13.12.07

Alimento Espiritual

Pancadaria entre Anjos e demónios

Thunder Underground

Soterrado
Asfixia mórbida
Ao mofo identificado
angústia permanente indefinida
pulmões opressos
e boca cheia de terra
estagnado entre matéria
sem progresso
cada pazada do coveiro
ribomba, faz trepidar o corpo
ânsias de laje, anseio
viver vida de morto

Zé Chove

Azeite com alho picado e ervas aromáticas

Gregos e cipriotas
refugados balsâmicos
sol refulgenta minaretes islâmicos
bazares negócios poliglotas

entre refúgios balcânicos
mulheres gritando nas lotas
sol brilhando nos homens nas frotas
enseadas paraísos mediterrânicos


Lúcia

State of Things

Extirpados pela faca romba do estado
bolsos e ânimos rotos
dois vultos para cada lado.

Horas e horas às escuras
No café. Fechado. Na penumbra
desfocando os transeuntes
lá fora o frio das geleiras
e as borras frias
entumescidas no cinzeiro
cornetas fogosas de orgulho ferido
memórias a dois sem trilho
dissipadas nas neblinas da floresta
passos solitários penando o troço que resta.

André Istmo

Atmosferas #1

Silêncio
a atmosfera noturna
depois da festa
na frescura do terraço
arrefece mais um prazer que passou.

Nada dura nesta vida
tudo tem a duração duma pilha
que faz mover, dinamiza
num momento
e se fina
em silêncio.

Rui Barbo

Dr. Jekyll and Mr. Hyde - Victor Fleming 1941


Tópicos de Consulta

  • Gazes Soporíferos
  • Erros no Sistema
  • Treblinka
  • Senhoritas
  • Aberta Zona de Vírus
  • Morte Lenta
  • Regresso ao Dentista
  • Top-Top
  • Morsas Lavajonas
  • Cães Sarnosos

- A Administração

Madalena

A palavra Madalena
tem um volume na boca
equivalente ao de banana
ou anona.

Os enes e os às juntos
dão à palavra uma textura
branda mas com alguma consistência
uma carnosidade que se desfaz
entre a língua e o céu da boca
“pomo franco”
que permanece firme
mas que um bebé esmaga
com manitas almofadadas.

Além disso é doce.


Nicolau Divan

Pricípio Modernista

Verticalistas
arcadas de progresso
ventanias
70 nós de vento fresco

incontinente
Betão decrépito
urinou ferrugem
cenário psicadélico


.....depois acabo o que falta....


Filipe Elites

7.12.07

Alma Penada

Foi condenado
a viver encarcerado
numa conduta metálica
de ar condicionado
na antiga fábrica

Despojo total
Dor infligida sem igual
anos e anos de escuridão
frio e ardor infernal
espírito trefilado à solidão

Lúcio Ferro

Quilhado

Embora não tenhas pedido
não te faltam temas
tens sido analisado em todas as direcções
tás farto do álcool
em todos as feridas

O cérebro enfaixado
queijinho morno e amanteigado
melodias e visões queridas
não o deixam extravasar

Tarefas
Nem pensar nelas

Esconde as chaves
amortalha os teus enigmas

Nicolau Divan

Os Porcos

Todos os porcos
comemos da mesma malga
foçando todos à uma
com estrépito e fúria

confusão de corpos
grunhidos
estardalhaço e rebelião
sombra densa da pocilga

um suíno abrutalhado
esfacelou duma tranchada
meu focinho
gritei como um humano

o sangue jorrou escuro e quente
empapando a ração

toda a vara em alvoroço
vibrou gulosa
varada com o sabor do sangue
e lançou-se em estrepitosa cavalgada
sobre o meu corpo estarrecido

gritei apavorado como um homem


Zé Chove

Good Vibrations

Sun is shining, the weather is sweet
Yeah! Toma carraspana
Dormir na praia
dia em delírio
misturando os sonhos
de areia e mar
Sun is shining
lift our heads and give jah praises
Make you want to move your dancing feet
As Cadências de Verão
Preocupações evaporadas
To the rescue, here i am
y'all, where i stand
Vozes alegres Yeah

(rewind)

de novo a doce melodia
tonturas paradisíacas
junto ao pontão
i'm a rainbow too
chuca-chuk chuca-chuk
corpos langorosos
moldados ao areal
o calor e os cheiros
rochas banhadas pelo mar
o carvão, o creme solar
(monday morning) here i am
Want you to know just if you can
(tuesday evening) where i stand
(wenesday morning)Tell myself a new day is rising

Mário Mosca

Anthologia de Textículos #3

A Leste do Paraíso / John Steinbeck

"Ao monstro, o normal deve parecer monstruoso, visto que tudo é normal para ele. E para aquele cuja monstruosidade é apenas interior, o sentimento deve ser ainda mais difícil de analisar, visto que nenhuma tara visível lhe permite comparar-se aos outros. Para o homem nascido sem consciência, o homem torturado deve parecer ridículo. Para o ladrão, a honestidade não é mais que fraqueza. Não esqueçam que o monstro não passa de uma variante e que, aos olhos do monstro, o normal é monstruoso."


25ª Hora / Virgil Gheorghiu

"«A vida nunca tem um fim objectivo, a não ser que assim se chame à morte: todo o fim real e verdadeiro é subjectivo». A Sociedade Técnica Ocidental quer oferecer à vida um fim objectivo. É a melhor maneira de a aniquilar. Reduziram a vida a uma estatística. Mas.: «Toda a estatística deixa escapar o caso único no seu género, e quanto mais a humanidade evolui, tanto mais será a unicidade de cada indivíduo e de cada caso particular que contará». A Sociedade Técnica progride exactamente no sentido inverso: generaliza tudo. «Foi à força de generalizar e de investigar, ou de colocar todos os valores no que é geral, que a humanidade ocidental perdeu todo o sentido dos valores do único, e, por consequência, da existência individual. Dai o imenso perigo do colectivismo, quer seja compreendido à russa ou à americana»."

«»Conde H. De Keyserling

5.12.07

Páteo das Cantigas

Bazel Tov!

F.U. Like Curtis
across the street

Venha daí vizinha
manchemos as toalhas
brancas de vinho

Dançai ao som do acordeão
vinde rapaziada saciai a vossa fome
praça pobre de granito e parras
ao sol
risos dos gaiatos
alegria simples
tarde fora

gerações d'aldeias
todas festejando à uma
numa praça sem limites

miríades de bimbos
saltaricando ao entardecer
soltai foguetes
já se aproximó anoitecer
soltai toiros, soltai mascarados
soltai o juízo, engoli-o com loucura
junto à fogueira
crianças contentes embriagadas
soltai foguetes

Diniz Giz

Inícios

Adora a indefinição dos inícios
a emoção de não saber o que
se ganha ou que
se perde
o sol e a lua desfocados
na mesma tela
bruma de ideias primordiais
confundind'o presente
carregando todos os horizontes
de luz temblorosa
e amistosa
que tudo faz brilhar como
se tudo fosse bom

Lúcia

Paredes

Cantos de paredes
Grossos de reboco
espesso e branco
tradicional e tosco
conduzind'as nossas vidas
com curvas, planos e quinas
através dos anos e dias
branc'azul, branc'amarelo
branco verde, branco branco

Carlos Marques

3.12.07

Dans la Bonbonnière

Todo momento foi cunhado
com o selo branco da fatalidade.

Bastava a sua presença
para nos agoniarmos na vertigem
da imponente e fria
penha da moralidade.
Temor permanente temor
de sermos destrinçados pelo seu olhar
e em vez de luz
mergulharmos nas trevas.

Poupa-me das tuas revelações.
Prefiro ignorar o poço e o pêndulo
vaguear nas escuridões.

Sirvam-me a aconitina
dans la bonbonnière.

Lúcio Ferro



PS: toma lá bombons

Sopros

Sopros sonoros arrastados,
eles chegaram de novo,
almas mortas do outro mundo,
enchem de calma as tardes de verão.

Enchem o parque de melancolia,
movem-se sem se mover,
sons de mel e fantasia,
olhos baços, curvas de mulher.

Sobem seus halos mais alto no céu,
estamos vencidos deitados na relva,
contemplando extasiados,
os seus lamentos de madrugada.

Lúcia

Tzigane

Tangos russos gogolianos,
vodka marinheira em coxa argentina,
fados toureiros vitoriosos,
cornetas na noite mourisca.

Narguilhés de tempos imemoriais,
tarimbas soam internacionais,
danço o mundo apaixonado,
pelos portos abandonados.

O mar é minha cama,
solidão da estepe calma africana,
encantador de serpentes insegurança,
incenso e cheiro a barro.

Violinos ciganos à fogueira,
vagabundo no sangue irrequieto,
lágrimas sorvidas terra sedenta,
morrerei na terra infinita.


Zé Chove

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...