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17.8.11

11


Ressoou como um turbilhão mais longínquo que o eco
as ondas dum mar interior sem margens
revoaram em busca dum descanso eterno
numa praia que nunca viram numa morte que as receba

16.8.11

Divagações sob Torpor Pós-Prandial numa Tarde de Primavera


I

E o que se ouve
não é de somenos importância
um porto de abrigo
sussurrado aos ouvidos
que nos guarda do medo e do temor
um acalento um calor
que nos acompanha na jornada
e alimenta a faminta alma
um colírio para os olhos
se se adensa a escuridão

II

ao largo
afastai-vos da amurada
afastai-vos da fantasia
mar dentro
um novo dia
embarcai na realidade
acenai aos loucos
que se perdem
em leprosários sem horizonte

darcio


Darcio era um preto caudaloso de banhas, sorriso franco e humor efeminado. Terminara o curso de advocacia durante os primeiros passos da andropausa. Não se podia chamar bem uma pausa já que a função não chegara a ser despoletada. Era dono de uma barraca de apoio no posto 9 da praia de Ipanema. Cirandava de barraca em barraca comendo com os amigos bamboleando a sua sunga alvinegra com a estrela do Botafogo descaída sobre a nádega esquerda.

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queria arrastar-te para o meu jogo
ensinar-te as regras
e ver insegura apoiando-te nos meus braços
e com olhar suplicante procurando respostas
no meu olhar
E o manipular da relação na ponta dos dedos
eu ser teu carrasco e tu me agradecer

Manel Bisnaga

Galos


Galos inflados de vento dum só perfil brilhando ao sol nos deixam cegos.
cortam a verdade com seu bico empinado e não têm cheiro se não de metal.
Advogam que não conhecem ferrugem mas não tocam com as patas na terra.
E pisam todo o edifício independentes de toda organização.
Não cantam nas madrugadas e não comem nas capoeiras comem só dinheiro dos contribuintes adormecidos assaltando as casas das viúvas.

Henrique

twitter


Espirrei com tal força que ia ficando sem tiróide.

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Foi me informado que poderia ter acesso ao nimbo dos pesadelos se fosse dormir depois de ter comido como uma besta.
Quem mo sugeriu foi um negro com sardas pretas que costumava freqüentar as reuniões espiritas na Praia Vermelha. Passei por lá num dia incerto ensopado de cachaça até aos punhos da camisa. Divagava absorto na imensidão da areia que não tem limites quando a fixamos de perto. Era noite de lua cheia e confundi a reunião espírita com a vinda dos sete anjos do apocalipse. Todos de branco. Deitei-me de bruços e senti as ondas do álcool marearem me o corpo. Fui então consolado por esse negro que fez descer sobre mim não sei que espíritos que me pacificaram as moradas etéreas, os foros do meu interior.
Falou bastante e revelou-me verdades que eu esqueci. Fixei-me apenas na chave para entrar na torre dos sonhos negros do Vómito. Num dia talvez em Setembro comi um Oswaldo Aranha do volume do meu sapato soterrado em farofa de ovo e em seguida deitei-me na varanda de tijolo escacilhado do meu casebre no morro do bairro mexicano. Estava um bafo sufocante e as carnes das costas tentavam absorver qualquer réstia de frescura perdida nos poros da lage de betão. Não sei quando adormeci...
Chegava a uma mansão bem familiar de outros sonhos. A mansão tinha os quartos todos voltados para uma varanda central. No centro do mezanino brilhava uma luminária de cristal pesado. As portas eram duplas centradas nas plantas dos quartos e as paredes eram decoradas com frisos brancos e tapeçarias sobres as paredes de ocres e açafrão. Vinha eu de uma temporada adultera e culpável com a minha chinesinha. Esperava encontrar a babilónia do costume: os chilenos, brazucas, italianos e checos amigos de farra. Entrei tentando evitar o ranger do soalho que noite cantava já alto com o lamento do rouxinol. ouvi barulhos estranhos no quarto de karoglan e pensei em pôr a conversa em dia, partilhar as conquistas recentes. entrei de rosto sorridente e recebi um calor na cara. o fogo ardia na lareira de mármore branco com venustas. Uma criatura foliona e horrenda olhou-me como se me esperasse com tesão aquecendo-se demasiado perto do fogo.
ouvi risos atrás de mim troçando delicadamente do meu olhar enojado. Dois gémeos com o rosto desfigurado de Karo e trejeitos homossexuais tocavam nos mamilos um do outro reclinados sobre canapés. Com o olhar convidavam-me a entrar na demoníaca suruba. No fundo escuro do quarto vislumbrei entre ondas de calor corpos que se remexiam violentamente como criaturas possessas. Não foi com fúria que reagi mas com um jeito delicado de recusa, mas só consegui excitar as sua concupiscência e foram-me atazanando pelos corredores com obscenidades quase beijando os meus ouvidos, ensopando o meu colarinho com a sua saliva pestilenta. sacudi as suas garras dos meus ombros e escapuli-me para o meu quarto que se encontrava estranhamente silencioso. Não me sentia seguro e saí por uma porta secundária que dava para um corredor sombrio. fui andando a medo em direcção à luz mortiça da cozinha. O peito batia forte e as sombras adensavam os receios. Uma viúva perversa e vingativa morou na mansão e Marcela jurava a pés juntos que o seu corpo fora enterrado pela lama entre as duas mangueiras no jardim.
Sai pela porta dos fundos imaginando uma fuga disparatada. Escondi-me numa cabine no piso superior do celeiro-estufa.
controlava o escuro prescrutando qualquer fungadela ou estalido. Chegaram então dois personagens que argumentavam pausadamente como adultos. Como um acordo de mafiosos. Adivinhei a silhueta de Piotr alto e frio, cabelo negro e pele branca. E uma das pérfidas criaturas curvada como um urubu parecia prestar-lhe reverência.
Num acesso de loucura, como se o corpo desejasse partir de tal pesadelo cuspi nas suas costas e deitei a fugir. Mal me virei Piotr estava do meu lado com um sorriso bondoso e terrífico ao mesmo tempo. Deu-me a mão para que confiasse nele e partimos por um túnel cinzento escuro dom luzes frias intermitentes.
Ao fundo de várias curvas de clausura uma porta dava para uma área escura.

Oswald the Spider

7


Fui mijar no prédio modernista e entre labirintos
de portas e janelas emparedadas perdi-me. Só consegui encontrar passagem
para a cobertura. Lá de cima via os meus pais e meus dois irmãos afastando-se
como se já me tivessem esquecido.
Nunca fui de pedir ajuda para nada ainda para mais tendo-me embrulhado eu próprio nesta cilada.
Via as pessoas lá em baixo a 4 pisos de distância e não me passava pela cabeça pedir ajuda.
sempre fui orgulhoso e se puder resolver as coisas sozinho melhor. não gosto que me vejam preocupado, não quero que pensem que me encontro atrapalhado ou perdido.

6


Os prédios são a fachada da manhã leitosa e parda
A escuridão é noite que sobre nós se abate
Uma cortada na outra com estilete de luz
os olhos abismados imersos em sonhos de alcaçuz

Perseverança, preserverança, preseveransa, preceveranza


Não desisto de escrever embora agora ande mais vigiado e tenha de ser mais vigilante.
Vou anotando as minhas raivas num bloco de notas do windows durante o expediente.
Acho que já podia ser um escritor consagrado se não fosse a porra da exigência de um trabalho que me sustente na dormida e na bebida.
Domínio das palavras não me falta. Originalidade e até um certo psicadelismo perturbam-me amiúde. E experiências chocantes estão guardadas na minha coleção de vhs.
custa-me concentrar o discurso numa só história, mas nos dias que correm o zapping é quase tão certo como pôr o pijama ao chegar a casa.
as pessoas andam baralhadas e não têm concentração suficiente para. alto chega de teorias. O amanhã apresenta-se granitoso. impenetrável e frio.
não tenho medo, apenas indiferença. Não tenho forças para me preocupar.
Como o escrevo se torna imune ao estalar do chicote, assim prossigo de cabeça erguida perante as burocracias que me assaltam como pássaros assassinos sem medo de preencher mal os dados relativos ao agregado familiar.

Manel Bisnaga

5


Amola-me o olhar minha rua
assola-me o caminhar de orvalho
em ordem geométrica dispersa
no vento bravo sul em buenos aires

4


Vamos vender-lhes a verdade barato
que já passa da validade
e assim libertaremos as prateleiras
do mercado
vem bucar-nos a consolação
uma luz uma nova fonte de água verdadeira


Como tempestade de areia
na ampulheta esquecida

3


Sou dotado como pai natal sempre com o saco pesado
aproximem-se meninas mal comportadas
venham renas atrás das chicotadas
senhoras pendurem as meias que eu dou-vos as prendas
estou de saco pesado cheio de amor para espalhar
pelo mundo fora todas as noites vou sair
passeando as moças no meu trenó

2

Era baixinha e o vestido branco com ananases estampados deixa à mostra os pernões roliços. Eu compreendo considerem a minha mãe uma mulher chata. O cabelo levemente loiro e levemente falso, a gula por cigarros distraidos a todo o minuto e a conversa empastada e melíflua emparedavem um ambiente à sua volta de falsidade e desleixo. A única coisa que fazia bem era lavar a roupa.

1


.
.
.
desenha limites à minha paixão
em que dedos possam tocar
uma fronteira prós olhos
uma cama pra alma se deitar

Maconha et Circenses

"Vivemos numa época de racionanismo social - e o povão que engula!"
Alessandro Moreschi, o último castrato


Portugal pela escala e pela necessidade podia tornar-se um estado avançado do Brasil,já que, a união ibérica não surtiu efeito, após tentativas tão ambiciosas, falhada a coligação europeia que tantos dissabores nos trouxe, chegou a hora de depôr as armas como Vercingetorix outrora aos pés de César e deixar que a antiga sanzala se torne casa imperial, verguem a cabeça oh lusitanos como as américas fizeram perante o negro Obama e aspirem a ser capital dum reino que já calcaste como Maria esborrachou a cabeça do dragão.
É a tua oportunidade de voltares ao esplendor das capitais mundiais e a corrupção está-te tanto no sangue...
Durão



Vi-a balançar num gancho gasto de açougue
o olhar baço, cabelo desgrenhado o lábio frouxo
Kon


perguntei-lhe se a podia chamar pelo nome da minha ex...
macaco articulado


A glória recai sobre os que a não procuram
Como esta canção sobrevoa os que andam cegos pela rua
vivem a vida, casados com a música que os arrasta sem rumo
e a lua e a lua no alto dos céus enche-nos de glória
Pe. Zé


Um cornudo enamorado pela lua
abandona cedo a taberna e vai andando
baseado e vê as cores das fachadas
alteradas
Picardo

Sem Você Ver


amada ouça que tenho pra lhe dizê
te amo demais sem você ver
como o mineiro que sol não vê
extraio o ouro do seu sorriso
minha razão de viver

como as raízes da árvore mulher
como os pilares nobres do castelo
como a lua ilumina a cidade dormindo
como a âncora do barco atracado mulher

asseguro teu futuro sem tu ver
ilumino o teu caminho sem perceber
atracado no teu corpo feminino
com o desejo sem tocar mulher

Raimundo Nonato

Cravos



Se deus está nos detalhes
dos detalhes sou escravo
e se os cravo na tua carne
meus dentes são detalhes

entalhes esses sinais
que marcam o caminho
no braço tatuado dum cristo
pelo flagelo descarnado

tuas dores são detalhes
detalhes de deus teu escravo
caminho de carne sinais
nos braços cravados

(e o sangue...)

Nanahuatzin

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...