22.4.20

T5

1 quando me lembro de qualquer coisa
Penso sempre que já vou tarde
E desisto

2 o sexo quer se impetuoso 
Como combate de M M A
Subúrbio corpo musculoso
Corte e besunte con'agua raz

3 pensa em tudo o que pensaste
Há pouco e não querias esquecer 
-desespero, pátios internos, Nietzsche, composição -
De que tudo é tão belo
Se a forma é natural
Que o que se esmerda ribanceira a cima 
Tem mais valor que toda a polidez e brilho

4 e as palavras que se arreglam em esconsos cadernos e exorbitantes canais
Estremecem na ânsia de virem a ser lidos
E acenderem algum turbilhão
Ou virem a ser castelo visitado por séculos de turistas ou ter as muralhas mijadas com admiração 

5 tanto podem ser as varandas como 
As cozinhas os locais excepcionais do encontro
Que sem serem a sala o salão ou quarto
Despertam a luxúria, sobrepõem nos á vertigem
E nos embalam no letargo das longas tardes de Verão 

10.4.20

saudades de casa

Sinta o descer e o levantar

Tomates de laranja
Emplacar o cu da galinha
Foguetes é tiro na cara 
Topete de rasta com olhos 
Recitar com cabeça entre as pernas

 De línguas e delongas um suave amarfanhar

Se cruzam as pernas
Mordiscam as pontas
Dançam os rabos 
Rabiscam-se os cantos
Dum outro formulário

Cria-la dura
Tudo aspereza e rectidões

Soalho engastado a xixi de gato
Sofá pardo lume baço um século de arrendados
Costas arquejantes como o velho armário 
Tão asmático grossas memórias que expectora

As frestas só expandem a largura do frio
E conservam tudo na cárie mal escovada
E são as melhores histórias às da velha
Que me deixavam tão dependurado
Fábulas, consiglieri pedroso, ácaros flutuando no sol do sofá ao fim da tarde

És uma conquilha minha tarde de verão
Brilhas nacarina do azul aluvião
E sob um negro pilão de ébano te enfarinhas

Oh tantas lágrimas abafadas nos trópicos 
Da saudade 
Espalhem serradura na estrada 

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...