entre os cacos
de vidro no chão espalhados
os teus pés em sangue descalços
maldiz o teu querido pai
maldiz a família ai ai
quem te faz assim sofrer
as lágrimas que se quebram em vidro no chão
são lágrimas que se quebram em vidro no chão
lágrimas q'se quebram em vidro no chão

lágrima q'se quebra é vidro no chão
que fura o sangue ao pé descalço
que a tristeza atinge a pobreza
na parte de baixo
na parte de baixo

e dizem que lágrima de rico é arte
tão doce é mel falso que enjoa
quero daquele choro que magoa
de verdadeiro vidro que quando cai estoura

e se elevado ao céu o sol doura
é choro bom como um copo de cachaça
é choro de pobre que lua exalta
é choro de morro que povo gosta

Sôr Flamengo

Comércio Carioca


Compro ferro
compro metal
compro tralha
aluminio e louça
compro ferro
vendo arma
vendo droga
vendo mulhê
vendo goma
vendo bala
compro carne
compro carne
vendo alma
vendo a alma

Sôr Flamengo

Montada em Fuga


Tinha uma montada segura
mas uma noite perdi meu cavalo
fugiu minha sela segura
prós lados de São Gonçalo

Afrouxei na firmeza da rédea
perdi o controlo das decisões
rabiou minha confidente montada
agora sigo pelo caminho a pé

Era tão bom montá-la
o ritmo suave das nossas ancas
mas montadas velhas exigem firmeza
meu coração jovem só tem moleza

lá vai ela no alto da cordilheira
as aldrabas carregadas dos meus bens
desprezando orgulhosa o meu anseio
e eu aqui sem caminho e sem vintém

Sôr Flamengo

16.8.11

Hip Hop no Morro



Os meninos esperavam-na mais que o natal
e ela não chegava a aparecer
como também as prendas para sempre adiadas
cadê o fuzil? cadê a granada? cadê minha mina
que nunca aparece no pedaço
eu rimo no vibrar da pipa
vibra meu coração como o vento na bandeira
é a bandeira do brasil que vibra ao som do fuzil
é a bandeira do rio de janeiro
que faz sambar o mundo inteiro
são palavras que que movem os morros
são palavras que rebentam na ressaca
são palavras que descem dos morros
são palavras que acordam as almas
são palavras que refletem guanabara
são palavras que refletem os sonhos
os sonhos da cidade ao ritmo do maracatu
os sonhos que se despenham das asas dum urubu
os sonhos da cidade ao ritmo do samba
apodrecendo numa enferrujada caçamba
a corrupção a corrupção
afoga os sonhos da população
a corrupção a corrupção
faz dançar a bandeira
num fogo de revolução
revolução revolução

Sôr Flamengo

ideias pró samba enredo da estácio


Ai ke mulher é essa
Ela está se levantando
e com ela toda a avenida
e com avenida salta todo o Rio
no alto das pernas vai sambando
toda a estácio
e quando ela ginga
todo o homem se ajoelha
e todo velho dá graças
ai ke mulher é essa
é um pássaro é um avião
é um brilhante tostão
é um gole de cachaça
é uma jovem criança
de sorriso que em tudo o que toca
vira ouro como o rei midas
ela é ouro
dos seus passos jorra luz
um brilho intenso
deixando um rasto de estrelas
e os corações apaixonados
é na avenida ou seja na tela
essa mulher é bela
ai ke mulher é essa
kem sabe que mulher é essa
a sua saia espalha
fogo de luz feito queda
de cachoeira
e toda estácio rejubila
com essa rainha
é tua, é minha,
ela é nossa de quem é essa menina
que por onde passa espalha magia?
Eiki
mulher
é essa
Está
se o sol a pôr
e a luna
já no céu vai brilhar

Ideia para um Funk - Lacraia na Cueca - Vendo a ideia


Tinha lacraia quando fui pegar
quando fui pegar minha cueca
cueca tinha lacraia quando fui
pegar ela - picou, picou, picou
na bunda maldita lacraia
ai ai ai debaixo da saia
como um raio de fogo na pele
pele da bunda em fogo lacraia
de mil patas tatuagem
espalhando veneno debaixo
da saia paralisando as pernas

mc Nayler

16.6.11

Forró-Afandangado

caqui ou dióspiro
suspiro, suspiro e inspiro
cofio a patilha que é costeleta
e masco a pastilha-bala
e se a bala é bala
é porque com ela ninguém se mete
que ainda se mata
oh mata atlântica oh mate Leão
aqui pantera mais fraca é uma onça
e o torniquete baptizado catraca
Zé da Catraca sem que tenham de pagar portagem
que aqui é pedágio
não pelágio não ao negócio
não ao contrabando nas ruas do crack
mais um galho que se quebra
que se corre o bicho pega
que a pêga não é bicho até o cego enxerga
que o governo é o chupacabra
todo o mundo verga
perante a bunda mais larga
perante o mundo eu tiro o pote da farofa
e me chamam de bimbo que lá é brega
e danço tanto vira num samba de palavras
que a camiseta se cola à parte de trás
da t-shirt e desapareço, dou de fuga
em busca da frescura dum boteco no interior
resguardado da praia mais larga
escondida da polícia abafada de côcos frescos
e meninas de canga de pele morena
e uma estridência na voz que me deixa Corcovado

Sôr Flamengo

Controlo de Pragas

Depois de 3 meses de busca no Rio decidi aventurar-me pela Ilha Grande onde sempre precisam de garçons e copeiros num dos 250 motéis. Acabei por ser contratado naquele ano para integrar uma equipe de controlo de pragas símias. Os miquinhos andavam com a raiva. O nosso trabalho era proteger os turistas sem que se apercebessem da carnificina operada na selva infernal vizinha das paradisíacas praias. Os danados são loucos por bananas passadas do ponto enganávamos os macaquinhos como crianças doidas por gulodices... Chegávamos a casa com sangue até às cuecas. é incrível as litradas que tão pequenas criaturas espirram na excitação de se despedirem das selvas eternas para mergulharem no sono leve dos trópicos... Tudo é eterno de certa forma... O enjôo é que difere. Eu cansei-me de levar a matança a sério e passava os dias no mangue fantasiando em velhas lendas e crenças brasileiras.

Sôr Flamengo

28.5.11

Mangue Beat Me

As botas escorrendo mangue
nos pulsos lama e sangue
àguas mornas e barrentas
manhãs de bolor, tardes lentas

meu cheiro afasta o gringo
como se eu fora leproso
mas a mulher c’oa janta pronta
me agarra e beija gostoso

e a terra é tão mole
junto ao nosso rio
que se abrem as covas
e os mortos voltam à vida

e o siri branco de chuva
alimenta o povo como hóstia
e a gente que reza no mangue
apesar do cheiro tem alma pura

Sôr Flamengo

26.5.11

Garota da Urca

E de novo o vento, sopra não sei bem de onde, algures entre a Praia Vermelha, o morro da Urca e o morro da Babilônia. Grita a passarada Tucanos, Bem-te-vis, as mudas tortolias embalam as sestas dos peões que deitados nos bancos de concreto pesado fantasiam sobre as formas dos côcos lá no alto. Cruzam silenciosos os gaviões centelhas negras que sobem e descem com o bico escrevendo  nos maduros paredões graníticos dos morros. Eu deitado e ela passa. E a brisa que a envolve devia ser inscrita como pecado no Lexicon uma chama de Hades com cara de menina distraída. todas as poças a fotografam rendidas por terra. E o pó do chão levanta-se exaltado como no dia da criação do homem.

Sôr Flamengo

Retratos do Rio

A árvore cansada de transar com o vento suspirou fundo, o pátio estremeceu e o dia rolou na sua incessante fome de movimento.
O claustro da modernista da universidade com suas lajes, pilares e rasgos brutalistas adormecia comigo envolvido no letargo da melodia simples de alguém varrendo talvez no piso de cima ou lá em baixo no jardim interior. Enchi o peito do mundo e desfoquei a paisagem como um apaixonado que fixa demasiado perto o rosto da sua amante.
As garças imóveis retrasavam as ondas de calor exaladas do mangue.
Tanta água canta doirada enquanto esperamos. Um minuto gera uma hora e o sono pinta a tarde de eternidade.
A entrevista para selecção de investigadores foi curta como um relâmpago e de novo a realidade se tinge de pasmaceira e boas vibrações. Eu não fumei mas vim-me a babar na van do Fundão até à praia de Botafogo.
De olhos semicerrados vi as torres altas de igrejas semi-góticas despontando do caos cubista das favelas e penso na vida de entrega dos padres. Oh santa loucura como os invejo de tão forte paixão que os eleva, que os enleva.
Depois tacteio com os olhos toda a textura do acampamento dos sem casa. Uma fogueira, cartões, sacos atafulhados de incertezas, lama, destroços de betão, uma cerca arrombada na beira da auto-estrada, farrapos de roupa, corpos esmiuçados, olhares difusos, indícios de instintividade animal...
E abraço depois a tepidez da normalidade humana esboçada em milhares de criaturas, cruzando automaticamente as calçadas, com medo do amanhã e uma esperança infinita nas alegrias do fim-de-semana, eles pensam Senhor, mas nem tanto, porque é que os havias de vomitar boca fora?

Sôr Flamengo

Empreendimentos

Acordámos depois de uma noite resfriada. O Bem-te-vi picáva-nos o cérebro lá fora sob um sol estuporado. Aqui há uns anos teria despido a roupa e saltado em pelota para a lamacenta água da baía. O deck ainda em processo de legalização ambiental range a cada passo. Os direitos colonizadores dos portugueses foram transferidos para uma cambada de brazucas gordos e bem dispostos refugiados em resorts e villages luxuosos. Fui apresentado a um destes espécimes que procriara uma construtora e sorria como um labrego. Fiquei certo de que se houver oportunidade ele me dará a mão para me afogar na betoneira dele.

Sôr Flamengo

4.2.11

Piranha

O esplendor descendo de mão dada com a libertinagem
e no seu encalço a sombra da tristeza,
beijam-se o orgulho e a preguiça
gulosas de luxúria
mergulham num poço de ganância
e dão à luz uma piranha!

Sor Famengo

Eu Vim

Vim apesar de tudo
apesar de me faltar o chão
e no bolso nem tostão
eu vim
apesar do negrume dos céus
e do rugido atemorizador
do mar que me afoga os passos
eu vim
eu vim e não encontrei ninguém
e encontrei a casa vazia
eu vim
apesar de tudo
de tudo o que eu deixei
o conforto da alma e a barriga cheia
as canções e os sonhos que não sonhei
deixei
deixei a casa e os pais
e os papéis desalinhados sobre a mesa
eu vim
eu vim apesar de tudo o que afastei
ao longo do caminho
laços que se me abraçavam às pernas
afastei
afastei os escolhos
arregacei as calças fiz me ao caminho
e não encontrei ninguém

Sor Flamengo

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...