24.9.08

Outono

Archivo de imagens #158

AA v-8

as aldeias-ameeiros em vertigem sobre
o reflexo que o mar recolhe
absorve o rio os filhos caídos
oh chuva chora as ramadas de ouro
não pagam tributo dão do que é seu molham o céu
choram o mar devolvem a justiça à noite
e beijam o espelho dos telhados frescos
a cegueira humilde da vaidade

Lúcio Ferro

Seixos VII

deleitado ao longo dos leitos
cego dos seixos
embusca a música das silvas
o rumor da casa sozinha desamparada
estupidamente ancorada na terra
como quem quer morrer
desperta o sentido canino
oh afago consolador no cachaço
fuço no ventre esquecido da luz inebriante
de outrora agora danço no silvedo
o mais doce placebo
o borbotar do próprio sangue

Orlando Tango

Caixa de Bombons

A nova versão portuguesa do Dr. Faustus vai chamar-se Dr. Bastos.

Merengue de nevoeiro
Dengue uma matilha de dingos
Não vento
A praia em silêncio

Abraso-me nos escolhos da vida
Produzo borboto

Não olhes para mim que não estou a olhar para ti

Salobra insalubre sal lobrigar labrego
Lombriga Trôpego amargo sorgo esfrego
Manobra cego segrego malogro
Rogo nobrega megre casebre magrebino alegre

Comemorei a renúncia das riquezas e o álcool com um 12 anos.

Não acredito na reencarnação mas ia jurar
que este diabo já esteve debaixo de terra.

Your innocent when you dream

não sente assume arrisca mais uma pedra na construção do muro

chego a ganir como um cachorro

Onde se reunem os cartéis?

cai o lenço em harmoniosa combustão
inflasse o peito sobe o sorriso
agarra as banhas de mão cheia
como um choro infante explode o gemido

Form follows performance

Calma! Calma!
Escrevo para vos alarmar.
Cautela é a juventude
Que estamos a perder
com toda a sua energia
Quem construirá cúbicas colmeias?

A estrutura colapsou
Não nos foi possível apurar
A estrutura colapsou

país de Nod
Temporadas de noite escura
dulce pondus doce peso
Go’el o defensor do inocente
A Vida dá a vida.

Franja para frente olhar arguto
Séria pela rua nova
Do almada em que moras
No sorriso cândido entre membros do grupo
50s style semi-nerd cat power estilo
de ler no metro aprofundando no infinito


Pegar o pacote vazio pensado cheio
Do impulso interior no final da escada rolante parada
Parte da inibição humana ou será antecipação
Os ataques previstos planeados escorregam
Os velhos nos passeios planos
Inconsequentes

Todos

Baratas Tropicais

Camisas tropicais
Aquários com néons
Palmeiras
Gel no cabelo
Tez morena
Baratas junto dos boeiros
Iluminados por lampiões
Através da humidade tropical
As baratas
O cheiro intenso
O clichè dos carros fora de moda
Frutas garridas
Salvas de prata
Cavam na areia das praias em busca do império
Alguns charutos
Olhares vagos
As baratas tropicais
Cais barcos atracados
Pessoas baixas de estatura
Bebidas fortes
Ilhas baratas perfumes exóticos
Alamedas enquadradas por palmeiras
Sem história
Ansiãos
Tédio modorra
Baratas

Filipe Elites

23.9.08

HH - XIV

a emersão nas tépidas águas

medicinais a farmacopeia etérea
guardada na cavidade da rocha
mergulha em soco violento como
a noite carregam sobre a árvore os
batedores fustigam furiosamente os frutos
em lixívia abrasadora dos rastos
inscritos no bronze moldam as marmóreas margens
à espadeirada quem vergará os gonzos
ajoelho-me violentamente
praias e praias vazias varridas do vento
impiedoso marés violentas de bronze
sangra o tronco num impulso de graça

o puro orvalho da manhã de damasco

Zé Chove

Romantic Lisbon #7

Archivo de imagens #156

Raquel

o tempo não chega e tudo o que

a noite nos quer dizer adianta
caminho cruzamos todo o ouro no terreiro
seco não chega o espaço o algodão arde
em fúria cai o metal do desejo em chuva
a mãe em busca dos filhos leva-os o rio
os seixos do rio cegam na transparência
afogados em pureza cegam aquecem
o peito das crianças expostos ao esbanjamento
do sol a estocada do escultor no peito da vénus
de calcário cega sob os arbustos a sombra
das silvas o xisto que enche a bruma ampara a
frondosidade do carvalho marca a chegada
da noite final da terra lavrada em torrente

de fogo o fogo que não se consome

Zé Chove

Divulgação Pop #1 - Rima Interna

Quem te disse triste donzela ser perda se mês
Por mês levantares a assentadeira da sanita
Podes lá ter respingos de merda
da última vez em que tiveste diarreia

Mário Mosca

18.9.08

É a Vida

A inconsciência da pouca consistência
Do corpo pacifica os nossos passos
Indivíduos cheios de independência
Travessos atravessamos travessas

O olhar paira vago depois do corpo
O elmo limite da nossa alma
Mas o corpo é brando perante a bruta morte
Olha a dor dobrada no separador central

A cremosidade da derme perante o aço
O alarme do sangue se verte vermelho
A porosidade ociósa do osso

Que se quebra na esquina de pedra
Pertinentes mas nada nos pertence
Impenitentes mantemos o silêncio

Lúcio Ferro

Stress I

Quem construirá cúbicas colmeias
No baldio onde explode constante
Bolas pedras gritos melopeias
Reboliço do jardim de infância

Uma dama em coma na avenida de roma
Ambulância lancinante noite de Natal
Sigo seguro da minha insegurança
Toda a vida em viva vigilância

Nariz e boca sufocante de sangue
O alarme vermelho o garrido pânico
Nas orelhas os zumbidos das abelhas

A vertigem em queda da criança
O rapaz de rosto sem réstia d’ânimo
O homem maduro com duro medo

Filipe Elites

15.9.08

22-06-1941

Archivo de imagens #153

Fiddler on the Roof - Far from the Home I Love

Oh, what a melancholy choice this is,
Wanting home, wanting him,
Closing my heart to ev'ry hope but his,
Leaving the home I love,
There where my heart has settled long ago
I must go, I must go, I must go,
Who could imagine I'd be wand'ring so
Far from the home I love
Yet there with my love, I'm home.

Situações a que já demos resposta:

Azulejos de casa de banho
Arrebatamentos místicos
Sarapilheira
333
sos terrestres
rosas frescas numa jarra
homos socialis
pesca no mar alto
coruja negra
ambientes místicos
camião em combustão lenta
Como tirar nódoas de sangue ressequido dos edredons
bálsamo de ostra
Toureiros vitoriosos
uma só folha de papel higiénico
Tangos russos
Bardonhe o grande badocha
Bresson sanita
Deusébio
Caril de merda
Fedorento, gato
Alho picado
Brando Apocalipse
La bonbonière dancing

A direcção do departamento

Pomos

Os pomos
De lógica polpa
Fibrosos
Fios onde me enleio e puxo
Talvez mude
O tom da pele a cor
Senão a mim
Talvez ao outro
Puxo com mais força
A quem exponho
Meus sumarentos gomos

Madalena Nova

11.9.08

Radiohead

Archivo de imagens #152

Toca-me

Anos sobre anos de casa em casa
Sem mover o pó que envolve as coisas
Entre salas silenciadas pela asa
Do segundo que toca mas não poisa

Vogam o horizonte os vagos olhos
Divisando desvendá-lo no vento
Mas se ele amaina e seu sopro perde a voz
Voltam costas em busca do momento

E os passos esses passos dão lhe vantagem
Atravessa as casas praças e ruas
Não sucumbe à paração do pensamento

Foge perdido sem cruzar ninguém
Emana em tudo quanto e quando muda
O inúmero imenso imuto imundo tempo

Zé Chove

10.9.08

Anagnorisis

mergulho no espelho
que reflecte o reflexo
aqui mais perto
o espanto do conheço
descoberto

inverto o espelho
do mergulho tão incerto
conheço o influxo medo
reflecte o nervo do conheço
encoberto
o espanto de te ter
tão perto

Lúcia

Requesitos do condomínio:

-construção
-profundeza psicológica
-carácter abstracto e geral da emoção

Beatles

Archivo de imagens #151

Memórias do Sanatório

oh sombrio Sátão
oh colorido Dão
encantam-me os sons
de vossas águas
mas não mergulho não

entre vales abruptos de granito
2 pontes entre nós e o infinito
fluem os dias fluem os rios
num ritual antigo

fluem aulas
escorrem as palavras
os risos e alegrias
o sol varre as sombras dos dias

e contemplando à hora do terço
os mistérios de tanto esplendor natural
os carvalhos os penedos
pássaros e insectos
e nos perdemos
na espiral
duma teia duma aranha desenhada
na abóboda celestial
poderíamos ser tentados
a pensar que de ano para ano
está tudo igual está tudo igual

e ensonados nos banhamos entre dois rios
o filosofia e o teologia e há quem fale ainda do pavia
emersos num turbilhão de conceitos
flutuamos entre emanações de imanentismo
e mergulhamos nas profundidades do ser
e quase já sem ar
os pulmões oprimidos de tanta excursão
os membros cansados de tanto rir
despertamos cada um na sua terra
com uma doce canção nos ouvidos

oh sombrio Sátão
oh colorido Dão
ss águas passam
mas o sonho não

Orlando Tango

Diálogos Íntimos

Aquele abraço
Aquele também para ti muito obrigado adeus

Filipe Elites

Romantic Lisbon For You


Cit - #23-a. odbl JM-1978- AD_DG

Jim Morrison

The program for this evening is not new
You've seen this entertainment through and through
You've seen your birth your life and death
You might recall all of the rest
Did you have a good world when you died?
Enough to base a movie on?

9.9.08

Inclino

Verifiquei vários versos de dez
Sílabas assentei-as sossegadas
Lado a lado alinhadas paralelas
Bastiões de xisto ferrugem lascas

Espartilhei a natureza em talhões
Ortogonais rasguei rectos caminhos
Forçando serras urzes aluviões
Lavrei a verdade em palavras minhas

Oh preguiça que afogas os desígnios
Semeias a discórdia no império
Vacinas o terreno de cizânia

Exangue me exijo sem jactância
Inclino contra as em forças declínio
Um homem morto de alma poeta

Nicolau Divan

The Deer Hunter - 1978

Archivo de imagens #150

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...