31.7.07

Ingrid Bergman

Archivo de Imagens #3

Novo convento na antiga casa de férias

Novo convento na antiga casa de férias
O sublime actual
e as recordações da infância
despreocupada mixados.

Diniz Giz

Shot_5

Olha,
Sim, tu que me estás a ler,
Achas que tenho algo para te dizer.

Filipe Elites

De novo lutas e cais

De novo lutas e cais
De novo lutas e cais
Com esforço lutas e cais
Sempre da mesma maneira
E sempre com novos jogos te alevantas
O mesmo baque e cais
Desamparado e sem vontade
Tens vergonha
Escorregas sem forças
e cais...
Levanta-te já!

Lúcia

Sonho um universo em cada palavra

Sonho um universo em cada palavra
Infinitos nexos, combinações,
Labirintos frásicos, erupções
De conceitos fluidos integrados
Num sistema lógico adequado.

Filipe Elites

Estatística#4

Arquitectura alvura dura
pura sem sutura
E quente sente frente
lente mente rente

Madalena Nova

O rapaz mergulhou no poço

O rapaz mergulhou no poço.
Dentro da água gelada, dissolvida na sombra,
pensou:
“e se fechassem agora a tampa...”

Zé Chove

Triologia de Lisboa

Deixaste a minha casa engelhada
como uma nota de casino gasta.


Somos fruta podre
Mercadoria rejeitada
Flutuando nos armazéns
Esquecidos do governo.


António tinha uma loja de malhas
no interior de um quarteirão modernista em lisboa.
Nos últimos 10 anos compraram-lhe algumas camisolas
e uma duzia de packs de meias e cuecas.


Zé Chove

O meu aguilhão

O meu aguilhão atravessou-me o peito
como uma perna de frango no prato do diabo.

Henrique

Morreu esmagado

Morreu esmagado pelos arquivos da empresa,
Mulher e filhos em casa a espera e ele esparramado na via pública.

Filipe Elites

Bresson - Derrièrre la Gare Saint-Lazare, Paris, France, 1932

Archivo de Imagens #2



Os barbasolhos

Os barbasolhos são uns lagartos gordos às riscas brancas e pretas.
São altamente mortíferos.
Só nascem quando o verão chega muito cedo na Europa mediterrânea.
Só se conseguem ver com os olhos desfocados.

Diniz Giz

Vêm das terras do interior

Vêm das terras do interior
os homens para tomar as cidades
são brutos e rudes nas maneiras
e roubam as nossas mulheres.
São grossos de granito
revestidos de espíritos da terra
arrastam os animais e o pó à sua volta.
As crianças afastam-se e as cachopas tremem
num misto de paixão e medo dos garanhões
que as desprezam.
Esmagam os fracos citadinos sem pudor
que se apertam contra as paredes à sua passagem.
os únicos que se salvam são os que caem no mar
esses redobram a força dos serranos e chacoteiam-nos até ao desespero
e absorvem a vida dos familiares dos grandes que se tornam pequenos
perante a força diabólica adquirida nos abismos.
Os trovões continuam a ribombar porque os choques entre as bestas
são cada vez mais violentos.

Brás

Eu não sou eu nem sou o outro

Eu não sou eu nem sou o outro,
Tu não és eu nem a outra.
Qualquer coisa de entremédio nos separa,
serei eu ou será,
o outro que entre ti,
e o meu outro se desentromete?
Sai daí outra que se mete comigo
e sai com o outro.
Vou ver se me entremedeio,
entre eu e a outra
que não tu.

PS: Se és algo de entremédio sai daí
que estás a ocupar dois lugares.


Filipe Elites

Rock_11

A casa de baixo transpira porcaria,
Vários cheiros nojentos ao longo do dia.
Gritos estertores toda a noite.

E eu aqui com vontade de me juntar à festa!

Dejectos transbordam cá para fora,
A escumalha não pára de entrar.
A degradação moral é bem patente.

E eu em pulgas para me perverter!

Vasco Vides

Já não somos barcas

Já não somos barcas, não és como a gazela,
Deixámos de ser naturais,
Somos carros, rodas dentadas,
És alavanca, sou engrenagem,
Deixamos de ser animais
não temos defeitos não existe sujidade
És mais potente, estou ultrapassado
É original ou já foi usado.

Nicolau Divan

Morro entre o sufoco da chuva e o peso da lama

Morro entre o sufoco da chuva e o peso da lama
Afogado na mágoa exterior.
Cresço com dores para dentro
No túmulo do subconsciente.
Atravesso as cavernas do pensamento
às voltas neste cérebro sem luz.
Aflito entre outras espigas sem fruto,
Sem folgo abafamo-nos umas às outras,
Até ao dia em que o sol redentor nos fizer arrebitar de novo.
Se não morrermos entretanto.

Zé Chove

27.7.07

O Departamento

O nosso departamento funcionava no poço de escadas dum prédio abandonado.
Éramos sete. Um por piso. Eu trabalho no 2º piso já lá vão três anos.
Os apartamentos do prédio estão fechados.
Uns estão vazios, outros foram selados e ficaram parados no tempo alguns nos pisos de cima foram apropriados por inquilinos dos prédios dos lados.
Passo o dia a analisar processos. Nunca soube bem o intuito do nosso departamento.
Vamos acumulando informação por temas mais ou menos generalistas.

Zé Chove

26.7.07

Lovers - Grimshaw

Archivo de imagens #1


Casa de jardim

Casa de jardim ao pé do pinhal,
aquece o jantar ao fim da tarde
o melro morre no triste choupo
Na minha alma.

Carlos Marques

Morte ao mar

Morte ao mar, afunda a bilha,
bate no barril, afunda a lua.
Corre na mata, albino louco,
mais um uísque para acalmar,
entre o Zambujal e Berlim 84.
Bigode farto a fumar palha,
a luz que não atravessa o calcário.
Um sonho morto no jardim traseiro,
demasiada roupa no pêlo,
O vento congela o ranho.
Os cães da vizinha estão sarnentos,
o carro-chaço sem gasosa,
e mais uma volta no descampado orvalhado.
Viagens através do nevoeiro da aldeia perdida,
dos anos oitenta mal passados.

Diniz Giz

25.7.07

Aditamento #1

Sophe Lux - Waking the Mystics

Thee Stranded Horse - Churning Strides

The Knife - Silent Shout



caixinha de bombons

Trepa mais um pedestal.

Junto às falésias vagueia sozinho.

Solto os meus lábios sobre as tuas pálpebras,
Sinto o teu hálito quente no pescoço.

Um ovo rachado.
Uma família rachada.

Blitzkrieg ambiental.

Lúcia

mais um sonho em pijama

Deixa a viagem seguir como mais um sonho em pijama.
É sempre a mesma batida.
A mesma sujidade nas rias,
pavilhões de indústria abandonada,
palácios gastos diluem-se no rio,
como a cidade ideal esboroa-se do infinito.

Vasco Vides

Peguei-lhe com entusiasmo

Peguei-lhe com entusiasmo,
Os meus olhos brilhavam ao contemplá-la.
Burilei, mordisquei, contemplei-a de todos os lados,
Guardei-a com carinho.
Levei-a pra todo o lado,
Até que me fartei,
E a atirei ao lago.
No dia seguinte arranjei uma nova.

Filipe Elites

Entrei em casa pela cozinha

Entrei em casa pela cozinha,
Mais gelada que lá fora.
O fumo da minha boca,
sobe até ao tecto verde mal iluminado.

As nuas e pálidas paredes,
como o posto médico, estão húmidas
em cima da mesa a tábua onde a minha mulher corta os bifes
tem um tom rosado persistente.

Zé Chove

24.7.07

Abusos de Prazer #1

Beijei-a e abracei-a até ela chorar.

Lúcia

Abusos de Prazer #2

Ouvi de joelhos o último andamento,
Fui arrastado pelo ritmo tremendo,
Gemi com o violino agarrado ao peito.
Explosão de alegria vertido nos ouvidos,
Afogou-me o intelecto.
Os baixos bombeando no meu tórax,
Os finos lambiam-me a pele e rasgavam-me a garganta.
Por fim um grito das cordas e o turbilhão esmorecendo,
como ondas cansadas na praia.
O corpo prostrado fora vencido,
O espírito esfuziante orgulhecido.
Queria mais mel,
A carne não se fez rogada. Embrutecida,
Subiu o volume e ouviu mais duas já fora do sublime.

Zé Chove

Abusos de Prazer #3

Coço em torno da borbulha ao de leve,
Vou espiralando até à borda da melgada.
A carne pede mais e as unhas vão cravando,
Sempre em torno da vermelha.
Cada vez melhor a sensação,
Toda a perna rejubila de alívio.
Um frémito de prazer atravessa-me a espinha,
Resfolego na cama com paixão,
E cravo a unha no inchaço até ao sangue.

Vasco Vides

Abusos de Prazer #4

Resfolego de satisfação com este repasto,
Na saliva ainda marina o sabor do alho.
Se pudesse comia a própria língua.
Sinto o interior preenchido,
Desfoco o fundo da sala de vinho e fumo.
Conversamos com alegria,
E nesta completude,
Peço ao garçon mais uma travessa.

Zé Chove

Abusos de Prazer #5

Acordar fresco com sol a bater nos lençóis,
Canções de passaricos mixadas,
Com o rumor do rio.
Aspiro o perfume da manhã,
Espreguiço-me de prazer e volto a adormecer.

Lúcia



Aqui devia ser o Final do Mês de Julho
Lois Smith and James Dean in East of Eden


Rock_10

Caí desajeitado no meio do Chiado,
As crianças loucas riem escarninhas,
Passam por mim trabalhadores apressados,
Rastejo na calçada desgraça minha.
Em desvario rebolando até ao rio,
A vertigem não me deixa ter em pé...

Vasco Vides

Som Systema

Lumpa lumpa plonca shlunfa
Tuca boca truca froca
Tetumba xumba triss trinca sumb
Ttumca tumba bronpa dumpa.

Filipe Elites

Lambes o Sal

Lambes o sal do seixo,
ficou de novo brilhante.

Zé Chove

Esbugalha o Sol

Esbugalha o Sol em milhões de brilhos,
nas tuas pestanas de ouro.

Lúcia

Agora envolve-me no teu abraço

Agora envolve-me no teu abraço,
Sufoco com o peso de veludo, denso do teu corpo,
Choro de felicidade,
Ao ferires os meus defeitos.
Preciso que me empurres para o carreiro certo,
Puxa-me com a trela para não fugir.

Vasco Vides

Na casa de jogo

Na casa de jogo
dois homens de bigode bebiam martini.
Pegaram nas suas pistolas
saíram para a noite fria.
Os sobretudos moviam-se misteriosos.
O sangue requintado fluiu na banheira de porcelana.

Henrique

Dois se separaram tristes

Dois se separaram tristes de manhã,
engoliu-os o nevoeiro,
passos lentos em direcções opostas,
memórias cheias de alegrias amarguradas.

Marco Íris

Sonho matinal

Rapariguitas com saias de fogo
correm pelo sobral
atiram-me pinhas à cabeça.
Espojo-me nas folhas secas e elas tentam puxar-me os cabelos,
abraço uma com força e corro com ela debaixo do braço.
As outras ficam a choramingar perto do grande carvalho,
vejo um velhote a sorrir.

Carlos Marques

parte

parte. destrói até verdes aquela luz de que vos falei.
rasga. força até cairdes no lago de cristal que vos mostrei.
não pares. empolga-te nas vagas até seres vomitado pelas ondas

na praia em que te abracei
e se te sentires enlouquecer
que rumas sem norte
que sangras de morte
estás mais perto da minha testa vê os meus olhos

Diniz Giz

Uma ponte atravessava o estreito riacho

Uma ponte atravessava o estreito riacho,
na floresta densa.
Ouvia os teus passos atrás de mim,
cantarolava para dentro o teu nome.
em breve estaremos com os miúdos,
junto á lareira a jantar.
Na nossa casa rústica à beira mar.

Paulo Ovo

Batia no trigo

Batia no trigo com fúria,
os olhos secos de Verão,
choravam por dentro.

Carlos Marques

olhei para ti, para ver se olhavas para mim

olhei para ti, para ver se olhavas para mim
mas sem que visses que olhava para ti.
sei que se ficar aqui sentado vais ter de olhar para mim.
pus um ar normal e sério.
como se não me interessasse por ti.

Nicolau Divan

sim. vem e põem-me essas algemas

sim. vem e põem-me essas algemas
quero ser o teu escravo.

Diniz Giz

e voltei a chamá-lo

e voltei a chamá-lo para dentro
lá fora um brincava na neve
estará louco?
estarão loucos?

Filipe Elites

sempre o achei estranho

sempre o achei estranho
até um bocado fraco
e ela que eu sempre vira cheia de garra considera o um herói
e contou-me a história dele
é extremamente triste e não há dúvida que se portou com
valentia.
eu é que ainda pouco sofri.

custa-me amá-lo sempre foi um pouco bruto
e no entanto daquela vez
em que precisei do seu apoio
ofereceu-se com prontidão
ao pensar nisso ainda choro.
e ela sempre tão forte
chorou como uma mulher
quando lhe disse que eu ia morrer.

Vasco Vides

Tem andado

Tem andado mais vaidosa...
Claro que está mais bonita...

Zé Chove

guitarras ciganas

guitarras ciganas
alegres na fogueira noturna
o teu sorriso comprometido
o calor do vinho
beijo-te à força no sobrolho.

Filipe Elites

às vezes é duro amar-te

às vezes é duro amar-te.
deixo entrar a melancolia
será que é melancolia?
penso no que deixei...
não penso nada!

às vezes gosto de irritar-te
o nosso amor é tão intenso.


Madalena Nova

hoje ainda não me lembrei do teu rosto

hoje ainda não me lembrei do teu rosto.
Sei bem o que passamos juntos.
e ainda choro ao ouvir o teu nome.
mas agora que estou com ela
já não sei de quem gosto mais
e ao teu lado sinto-me agora sempre estranho
antes de estar contigo recolho pequenas histórias alegres
para te contar para reviver os nossos momentos.
mas são fugazes os nossos encontros...

Lúcia

A criança na sua inconsciência

A criança na sua inconsciência
força a mãe já derreada
a mais um puxão de rompante
no autocarro a abarrotar
ela chora e esperneia endiabrada
apesar dos beijos da sua amante
que é jovem mas já anda a trabalhar.

Zé Chove

Voltou a mudar de posição

Voltou a mudar de posição
na cama já sem frescos recantos.
Esmagou na almofada os seus prantos
porque alguém lhe levou o coração.

Lúcia

23.7.07

Músculos de granito

Músculos de granito,
servente do senhor,
esmagado sob o sol abrasador,
construindo um lugar bonito.

Dia todo sem descanso,
vai nascendo a casa,
ao fim tarde já manso,
fica a faltar o telhado.

André Istmo

O tempo frio acizentado

O tempo frio acizentado,
o corpo fraco e adoentado,
a solidão da casa outrora cheia,
adolescente louco e sem ideias,
de novo esparramado no sofá.

Pensamentos em catadupa,
mais uma série que não é assim tão má,
uma leve sensação de culpa.

A vontade de explodir e quando chegam
com barulho infernal os trovões...

Mais um dia entediante,
mas o sono não chega e está calor.

A mesma música,
não me diz nada,
mas o tom é doce e acompanha,
os pensamentos estúpidos que eu tenha.

Também me passam pela cabeça,
temas sérios, a vida e a morte,
e faço planos que cumprirei se tiver sorte,
mas agora já começa outro programa.

É assim eu sei que é triste,
uma juventude mole e sem vontade,
morrem novos de saudade,
da vida que não viveram.

Porque a tv não deixa dúvidas,
toda a gente é assim,
nascem comem, choram e morrem,
tentam ser ricos até ao fim.

Mas agora preciso de me preocupar com quê?
A vida é boa...


Zé Chove

depois de tanto tempo

depois de tanto tempo a querer fazer as coisas com jeitinho
tarefa insignificante
mas feita com carinho
vem ela bruta e autoritária
já com o saco cheio
e despeja a sua raiva otária
sobre o pobre menino feio.

Diniz Giz

quem me dera ter

quem me dera ter
alguma coisa para contar
queria saber escrever
não sei por onde começar
um pouco de sentimento
uma estória cativante
adjectivos e ritmo lento
escritos de rompante
quem me dá uma frase?
bela e plena de sentido
que me ajude nesta
árdua tarefa a que aspiro.

Brás

O lençol quente pegado ao corpo

O lençol quente pegado ao corpo,
morto de sono,
um tédio louco que me esmaga.
Não fez nada e não sabe o que deve fazer,
alguma coisa gostaria de fazer,
que desse alguma paz aos seus desejos,
que lhe matasse a vontade de correr à solta desenfreado,
distribuindo estoiros e pontapés para todo o lado.
e qualquer picada e insolente ao de leve na perna ou na barriga
causa lhe um estorvo que o irrita e rasga e bate e esmaga e grita
e o que é que o acalma?
alguma voz mais doce
ou uma melodia
o vislumbrar de algo diferente para fazer,
algo simples não muito exigente.

Filipe Elites

Cit.#4 - Sophia de Mello Breyner

Meditação do Duque de Gandia Sobre a Morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver


Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Sophia de Mello Breyner
Mar Novo, 1958

20.7.07

Dresden

tumor #2

uivante e indiscreto

uivante e indiscreto,
enfiando-se pelas fraldas das camisas,
uma nuvem de pó e folhas secas,
galopava na nossa direcção.

o sol vencido retirava-se,
nuvens grosas planavam molengonas,
andávamos inclinados fazendo-lhe frente,
com as trunfas enfunadas,
e os olhos semicerrados.

de súbito lambeu-nos a espinha um arrepio gélido,
entre nós desabafos surdos no meio do vendaval,
eu não quis falar,
um peso negro vergou-me o tronco.


Filipe Elites

enche o peito brada

enche o peito brada,
boca cheia esmaga,
fogo líquido cego,
dor cortada à espada.

mão no peito dispara,
olhos fechados chapada,
sangue quente se espalha,
mancha brilha agarra.

o braço frouxo tomba,
fronte inerte quebrada,
alma levanta e rasga,
o fio prata no bico da pomba.


Zé Chove

Edmund Dulac - The Princess and the Pea

Imaginarium postumum #14

Na aldeia

Na aldeia gasta eterna do meu coração,
beleza dura nas penhas cortadas.
Em bronze gasto, verde e quebrado,
sinos de aldeia abandonada em pó,
neblinas alvas voando livres,
o silêncio esquecido de madrugadas.

As casas vazias de xisto tão sós,
o húmido da serra escadeada de verde.
pássaros piando de dor,
subitamente um grito rasgando o céu.

O peito a ferver de expectativa,
a espinha rasgada por um rastilho frio,
seria de - solidão, terror ou amor?
Com certeza de homem,
pulmões em sangue em dor?
As colinas repetem até ao infinito
a explosão lancinante dum louco?

Filipe Elites

Afagámos os cristais

Afagámos os cristais do lustre,
Mil brilhos e blimps de luz.

Lúcia

Vai um chazinho?

Vai um chazinho com um preto do Bronx
num palacete perdido na Brandoa antiga?

Filipe Elites

Esquilitos pretos

Esquilitos pretos saltavam endiabrados de árvore em árvore,
O ar cheirava a teias de aranha e pó das tocas das raposas,
Corria tresloucado no meio da noite, sem tropeçar nas raízes soltas.

Lúcia

Já morreu. Cantou de mansinho,
e abalou deixando um leve traço,
de carvão.
Levou um pedaço dos seus,
traçou um fósforo nos céus.
o seu amor em estar connosco ao jantar,
na velha casa dos nossos avós,
o cheiro que ficava depois dos seus banhos demorados.

Lúcia

Roeu

Roeu a corda,
Comeu açorda.
Andou à roda,
com fato da moda.

Maria Vouga

Latinhas chocalhando

Latinhas chocalhando na pobre rua,
Os latidos dos gaiatos erguem-se até ao sol.
Num piscar de olhos apareceste como um solo,
Cadenciando as ancas no bater do meu coração.

Manuel Bisnaga

Rock_9

Bom bpom bum bom
Fomos vários de braço dado avenida abaixo,
Partindo todas as montras!
Estamos fartos dos filmes do canal dois nos Sábados à tarde,
Mergulhamos doidos no tejo frio e poluído,
Como os nossos pensamentos revolto.

Cada vez mais fundo,
Piruetas e bandas de tamboretes na 24 de julho num dia de chuva intensa,
Já vejo o Chiado a arder.
Ahhhhhhhhh!
Salta salta pula pula bata bata,
Os velhos com cartazes encafuados ,
na rotunda do Marquês em dia de calor à hora de maior trânsito.
Os polícias divertindo-se no Mac do Colombo bebendo laranjadas.

Gritam pretos no centro do círculo de São Bento,
Portugal é nosso.
Enquanto o segurança de Badajoz os controla através da vídeo-vigilância.
Abraço-me num pico de loucura a todas as árvores do jardim
Constantino - por favor não se vão embora.
Os miúdos do Camões mastigam vidros e o sangue
das suas gengivas descarrega-se no autoclismo do presidente da câmara.

Que raiva raiva!
Quem é que ligou às minhas tias?
Pensei que a festa era só para jovens...
Saiam daqui!

Mete-te em todos os becos e grita urra e chia!
Arrasta os cães pelos pêlos e chuta todos os cagalhotos que encontrares,
E quando acordas hummmmm...

Que cheirinho a sopa de feijão.

Vasco Vides

Tens inocência nos olhos

Tens inocência nos olhos, apesar deste mar de podridão,
Mas já baloiças desamparada...

Os tubarões já te rodeiam.

Lúcia

Entre o ódio

Entre o ódio e a inveja que lhes tinha
Vi com deleite que uma alma querida
A eles se entregava
Não para mim não queria
Mas para ele....
Que alegria

Vasco Vides

Sonhos de jovens engarrafados

Sonhos de jovens engarrafados,
Boiando numa sopa de grelos,
Cegos atrás da música mais doce,
Morrem nas ondas esmagados.

Demasiada paixão, pouca sinceridade,
Ardem desejos num peito sem oxigénio,
Explodem rasgados de dor,
Esquecidos morrem nas avenidas.

Filipe Elites

Torvelinhos de lixo dourado

Torvelinhos de lixo dourado,
Dançando na praça ao pôr do sol,
Vestidos primaveris enfunados de sensualidade,
Perfumes quentes de praias demasiado usadas.

Tardes de esquecimento,
Angústia sem saber porquê,
Perguntas que gostava não tivessem feito.
Desiste de saber,
Come bem e força-te a dormir.

Diniz Giz

19.7.07

Cit.#3 - Jack London

- Ainda aí está, todo inteiro?
- Sim – responderam os seus lábios.
Quebrou-se o último fio. Algures, dentro daquele túmulo de carne, existia ainda a alma de um homem. Emparedada pelo barro vivo, continuava a arder aquela inteligência fogosa que lhe havíamos conhecido. Mas ardia em silêncio e nas trevas. Estava como que separada do corpo. Não tinha corpo. O próprio mundo não existia. Conhecia-se apenas a si mesma, e a vastidão infinita do silêncio e das trevas.

Jack London, O Lobo do Mar

Bateram na Porta

Bateram na porta da esquerda,
Depois na da direita,
assustou-se fora descoberto,
Movimentos engasgados e tensos,
Uma mão em cada maçaneta,
Pensamentos ultra rápidos.

Tentou não fazer barulho a respirar,
Olhou desesperado o quarto minúsculo,
A janela dava para as escadas de serviço,
Deu passos de marcha silenciosa,
Fugiu sem olhar para trás.

Correu como um louco escadaria abaixo,
Sentia o coração saltar no peito,
A noite escondia os degraus,
Espiralou ofegante até ao fim,
Olhou para cima curioso,
através do centro da escadaria,
Morreu com um balázio na testa...

Zé Chove

Your Ideal Love Mate

Esperei

Esperei, esperei e ninguém chegou.
Ouvia os meus passos inquietos ecoarem na sala vazia,
Ardiam-me os olhos com a força do sol que descia lá fora,
Perdi-me a decorar as repetições da “pedras” falsas do soalho industrial.

Diniz Giz

Estatística#3

Quietude saúde ataúde amiúde lúgubre insalubre fúnebre futura mortal gutural sutura sepulcral dura runa surda morda cerúlea coral lua escura fura ninguém te atura.

Madalena Nova

Coruja negra

Coruja negra pias de dor,
Na noite clara de lua cheia.
Entre os ramos tristes e esvoaçantes,
Voas lenta sobre a morte.
Ao longe o mar também chora,
Solitário sem ter a quem,
Milhares de histórias contar.
E o espírito vagueia entre o vento,
Perdido em sonhos de te amar.
Velho velho por dentro,
Cheirando a madeira podre,
Soterrado numa montanha,
De pesos invisíveis,
Porque não existem.

Zé Chove

De noite perseguido

De noite perseguido no escuro pelo marulhar indefinido das avenidas.
Lembranças que passam sem deixar rasto mas sujam o fundo dos ouvidos até à insensibilidade.
Dispersos arrabaldes que fogem à cidade mãe e dormem à noite,
cada vez mais longe, filhos dispersos, até ganharem a independência lá ao longe onde criam as suas próprias histórias.
Do ar vê-se que se escondem nas matas fronteiriças.
Triste da alma arrombo o primeiro chaço que encontro,
decompondo-se com um murmurio surdo debaixo de um velho lampião intermitente.

Zé Chove

Pequena Andorinha

A pequena andorinha morreu,
De cabeça para baixo.
Entre a terra e o céu,
Com uma patinha colada,
Na gosma do ninho dos seus pais,
Do qual tentava fugir.

Madalena Nova

Apesar de tudo nunca se falavam

Apesar de tudo nunca se falavam, numa mistura de respeito pelo adversário, desprezo altivo, provocação e incapacidade de estabelecer pontos de contacto. Assaltavam-se mutuamente com perguntas inconsequentes, como quem lança palha numa fogueira, tentando que a amizade pegasse, mas ardiam rápido deixando tudo preto e poeirento.
Nenhum dos dois compreendia bem o outro. Os encontros fugazes não ajudam as personalidades fortes a adaptarem-se. Por vezes olhavam-se com um sorriso envergonhado. Tentavam rir-se, com pouco jeito, das piadas um do outro porque não queriam submeter-se um ao outro, coisa que um riso verdadeiro provavelmente provocaria. Isto é falsidade?
Talvez se sofressem juntos por um mesmo objectivo se tornassem amigos... mas será que não têm nada em comum? Claro que sim, e no entanto...
Aqueles outros dois dão turras um no outro como se fossem matrecos. À sua volta deixam um ambiente pesado...

Filipe Elites

Vi um Rapaz

Vi um rapaz acenar com um lenço preto e de novo embrenhar-se no casario denso.
Ouvia o muhezin cantar mas não o vi.
A água nas fontes lambia as pedras com um som de sesta.
O sol cortava as sombras negras com precisão contra a terra batida.
O branco das casas cegava-me e o cheiro de vários almoços fazia me andar mais rápido.
Ao sul o mar brilhava de calor.
Sentia o cheiro familiar dos meus próprios pés.
Lembrei-me do teu cheiro.
Quando me penteias depois do almoço com as mãos ainda a cheirar a limão-forte.
O cheiro do teu vestido guardado no armário...

Zé Chove

Iam os Dois

Iam os dois rua a baixo relembrando histórias antigas,
Vividas no tempo do colégio.
O gelo da noite perto do rio negro,
expelia fumo através das suas bocas.
Andavam acelerados ao longo das ruas centenárias,
O vento zumbia nas catenárias,
A água fluía nos carris dos eléctricos.
Chuvinha fresca amiudava os seus sorrisos.
Comeram qualquer coisa quente nos ambulantes,
E falaram do futuro.
Os anos que passaram sem se falar, exigiram um acerto no vocabulário da amizade.
As escolhas feitas a sós sem se consultarem um ao outro,
Revelam agora com mais precisão o carácter de cada um.
- vês o que o tempo me fez?
- vês o que eu fiz ao meu tempo?
- como é que isso não me espanta nada?
- ambos perseguimos a felicidade.
Dantes não havia tantos silêncios. De certo que os havia, mas passado tanto tempo sem nos vermos não seria de esperar que tivéssemos milhares de coisas para contar um ao outro?
E no entanto olho para ti em silêncio e isso me basta porque vejo que continuas igual.~

Diniz Giz

Subiu e desceu

Subiu e desceu as escadas levemente,
Agitado sem saber bem o que procurava.
Coçou a cabeça tentando ter alguma ideia,
De cotovelo apoiado no corrimão fitou fixamente,
A luz na porta do seu quarto nas águas furtada.

Lá de baixo vinha o cheiro dos sofás velhos,
E o bichanar da t.v. notívaga de sonos,
Suspirou profundamente antes de decidir sair.
“Talvez lá fora haja alguma coisa para fazer”
Quem puxa é o corpo, embrutecido pelo tédio.

Puxou com força o cabelo para trás,
Deixou o frio lamber o seu nariz,
De mãos nos bolsos cantarolou até ao bar,
Mais próximo. De novo o calor,
Ar gasto e álcool no sangue.

Saiu de ouvidos zumbindo a metal,
Os últimos carros abandonaram o parque acimentado,
Algo no coração ainda não se sentia satisfeito.
Deitou-se na relva e chorou ardendo em desejos,
De não sei quê que lhe dilacerou o peito.

Mário Mosca

Continuam as Festas

Continuam as festas lá em baixo na aldeia,
olho, completamente parado, a alegria lá no vale,
aqui do alto parece um inferno de fogo e sombras.

Oiço os cantares através dos urzais,
o crepitar do fogo e o som de segredos suspirados no escuro,
trovas do tempo dos reis instrumentos ancestrais.

Choram de medos e tradições.

Cheiro de comidas simples, envoltos no húmido das serranias.
Ninguém me é estranho conheço-os todos,
até os de fora que vêm em busca de amores.

Sou o único que ficou em casa,
até as crianças dançam à volta da fogueira.

Sinto o peito vibrar de emoções antigas,
o homem velho quer ir dançar,
bato com o punho violentamente na mesa,
fui me deitar.


Zé Chove

Oiço Clamores

Oiço clamores ecoando através dos galhos suspirantes da floresta,
o medo cresce com a neblina espectral,
o cheiro da manta morta e os gemidos da madeira podre.

Zé Chove

Final de Tarde em Caneças

Doce trinar de fontes seculares,
Água frescas de musgo enxuto.
Estão os três a conspirar,
No inverno pátio frio.

Velhos de pedra de matar,
Cantar de rouxinóis,
Chorando amores passados.

Na noite escura,
Caminhando em tristes fados,
Futuros brancos lívidos,
Presentes negros não vividos,
E uma dor mais intensa.

a lua desce atrás das árvores,
não queremos mais o sol.

Lúcia

Guitarra Noturna

Guitarra noturna,
Velha sozinha,
Caminha no escuro,
Olha o céu cinzento,
Afoga-se de melancolos,
Sonhos do passado lento.

Miguel

Shaman

Esfolga o comboio

Esfolga o comboio, corre vai partir,
Agarra a barra salta para a vida.
O sol brilha e escalda no vagão,
Adormeces na palha mofa.

Acorda para a vida os prados estão lá fora,
Corre até te cansares e bebe em todas as fontes.
Sente os cheiros livres da terra,
Afaga o capim fofo e loiro.

Deixa-te abrasar pelo sol de verão,
Tira a camisa e banha-te nos rios.
Come as frutas selvagens,
Morde-as com a boca toda.

E grita de loucura,
As melodias que te rasgam o coração.

Paulo Ovo

Revolução Cultural

A lua desfocada atrás das nuvens,
A madeira gemia nos trastes velhos,
Dormia a casa num sonho de Kazan.
Um rosto de parvo fitava-me no reflexo do vidro,
Ao lado das árvores negras lá fora,
Mais ao fundo a porta do meu quarto.
Não sei do amanhecer,
Agora sigo embalado,
Em cantigas do maio.

Filipe Elites

25 de Abril

Meu amigo vem dai
Vamos juntos gritar
Loucos de alegria
De braço dado a cantar

Filipe Elites

Madalena

Raiados de sangue, raiva pura,
Amansado só pelos toques doces no peito,
Laço de aflição olhava-o com ternura,
Madalena tremia por seu amor à noite no leito.

Lúcia

Findo

Findo,
Vermelha de sangue seco no pó misturado,
Borbotos de barro tinto,
Cuspido brutalmente negro fado.


Zé Chove

Polipaternak

Polipaternak triptolinostriptopak
Koliffernivalderastruvila

Zé Chove

Op#1

Os poemas sem a música não entram tão facilmente.
Não acham que deveríamos facilitar o trabalho às pessoas?
Quem não conhece melhor os poemas dos U2 que os do Shakespeare?
E no entanto a qualidade deste último supera o outro.
Podia haver alguém que musicasse todos os poemas mais importantes
para que estes fossem absorvidos pela população.
...para que os poemas não perdessem a sua dignidade seria uma missão para ...


Carlos Marques

Luna

Luna tinha uma conversa pegadiça como o pez,
Ao princípio sabia bem era doce,
Envolvente como o mel,
Quente e sufocante que nos tirava a faculdade de pensar.
Mais tarde quando se calava deixava um amargo,
Na garganta.

Manuel Bisnaga

Catarina Furtado

Toda a sua vida consistia em fabricar boas frases,
Era dai que provinha o seu sustento,
Vivia atenta a tudo o que a rodeava aflita,
Desejosa de desvendar novos matizes novas cores da vida.

Por vezes tentava desesperada uma solução no acaso,
Juntava palavras como um jogo nunca se sabe,
Talvez que o ser ou não ser tenha nascido da sorte.

Chorava sempre as mesmas melodias,
Já todos conheciam o seu fardo.

Henrique

Meu Amor

Não te cansas de pedir desculpa meu amor?
Continuas a rastejar aos meus pés inconsolável?
Sabes bem que volto sempre a sorrir para ti,
Depois de te repreender de cara séria com fervor.

Não quero que te deixes levar,
pelos teus sentimentos a toda a hora,
parece que ficas cego e esqueces,
o que prometemos um ao outro.

Madalena Nova

18.7.07

Pálpebras a meia haste

Pálpebras a meia haste escondiam
Teus belos olhos verdes de lasciva
Com os lábios trementes abertos suavemente
Em forma e desenho de beijo ardente

Zé Chove

Ataque Fatal

Dentaduras brancas brilhavam na noite
Escancaradas para o ataque fatal

Lúcia

Movia-se

Movia-se esquelética branca nuvem
Gemendo de dor baixinho desgrenhada
Debaixo de um lençol pálido
Fitava o incerto de olhar vidrado
Caminhava para a sombra fugia da luz mortiça da sala de estar

Zé Chove

Um Grito

Um grito grotesco de dor infinita,
Rasga-me a garganta. Não se atreve a sair.

Brás

Persegui-a

Persegui-a até ao fim da rua arrependido,
De lágrimas nos olhos, decidido,
A pedir perdão,
A nunca mais a ofender.

Ela não se voltava para trás,
de queixo empinado,
Ofendida,
Firmada na sua decisão,
de...


Lúcia

Como uma Onda

Como uma onda
Profunda longa banda sonda
gorda chumbo rombo lombo
baleia óleo baforada
Bela branda algas branca
pança dança envolve abraça esconsa panda

Zé Chove

Procura

Procurei Prócoro por toda a parte,
Com o coração preocupado,
Trepei duras escarpas de granito,
Na orla das florestas embrenhado.

Desesperava de amargura por não te encontrar,
Cravei as unhas na nuca do desespero,
Será que deliro.

Revolvi os trastes do meu quarto,
Procurei os teus trilhos, os teus rastos,
Perdido por trás de cada tronco,
Perigos trança prosélito próximo próprio
profundo progresso partiste cripta cruz
cravado crosta quebra macábro broca marcas...

Carlos Marques

Cansada#3

Mais uma volta neste carroussel.

Lúcia

Loucura_10

Vem manda-me a baixo,
Vem destrói o meu mundo,
Estou louco eu sei.

Manuel Bisnaga

Novos

Correndo descalça pela relva enquanto o sol se punha,
Ainda somos novos mas já andamos de transportes públicos,
Chave no bolso desde os doze,
Poupando para comprar a guitarra,
Mas vem o fim de semana e lá se vai a guita.

Madalena Nova

Tenho Cerveja

Tenho cerveja suficiente para um mês no frigorífico,
Se quiseres podes ficar em minha casa.
A tv cabo está paga, não tenho telefone,
A praia aqui ao lado, vai estar de arromba.

Já te vejo louca depois do banho,
Sentada no sofá de entrada à minha espera.

Manuel Bisnaga

Disco

Tipo, estilo, cena do género,
Fútil, perfume, couro, pele.
Cabelo solto, preso.
Luz noturna de Lisboa.

Vamos de carro pra disco,
Tremendo de ansiedade,
Vamos correr o risco,
Esquecer num momento a cidade.

Cores, batidas, sensações,
Beleza, álcool, desejo,
Vivo o momento afogado,
Na loucura do imediato.

Aqui nunca me verás chorar,
Aqui só me vais ver dançar.
Vou pular de alegria animal,
Amanhã será outro dia.

De vómito de dor eu sei,
Mas agora sou o rei.
Grito alto explosão de felicidade,
Amanhã morro perante a verdade.

Madalena Nova

On the Mix

O único som que precisarás de ouvir é o meu suspiro,
Atravessei apressado o Areeiro olhei lá em baixo a Alameda,
Caminhei rápido para tua casa tremendo.

Violinos gordos bem alimentados,
Choraram com rasgos a tua partida,
No meu peito um violoncelo soou grave.

Diniz Giz

Cheiro Enjoativo

Deitada no sofá no seu vestido rosa bem roliça,
A casa quente da lareira,
Exalando um cheiro enjoativo a plantas secas.

Subimos pelo telhado em plena Alfama,
lá em baixo brilhava o Tejo.
Um dia virás até mim em sonhos,
Vejo a tua sombra a toda a hora.
Oiço a tua voz sempre que ligo a rádio,
Preciso da tua carne.
Beijar o teu peito,
Apaixonado quente de amor,
Abafo as tuas bochechas desesperado,
com medo de te voltar a perder.

Lúcia

orações

Um tigre rugia no meio da selva irritado

Vivia no interior de um frigorífico desligado

Compunha peças de música pimba

Fumava para esquecer o fanatismo dos selos


Madalena Nova

Criança Perdida

Criança perdida chorando inconsolável,
Na beira do molhe, à noite na praia.
Escondida no frio da sombra dos candeeiros da marginal pública,
O sol à muito que já se pôs no coração jovem abandonado.

Paulo Ovo

Barca

Calma lenta - quem disse que esta barca nunca mais navegaria -
Subiu mansamente cada onda rasgada pelo brilho da lua.
Vai sozinha em silêncio mar a dentro, com a rede recolhida,
Ninguém a comanda vai ao sabor do vento.

Lúcia

Gata Saltitando

Gata saltitando de telhado em telhado na noite,
Patinhas frias, corpo quente,
Vagueavam na noite perto do rio.
Miavam raspando o lombo nas árvores,
Cravadas as unhas na terra.

Madalena Nova

Rock_8

Néons rasgando o céu, a minha mulher é a melhor venha conhecê-la,
Crianças na tv apresentando o noticiário,
Supermercados de inutilidades,
Alguns chorando pelos cantos querem o fim do mundo.

Venha conhecer o prazer mais recente do nosso estabelecimento,
Morte arrastada pelo vento ,
Mentirosos aplaudidos na praça pública correm nus,
Quando virá o fim do mundo?

Gordinha do basket vai fazer-me feliz,
Banhinhas fofas e pegajosas,
Sida, sida, nos seus lábios
Não interessa só quero a diversão imediata.

Vasco Vides

Estreito Zen

Estreito é o caminho entre as varas verdes.

Filipe Elites

Consul Tora

Trabalho agora é a sério,
Vou partir a loiça toda,
Ninguém me agarra,
Vou rebentar.

Filipe Elites

Gritam por Liberdade

Gritam por liberdade, corroídos pelo ódio,
Ignorância triste desacatos de criança,
Apelam já roucos pelos seus direitos,
Coitados corroídos sem fé.

Angústia raivosa que pulsa com qualquer carícia,
Sentem-se bem numa certa imundície de raiva,
Não querem a paz querem a paaaaaaaaaaaaaaazzzzzzz,
Uma paz gritada borbulhando de violência.

Oh como é doce o orgulhosamente sós,
Não sei bem o que procuro,
Mas deixa-me explodir de raiva.

Brás

Doce

Doce mãe porque choras tão dolente?
Se fui eu, diz me qualquer coisa.
Se não paras pode ser que também chore,
Tenho pena por te ver assim aflita.

Diz me mãe como te posso consolar,
Estás tão longe tão bonita,
De rosto glorioso lavado em lágrimas,
Prostro-me de joelhos sem saber o que te dar.

André Istmo

Alpendre_4

Lavada era como estavas,
Ainda fresca a cheirar a sabão,
Esperaste por mim ao sol junto do estendal.
Misturando o teu cheiro com o da noite e o do jantar,
A lua já subia quando te segurei por trás,
Beijei a tua face tenra e bem cheirosa.
Dançámos lentamente para casa,
A mesa montada no alpendre.

Zé Chove

Tentei

Tentei segurar a rápida queda,
Ajuda-me por favor,
Caiu desamparado sem rede.

Henrique

Sou o Rapaz

Sou o rapaz da terra das sombras.
Poemas de paixão que não dizem nada,
Palavras bonitas coladas pela sua beleza.
Sou uma besta de merda,
Poemas de rua assentes no macadame,
Palavras negras cravadas na realidade.


Mário Moscva

Acabou de Chover

Acabou de chover, o sol brilhou,
Cada brilho deixava um rasto até aos meus olhos,
No silêncio matinal senti a tua falta.
Puro amor, puro ódio,
Pura destruição, pura criação.

Lúcia

Duas Notas

Mergulhado no silêncio que lhe havia de dar a morte.


Valsinha noitinha.


Diniz Giz

Cocei a

Cocei a garganta sofregamente com um som de estertor,
Mexi os lábios mas não sai nenhum som.

Brás

Passaste

Passaste sorrindo brejeirona,
Pelo meu pensamento distraído.

Filipe Elites

Açores

Entre florestas subaquáticas, trespassadas
por raios perfeitos de luz solar,
Senti uma paz inesquecível,
O azul intenso e infindo envolvia-me.

Madalena Nova

"Back Alley" by Anne Hart

17.7.07

Castelo Abandonado

Castelo abandonado no alto do monte,
Pedras vazias em silêncio,
Ao longe o mar num raio de sol,
Suportado por urzes raquíticas.

Muralha de força abatida pelo vento,
Rochedo calado pelo chilreio dos pardais,
Aspirei profundamente o cheiro,
Urzes mar pedra terra história guerra e paz.

Estás morto no pó da solidão,
Ossos negros cortam o meu horizonte,
Dentro de ti me vou esconder,
até ao dia em que o sol não nascer.

Brás

Complicações Venezianas

Complicações venezianas,
Corríamos com a boca cheia de esparguete á bolonhesa,
Por canais fétidos sob o sol mediterrânico.
Alguém gritou “arriverderci”.

Ri-me bêbado e cuspi sarcástico “ciau puerco”.
Arcadas de são marcos alagadas,
Chapinhando de calças arregaçadas,
Fugimos loucos de mota de água.

Na Ponte das beijocas, fui contra a pança do Pavarotti.

Mário Mosca

Morremos

Morremos juntos naquele acidente.

Zé Chove

Voz Roufenha

Voz roufenha de canhão,
Longas batalhas atrás das costas.
Deitado com o nariz perto da tua pele,
Aspirava o meu bafo devolvido encorpado com o teu cheiro.

Chorámos agarrados um ao outro sem nenhuma razão definida,
Só a certeza da dor.

Brás

Assustei-me

Assustei-me sozinho trabalhando noite adentro,
Com uma pequena mariposa desajeitada devolvida da escuridão.

Paulo Ovo

Ninguém quer ouvir

Ninguém quer ouvir as notícias,
Já sabemos que morreram mil pessoas,
Esquartejaram violentamente outras tantas,
O país está a afundar.

Marco Íris

Crânio Esmagado

Crânio esmagado contra a vidraça,
Pele delicada rasgada pela mordaça,
Cordas violentas no corpo doce,
Madrugada cinzenta de crime.

Marco Íris

Rock_7

Poemas de rua, poemas de nojo,
Música gasta de álcool, ritmos bravos de cidade.
Manhãs podres de angústia,
Quero cometer novos erros.

Velocidade nos fumos bafientos,
Luzes mortiças no alvor.
Sol braseiro de verão de horror,
Toda a gente me chateia como lagartos ao sol.

Pássaros loucos de tesão,
Flores intensas de baton.
Gatos fundidos arregaçados,
Cagaste a perna até à virilha.

Se te sentes mal junta te a nós,
Prometemos que te daremos bofetadas para te animar,
Se quiseres parte as mesas todas deste antro,
Berra até a garganta sangrar de fogo,
Depois corre pela rua aos saltos,
Mandando socos na barriga dos velhos preguiçosos.

Quando eu era um alien,
Ficava no quarto o dia todo fechado,
Jogos de computador a toda a hora ,
Segredos adolescentes abafados.

Tv sozinho fora de horas,
Paranóias relacionadas com biscoitos do Dia,
Pó debaixo das unhas,
Manhãs até ás 15:00.

Vasco Vides

Deitado

Fiquei deitado no relvado público,
De cara ao sol, bem bebido,
Enquanto cantavas sambas,
Sorrindo para o rio.

Henrique

Código da Estrada

Ab ba ab ba cdc ede

Filipe Elites

Lobo Voraz

Eu era devorada pelos seus olhos de lobo voraz,
Em seu redor eu saltitava, como um cordeiro.
Pinchava fresca e vaidosa, mas com receio,
Do seu ataque feroz.

Filipe Elites

Cravei três rosas brancas

Cravei três rosas brancas,
Na areia junto ao mar.
Como símbolo do nosso amor,
Ante a imensidão do grande abismo.

De manhã cedo estava o céu nebulado,
As nuvens baixas taparam o céu estrelado.
Testemunha silenciosa da nossa promessa,
As ondas vinham e refrescavam as rosas.

Vieram os primeiros e discorreram se seriam,
Algum símbolo satânico ou funerário.
Outros passaram correndo distraídos,
Por fim um cão rosnou-lhes e mijou-lhes em cima.

Caíram as primeiras pétalas vítimas do vento.
Por muitos dias os caules mantiveram-se hirtos e viçosos, descabelados.
Mas as ondas ficaram brutas,
Esbofetearam a areia que as sustinha e tragaram as rosas.

Roçaram desamparadas o fundo do mar,
Nos vagalhos flutuaram devagar,
Desfolhadas e estraçalhadas já não podiam chamar-se rosas.

Diniz Giz

Questionário

Onde ficam as abelhas no inverno?
Os pardais morrem nos seus ninhos?
Porque não cai a chuva toda junta,
como um lençol de água?

Vasco Vides

Carnes

Largou as suas voluptuosas carnes,
Ao longo da ladeira ingreme e suja.

Filipe Elites

Imagino-te a sorrir deitado

Imagino-te a sorrir deitado,
Na alcova quentinha, sorridente.
Olhos de pura alegria,
Cheiras a leite entre as pregas das tuas tenras banhas.

Fico horas ao teu lado a mimar-te,
Ris-te sempre das minhas brincadeiras.

Lúcia

Na agrura das escarpas de xisto

Na agrura das escarpas de xisto,
uma manta verde a rodeia,
Canta um riacho à sua beira.
Parou no tempo quedou igual.
Bendito seja Jesus Cristo.
Dorme a minha aldeia natal.

Carlos Marques

Chave da Semana

Senti o cheiro húmido das ruas,
Torpe - sorte - morte - sofre - enxofre
Ceia - feia

Filipe Elites

Uma parede de tijolos tosca

Uma parede de tijolos tosca,
Brilhava sob o sol abrasador.
Tu passaste à frente da fornalha ardente,
No contraste branco do teu vestido.

Mário Mosca

Lustroso Cabelo

Lustroso cabelo loiro, ondulado, beleza,
Sibilina, lasciva, linda.
Sorriso fácil glicodoce, límpidos, sinal verdade.
Ao som da flauta e do alaúde,
Alva pele branca de loiça e cristal,
Alegria jovial, semi-louca, dançava.

Diniz Giz

Broa de Sono

Sela o cavalo alado.

Lá flutuou fleumático através da esplanada!
Ao longo do salão saltou ligeiro!
Flutuou nos sapatos de fivela!

Voluptuosa, violinos, tocá-la.

Natural milhares vinham vê-la
Crianças loiras dançando à sua volta ultrapassá-la vala,
Luz vera.

Filipe Elites

Início de Soneto

Casitas coloridas numa malha
apertada de ruas de frescura.

Filipe Elites

Estatística#2

Contesto festo resto lesto presto,
honesto incesto Ernesto cesto gesto.

Lençol rol sol caracol fole anzol atol.

Lua tua nua sua falua rua actua crua.

Entoa proa desabotoa boa coa coroa gerou-a voa.

Grandioso horroroso ouço fosso
grosso moço nosso vosso roço touço
Rouco louco moco soco foco
touco troco choco coco

Vendaval real graal geral cal radial
chacal laranjal estalo baleal castiçal
estendal animal brutal abissal sinal
Portugal formal tal canal final.

A céu aberto esperto
alerto certo perto
deserto desperto.

espeto dedo medo ledo.

Ama cama cronograma
fama chama lama dama rama
cana banana sana gama grama alfama
badana trama abana romana clama
engana brama cigana bichana estranha
façanha manha peanha arranha drama
Saldanha aranha.

Madalena Nova

Cansada#2

Não suporto que o olhem com desdém.

Tinha a alma dorida e sem consolo.

Ver salmos bíblicos.

O corpo está triste quer carinho,
A alma está angustiada.

Lúcia

Estatística#1

Larápio leite lobo lôbrego,
líbido lábio lodo lado lago,
lava larva lábia lasso laço,
lomba lombo louco ludibriar,
lascar lindo lostra lama lontra,
lorpa loca lipo ludo longo,
lente lupa liso lastro lixo lívido,
luminoso lerdo linóleo,
lírio liga lixa lexívia listra lista lina.

Madalena Nova

Lamento#1

Devem ter se esquecido de mim,
Aqui sozinho à chuva vou rezando.

André Istmo

Aviou-lhes com ira

Aviou-lhes com ira do trovão,
Com uma queixada ressequida de carneiro,
Lutava pelo amor brasa do seu coração...

André Istmo

O meu Senhor bateu –me

O meu Senhor bateu –me como um pai,
Apaixonado pela perfeição do seu filho,
Não percebi como um miudito...

André Istmo

Pus me ao teu serviço

Pus me ao teu serviço animado,
Esperei pelos grandes trabalhos,
Fui fazendo o que todos fazem ,
A novidade dava luta empenhei-me.

André Istmo

Tu saberás

Tu saberás, não preciso de to revelar agora.

André Istmo

Rouco de gritar pela rua

Rouco de gritar pela rua,
Sem que lhe dessem crédito,
Desesperava agora abatido,
Preparado para o espectáculo inédito.

O mundo inteiro iria saber,
Aquilo que ele proclamava,
Ficou de bruços em cima do balcão,
O taberneiro esse acreditava.

Vasco Vides

16.7.07

Desprezo

Bem vês como os desprezo,
Se não os acabo perfeitamente,
Deixo ficá-los feios,
Como os teus dentes.

Filipe Elites

Perdi o mais belo poema

Perdi o mais belo poema,
Esqueci-me de o gravar,
Não o consigo relembrar,
Agora choro de pena.

Só sei que era para ti,
As palavras mais sentidas,
Num momento as escrevi,
Ficaram para sempre perdidas.

Agora mostro-me mais singelo,
Vês bem que valho pouco,
Quero que me ates com um elo,
Viver ao teu lado de amor louco.

Manuel Bisnaga

Cansada

Reclinou-se cansada contra o tórrido,
Laranja muro de tijolos ao sol,
Suspirava aflita com o peito fremente,
Cheio de dores invisíveis aos estranhos.

Mil aguilhõezinhos tinham manchado a pele,
Imaculada com doce prazer.

Lúcia

Toma Lá

Os nauseabundos humores rotineiros.

Lúcia

Arvo Pärt

Infiltrações #1


Algumas ideias dispersas...

Algumas ideias dispersas...

Não me são estranhos os teus olhos querida,
Já nos amámos antes noutra noite.

Gritava esparramada na imundície.

Mil vezes por ti morto e abandonado.
Olhinhos de fingida...

Até de madrugada cavalgarão,
Poucas razões sobravam por chorar.

Não sei se hei-de falar mais alto,
Para que reparem em mim,
Ou se hei-de ficar calado,
Para que não dêem por mim.

Mário Mosca

Desabafo_7

Só fizemos isto?

Filipe Elites

Cit.#2 - Billy Corgan

my reflection / dirty mirror
no connection / to myself

Corgan

Ai Delicada flor primaveril

Ai Delicada flor primaveril,
Balanças distraída ao vento sul,
Libertando o teu aroma infantil,
Brilhando ao sol com teu vestido azul.

Pendes dum frágil galho em que balanças,
Tentas fugir do velho que te agarra,
Como das mães aflitas as crianças,
Liberdade?...

Ao fim da noite emersa na escuridão,
Ficas triste, em silêncio ao som da lua,
pesadelo no breu em solidão,


Não conseguiu soltar-se deu fruto...

Soltou morreu no chão infecunda...

André Istmo

Uma rosa amarela

Uma rosa amarela,
Um bigode afilado,
Mesa de cristal,
Toalha de brocado.

Sapato bicudo,
De verniz brilhante,
Reflectindo o teu penteado.

Filipe Elites

Pedro

Pedro morava na falésia de rochas sobre o mar,
Os dias eram tormentosos dum cinzento esverdeado.
O mar rugia furioso e ecoava nas negras covas dos rochedos,
O sol nunca brilhava o vento gritava rodando na chuva.

O pai de Pedro era forte como um tubarão,
Passava os dias no mar na matança,
A sua barba era crespa como a urze,
E a voz cava vinda dum porão.

Mário Mosca

Olhei à Distância

Olhei à distância.
Olhei ao longe através da noite,
Um quarteirão compacto e familiar dos anos 50.
Aqui bem perto o som de carros numa via rápida,
Deixando um rasto sonoro,
Marcando o compasso da cidade.
As luzitas das salas de estar apelavam a um silêncio,
Calmo descansando nos sofás,
ou roçando algum cortinado de tecido pesado.
Naquela outra sala os clarões intermitentes denunciam algum filme noturno.
O céu da cidade qual gorda nuvem laranja,
com laivos de verde nas bordas é um edredom que nos cobre a todos.
Por vezes surge algum vulto lânguido em contra-luz
nalguma janelita refundida,
sugerindo historietas noturnas de almas movendo-se na solidão.

Mais pessoas passavam nos carros acelerados
com objectivos rápidos de alcançar,
ou simplesmente perdidas sem sentido,
hipnotizadas pelos rastos de luz dos carros da frente.

Na rua aqui em baixo as árvores dançam,
levemente acariciadas pelo vento fresco da madrugada.
Fecho a janela bocejando...como serão os meus sonhos?

André Istmo

Pintar a Manta

Gosto de pintar a manta,
Correr de esguelha,
Cantar a santa,
Rodopiar a velha.

Maria Vouga

anjo da guarda

Vi-te lá de cima,
Cocuruto, ombros e sapatos,
Chegavas cansada do trabalho,
Eu olhava.

Estava parado sem fazer nada,
Decorava com carinho os teus passos,
Não sentis-te o meu olhar?
Sou o teu anjo da guarda.

Lúcia

Rainha do Verão

Passeavas distraída no apart-hotel à beira mar,
A noite caía em tons laranja.
És a rainha do Verão,
Mas entre o final do dia e o começo da noite,
Tu és minha.

Filipe Elites

Rock_6

Duas criaturas frágeis fechavam-se no quarto e,
Tic tac caem anjos no jardim,
Zic zac os garfos raspam nos pratos,
Lala melodias doces através da noite!

Vasco Vides

Dançar como uma serpente

A música fazia me dançar como uma serpente,
Deslizava ao longo da pista a escorrer libido,
Roçava em toda carne posta à minha frente,
Que pena amanhã ter aulas pela fresca.

Filipe Elites

Desabafo_5

Nos anos oitenta havia mixes podres!

Filipe Elites

Eu sou um bandalho

Não me tentes provar que as músicas,
que ouves são melhores que as que eu oiço,
só as vai tornar piores,
diz me antes que andas a ouvir algo diferente.

Não me perguntes o que achava se pintasses madeixas ruivas,
Aparece-me de madeixas loiras,
Faz-me surpresas,
Que eu gosto sempre de ti.

Não me perguntes se sou capaz de acordar sozinho,
Dir-te-ei que sim com ar compenetrado,
Mas amanhã não aguento e ficarei deitado,
Faz tudo por que eu sou um bandalho.

Perguntaste se gostava do teu novo penteado,
Disse que não para te chatear,
Mas acariciei-o deslumbrado,
Estás-me sempre a apaixonar.

Vasco Vides

Num canto mais obscuro

Num canto mais obscuro da Bracalândia,
Onde ninguém passa de tão refundido,
Existe uma alegre barraca,
E lá dentro mora um preto.

Ninguém, nem ele próprio sabe como foi lá parar.
Tem uma farta carapinha,
Dança entre as geringonças adormecidas,
Ao final da feira,
E comia pedaços de farturas frias.

Mário Mosca

Tom Waits

A palha amarfanhava-se contra a terra

A palha amarfanhava-se contra a terra,
Loira como fateixas de crina de cavalo,
O céu resplandecia de azul imaculado,
O sol imperava sobre o mundo.

Caminhava pensativo através das vinhas,
Surripiava distraído bagas ácidas de uvas verdes,
Olhar desfocado misturava a paisagem toda,
As ideias fluíam lentas e moles ao sabor da brisa morna.

Com o rosto aquecido de olhos semi-cerrados,
Pensava completamente nos teus risos doces,
Só uma abóboras ao longe davam algum grão a esta vista,
Nunca tive coragem de falar dos meus sentimentos.

Depois do almoço nem os pássaros se ouvem,
Os meus passos na terra seca dão ritmo às minhas orações,
As águias flutuam sem encontrar alimento,
O coração treme sem sobressaltos e sem alentos.

André Istmo

Linguagem dos Animais

Os nossos agentes já desvendaram a linguagem dos animais,
mas decidiram que ainda não era altura de a revelar ao Homem.

Mário Mosca

Rosto singular

Rosto singular,
Beleza adulta,
Com olhos de criança,
Sem culpa.

André Istmo

Cortar na Casaca

Quê vós sois rapazes?
Então fazeis aí sentados a cortar na casaca do alheio?
Ide trabalhar meus meninas!

Filipe Elites

Sujos de Rímel

Não adianta pintar o cabelo,
Não podereis fugir dos radares,
Põe na cabeça uma panela,
Assim não atrais os olhares.

Tendes os olhos sujos de rímel,
Foi por mim que estivestes a chorar?
Tarde volto não espereis por mim,
Talvez nem queira voltar.

Filipe Elites

Luísa

Luísa estava velha,
O rádio crepitava o fado gasto,
O pó acumulado nos móveis,
Absorvia lágrimas de juventude perdida.

Diniz Giz

Fustigava

Fustigava a pequena embarcação,
com o gemido das madeiras,
e o uivar do vento no cordame.

Lúcia

Lino

Lino partiu o braço no bidé,
gritou de dor agarrado à louça,
mas ninguém acreditou em mais uma mentira,
e chorou olhando o seu reflexo na sanita.

Zé Chove

José Andava Louco

José andava louco,
Queria encontrar uma mulher para casar.
Andou de aldeia em aldeia perdido,
Assombrado nos caminhos solitários.

Depois duma densa floresta,
No meio da escuridão,
Encontrou uma casa,
Branca como um lírio brilhando de lua.

Ouviu um cantar doce,
Abandonado de menina,
Mas não havia luzes nas janelas.
“Estava à tua espera”
“Estava à tua espera”
“Estava à tua espera”

Zé Chove

Na vastidão do areal

Na vastidão do areal,
Corremos sem destino ao sabor do vento,
De olhos cegos do sol brutal,
Em busca de felicidade por um momento!

Vasco Vides

Não quero voltar a ouvir falar de prazer

Não quero voltar a ouvir falar de prazer,
Vou ser seco como a tábua,
Não vou ouvir o animal,
Vou esmagar o animal!

Vasco Vides

O Terror

O terror entrou-nos pelos olhos,
Anestesiados pela profusão de cores,
E embalados por melodias cerebrais,
Sorrimos insanos e provámos deliciados o sangue de alguém.

Zé Chove

Dançámos

Dançámos até ao infinito,
Atravessámos os portões da ignorância.
Sentimos o gosto do vinho quente.
Afundados num sofá de prazeres fugazes.

Lúcia

Ficámos Presos

Ficámos presos no betão seco,
Não morremos,
Falámos por pensamentos sem nos vermos,
Pensei que gostavas de mim.

Lúcia

Assustaram-nos de Morte

Assustaram-nos de morte,
Deixámos de sair para a luz do dia.
Vivemos nas trevas ansiosos,
Pelo fulgor da nova luz e da paz.

Polícias por todo o lado,
As crianças correm no fundo do metro.
O sol não nasce há três dias,
O fundo dos cinzeiros anuncia a morte.

Corremos desastrados ao longo do hangar.
Gritaram que não bebêssemos do espelho,
Torpes e sem forças deitámo-nos em esconderijos,
E agachámo-nos por séculos.

No silêncio mais absoluto,
O vento chiou sozinho,
Alegre por ser tudo dele,
A face da terra manchada de luto.

Sonhos de tragédia acordaram em praias de sol,
As palmeiras deixavam cair os seus cocos,
Rachados deixavam fluir o mal,
Do seu ventre, molhando a terra de ódio.

Um cavaleiro fustigava o Tempo,
A fúria dos mares engasgou-se à sua passagem,
Bradou com rachas nas paredes,
“Ainda não é o fim animais!”

Estarrecidos sofrendo com o cheiro pestilento,
Continuámos a morder a lama,
Chafurdámos na morte sem poder gritar,
Esperámos a nossa vez de nos esmagarem pelas costas.

na vastidão do areal,
corremos sem destino ao sabor do vento,
de olhos cegos do sol brutal,
em busca de felicidade por um momento.

Mas uma nova luz vai brilhar,
E envolver-nos do leite sagrado,
Gritaremos de prazer e pureza,
Como bebés brincando no regaço do seu pai.


Zé Chove

Até ao Fim

Até ao fim foi o que disseste,
Subo acima das trevas e contemplo,
As florestas organizadas com um batalhão,
Vejo o oceano em chamas.

O rio velho está a secar,
Peles de bovinos ensanguentadas,
Sobre o mármore do lagar,
Onde espremem as pêras.

Zé Chove

Dez Casinhas

Dez casinhas voltadas para o mar,
Branquinhas de sal a brilhar.
À beira da falésia escarpada,
Ao fundo da velha estrada.

Viviam abraçadas como irmãs,
De cada lado um jardim de maçãs.
Compartilhavam o recheio de pessoas,
Vida alegre recordações boas.

Enfrentaram o inverno juntas,
E as crianças com as suas perguntas...

Paulo Ovo

Há Frente

Há frente ia o anãozinho,
Gritavam todos como galos,
Caminhavam em círculo,
Esmagavam tudo à sua passagem,
Pois andavam para trás.

Não queriam ver a lua de novo,
Atiravam esparguete à multidão,
Faziam chorar as velhas,
As crianças riam sem parar,
Quando algum caía para trás.

O céu trovejou sobre esta horda,
Enraivecido com a insolência.
Tapavam-se com folhas de alumínio,
Não haviam de parar,
Há séculos que andam para trás.

Já esfaimados e a cuspirem os pulmões,
À lua cheia continuavam a gritar.
No pico da sua raiva,
Caíram dum precipício para o mar,
Afogaram-se porque andavam para trás.

Zé Chove

O Projecto

Rastejou no terreno da grande obra,
Que não chegou a começar.
Debaixo do sol violento o pó no ar,
Misturava-se com o suor e sufocava.

Tentou imaginar a grande torre,
Sentiu o peso esmagador do betão.
Cravou as unhas na poeira,
Levantou as mãos bem cheias,

O pó caiu qual lençol dourado,
Cegando-o, espalhando-se pelo peito.
O projecto que ficara sem forma,
O desejo que permanecera mais belo no seu espírito.

Lúcia

Umas Gorditas

Umas gorditas faziam o barco abanar,
Eu dançava o dia inteiro,
O capitão comia sopa no porão,
À noite uivávamos à lua cheia.

Andamos em frota,
Há mil anos perdemos a rota,
Comemos gaivotas venenosas,
Alucinamos em ondas gigantes atirados pelo ar.

Estas velas não são nossas,
Venderam-nas ao coveiro que nos enterra no mar,
Sonhamos debaixo de estrelas,
A 2 escudos cada sonho.

Só o amor é que é livre,
Neste tronco de salvação,
Mas o Inverno é muito frio e,
Gostamos mais de esfregar o chão.

Zé Chove

Linfa na Estrada

Linfa na estrada até leiria,
Resina na colher de pau ressequida,
Os teus pneus amarram raízes,
Num novo mundo de vida natural.

Os papagaios invadiram Lisboa,
Todos os vidros se desfizeram em areia,
E o nosso amor tornou-se mais racional,
Num novo mundo de vida natural.

Zé Chove

14.7.07

Verme

Mergulhaste na terra como um verme,
Envolto na escuridão do húmus,
E preparaste o teu regresso.

Lúcia

Toda a família

Toda a família perdeu a virgindade,
Com a morte do mais novo.
Rezaram todos juntos,
Mais unidos que nunca.

Uma luz cega cai do céu,
Envolve o clã e separa-os do mundo.
Agora compreendem a vida,
Agora entendem a morte.

André Istmo

Perdão

Voltei a pedir perdão,
Cada vez mais gastas as palavras.
Quando é que me rebentas com um estalo?
Oh! Todo-Poderoso ajuda-me!

André Istmo

Já Tentámos Tudo

Já tentámos tudo.
Batotas foleiras,
Era a forma mais directa.
Não temos tempo.

Morreram as esperanças,
Os bifes arderam nas brasas.
Os estômagos roncam em ácido,
Deitados no chão em desespero.

Não buscávamos algo concreto,
Só queríamos satisfação.
Não nos queixávamos da dor,
Só a rotina mata de desilusão.

Aqui ao lado vivem da matéria,
Lá em baixo comem carne todos os dias.
No meio do nosso desespero,
Só nos resta um estáter dentro dum peixe.

André Istmo

Tristes Trópicos

Será que alguma vez vão aprender?
No meio de rumba e de flores,
Qual o sentido da vida?
Não hão-de preferir a música do Sol?

Paulo Ovo

Mergulhar no Sonho

O despertador tocou,
Despertei com o Sol na vidraça,
O corpo ainda não estava preparado,
Voltei a mergulhar no sonho.

Nessa letargia matinal,
Em quinze minutos eternos,
Atravessei palácios de luz calma,
Paisagens sombrias sagradas.

Respirei profundamente de prazer,
Voltei a mergulhar no saco de aço,
Refunfunhei na almoçada fresca,
Acordei de novo para almoçar.

Zé Chove


Shot_10

Nunca serei muito grande,
Prefiro que seja o Sol.

Diniz Giz

Gritas que sempre a amarás

Gritas que sempre a amarás,
Estás louco por ela,
Cortarias os pulsos por ela,
Mas ela continua calada.

Agora que ela foi com outro,
Nem olhou para ti,
Não és nada para ela,
Enforca-te e mostra o teu amor.

Tenho a certeza nessa altura,
Do desespero em que se abre o cadafalso,
Virá um anjo em teu socorro,
“Baixa esse cutelo”.
“Eu amo-te com loucura”.

Filipe Elites

Todos foram à festa

Todos foram à festa menos eu,
Fiquei em casa a tentar compensar.
O sol brilha tudo parado lá fora,
Os olhos saltitam sem terem nada em que pegar.

Imagino as crianças a brincar no lago,
As moças bem vestidas a palrar,
Casais risonhos a contemplar,
O passado e o futuro do seu lar.

André Istmo

Cit.#1 - Bernanos

“Envolveu a sua confidente num olhar em que havia uma espécie de ternura, porque aquela amizade, cortada por tantas tempestades, retempera-se incessantemente na cumplicidade dos mesmos prazeres”.

Bernanos

Lux-Podre

Licor e fumo pela camisola abaixo.
Os vultos rasgam a luz de neblina.
Corpos langorosos que já deviam estar a dormir.
“Não abriremos as janelas, não queremos ver o Sol”.

Mais uma garrafa de vinho.
Ainda não falámos do Dostoiewsky.
Baixa um pouco a música pró vizinho não acordar.
Não percamos o ambiente,
Amanhã podes dormir no sofá.

Ritmos africanos batucavam nas colunas,
Enterrados no sofá, bem encharcados,
Púnhamos em dia as memórias de outrora.

Filipe Elites

Canção de Amor

Passeámos os dois através da sucateira ferrugenta de mãos dadas,
Beijámo-nos nos corredores sombrios da fábrica desactivada,
Meu amor urbano-decadente.
Eu gosto mais de ti nos becos abandonados sem saída.

O teu cabelo é de fuligem negra,
Os teus olhos brilham com a luz triste dos lampiões nocturnos,
O teu cheiro de trabalho guia-me como um cego,
Através do teu quarto soturno.

Adormeço na fuligem dos teus braços,
Envolto em sonhos de óleo gasto,
Passeio na antiga linha de comboio,
O cheiro do creosoto embala a minha paixão pela cidade gasta.

Zé Chove

Uma Nuvem Gorda

Uma nuvem gorda do tamanho da serra da Arrábida,
Arrastou-se lentamente através da noite.
Vai passar pela tua casa,
Descarregar nalgum campo de batalha.

Paulo Ovo

Desabafo#2

Duas britânicas passaram por mim lendo o jornal.


Filipe Elites

13.7.07

Com o Espigão da Lareira

Com o espigão da lareira rompeu o cabedal dos sofás,
Abocanhou um resto de peito de peru frio.
Barrou o cabelo com manteiga e saiu à rua,
Partiu como um louco em direcção ao rio.

Conteve-se para não gozar com um polícia,
Chutou com força um cagalhão ressequido.
Saltaricou como uma criança Avenida da Liberdade a baixo,
Fazendo barulhos de motores com a boca insano.

Batucava nos caixotes de lixo abandonados na noite,
As luzes cintilavam nas suas lágrimas incontidas.
Gritou como um bêbado quando pensou que estava só,
Algumas pessoas recebiam um grande sorriso outras o seu rugido.

Na sua agonia espalhava as entranhas pela rua da Madalena.
-Por quem chorava ele de amor?
Que alegria atingiu este rapaz?-
Andou de gatas e de rastos na Praça do Comércio.

O cansaço físico esborratou-lhe os sentimentos,
Um traço grosso de melancolia rasgou-lhe o peito.
Sentiu o cheiro e embalou-se nas ondas do rio.
Tentou vislumbrar o futuro com os olhos,
Só viu o negro da margem sul.

Chutou uma ratazana para dentro do rio,
Gritou “puta”.

Mandou uma mensagem a várias pessoas.
E continuou o seu passeio desvairado até de manhã,
"Quando a mente acalma e o corpo morre com o calor do Sol".

Zé Chove

Um Prédio

Um prédio de 34 andares jazia abandonado,
Lá dentro a vida era silenciosa para não chamar a atenção.
Quarenta famílias inteiras, uma escola, um posto de saúde e uma pastelaria…


Zé Chove

Saltava de Árvore em Árvore

Saltava de árvore em árvore engravatado,
“Não quero saber”.
Já disse que gosto de comer sopa no táxi,
“Quem é que não gosta?”

Vou fazer directas sem parar de olhar os teus lábios,
Vou fazer tudo o que me pedires com todo o gosto,
E quando me cansar lembro-me da tua graça,
Só tu conseguiste que deixasse de dormir no estábulo.

Vasco Vides

Depois de Jantar

Depois de jantar fui para a biblioteca de madeira.
Através da vidraça os ulmeiros agitam-se no vento da noite.
Sonho com bruxas e cavaleiros de outrora,
Contemplo a mais bela donzela adormecida no sofá de veludo.
Relembro os risos das crianças ao voltar da escola.

Antero G. Neve


Ah! Noite!

Os americanos universitários organizam festas em pavilhões pré fabricados.
Os Espanhóis nas pracetas, carros, som alto e álcool.
Aos franceses imagino-os a combinarem para incendiarem uma banheira.
Em Angola saltam na areia e batem nos tambores.

Vamos à discoteca?

Filipe Elites

Só, em casa

Só, em casa.
Tudo envolto na penumbra.
Gosto de rasgar as entranhas na solidão.

Penso nos outros com alegria,
Mas memórias têm um perfume manhoso,
Prefiro o cheiro da solidão.

Todos andamos para o fim,
Os corpos vão caindo no mar,
Lá já não estaremos sós.

Antero G. Neve

Oração Popular

Padre Nosso Pequenino
Dá-lhe a chave do Menino
Quem a tem ,quem a teria
São Pedro, Santa Maria
Cruz em monte, cruz em fonte
Que o pecado não me encontre
Nem de dia ,nem de noite
Nem ao pino do meio dia
Já os galos pretos cantam
Já os anjos se levantam
Já o Senhor subiu à cruz
Que a minh'alma tenha luz
Para sempre
Ámen Jesus

Salta para dentro da minha van

Não quero saber porque me amas,
Só quero estar contigo,
Salta para dentro da minha van,
Vamos pró campo.

O sol deita-se atrás do rio,
A noite fresca chama por ti,
Se tiveres arrepios de frio,
Procura o calor, agarra-te a mim.

Vamos dançar sob a lua cheia, fazer planos pró futuro.

Diniz Giz

Morreu sem avisar

Morreu sem avisar os pais,
O pequeno moço matreiro.
Os manos desataram a chorar.
O velho poço coberto de ervas,
Gritou para céu quando o engoliu.

Agora as cigarras no verão gritam,
As andorinhas roçam as suas asas,
No pequeno túmulo do Pedrinho.

André Istmo

Puxava todo o folgo

Puxava todo o folgo da larga peitaça,
Escarrava terra seca com um estertor,
Parecia um motor ressequido.

Cravava as unhas a qualquer coisa que agarrasse,
Espetou-as depois na garganta com sofreguidão,
E marrou com força contra as paredes.

Ninguém nos avisa quando nos pode acontecer,
São desgraças que surgem sem avisar,
Qualquer um pode ser apanhado nas malhas do destino.


Zé Chove


Banheira de Azulejos Cor-de-rosa

Hoje revi-me de novo naquela banheira de azulejos cor-de-rosa,
Antiga da casa da vila.
Tomava banho depois de um dia de praia.
Gostava de ficar muito tempo na água quente,
Sorvia a água do fato de banho.
A casa de banho enchia-se de um vapor perfumado quente e sonolento.
Atravessava o corredor de madeira com a toalha enrolada na cintura,
E gritava - “Próximo”.
Vestia-me lentamente,
Estafado da praia,
A cara fervia do sol da tarde.
Penteado para trás e bem cheiroso,
Lá descia para a sala onde me enterrava no sofá castanho e desconjuntado,
E deixava-me anestesiar pela televisão.
Como eu, os primos, cada um com sua posição de leão empoleirado numa árvore, Moldávamo-nos aos sofás.



Mário Mosca

#231

Voltei a conferir todos os textos,
Estavam todos muito bons,
Podes mandar imprimi-los.


Lúcia

História do Visionário Magno

Imensidão
Universo
Coração
Adverso


Desperto
Sensação
Incerto
Explosão

Poesia incompleta

Carlos Marques

Shot_7

Amena Luz
Dilacera o corpo extenuado
Olhos desbotados
Rímel e suor


Diniz Giz

Cavernas

Cavernas negras do coração,
Abismos feitos de rocha afiada.

Lúcia

Kiss my Gonzo

Imaginarium Postumum #12266


Super Produzida

Super produzida, fiquei babado,
com as cores da tua roupa,
e as argolas brilhantes das orelhas,
betinha tu és bonita.

Sorriste brilhante em pose estudada,
madeixa do cabelo sobre o olho,
senti teu forte cheiro,
através da noite louca.

Senti-me muito mais pequeno do que tu,
teus jeitos eficazes de senhora,
balbuciei embasbacado apaixonado,
e lá fui contente rua abaixo a teu lado.


Filipe Elites

Motard

Deixei-te no bar queixosa,
fugi na mota,
os velhos saíram acorrer atrás de mim,
comprei te uma corrente prateada.

Cheguei montado numa nuvem de gasóleo,
tossiste com ar enjoado,
beijei-te à força,
atirei-te para cima da mota ficaste calada,

eu é que sei.


Manuel Bisnaga

Cachopita

Cachopita queres roubar o meu coração?
ainda tens as pernitas arranhadas
de saltitares na floresta,
dou-te um beijo de compaixão.

As manhãs estavam sempre chuvosas,
para ti minha inglesinha,
com o estômago entediado,
enroscavas-te no sofá.

Vias os desenhos animados farta de estar em casa,
eu ficava na cama sem posição,
vem cá trás mo pequeno almoço,
e reacende a minha paixão.


Manuel Bisnaga

Luís

Cabarets dourados enfumados,
música dos eighties, mulheres despidas,
Luís de camisa e fio dourado,
flutuava largando cheiro barato e piadas brejeiras,
as luzes reflectidas no penteado oleoso,
botinha rítmica apoiado ao balcão.

Diniz Giz

Má Fama

Não sentia a alma descansada,
voava suja, desamparada.
Asas imundas de lama,
atrás do dono de má fama.


Mário Mosca

Jade-Iceberg

Imaginarium postumum #9

Depois do moche

Depois do moche o guilhas tinha a boca cheia de areia,
o anoitecer no oceano trazia o som de ondas antigas.
Deitadas as damas a conversar fizemos uma fogueira,
cantamos ao som das guitarras vozes amigas.
Somos livres,
jovens,
amamos a praia.

Vasco Vides

Shot_4

Arquelau era um ladrão de rosquilhas de azeite.

Vasco Vides

Pardalito

Olha pardalito não vou conseguir chegar a tempo à minha amada,
leva-lhe este meu recado.
A pequena princesa mimada quis uma rosa vermelha em troca do seu amor.
roseiras azuis, amarelas, laranjas e negras.
Por fim lá encontrou outras mas eram brancas.
Por seu amo cravou seu coração num grosso espinho tingindo uma das rosas de vermelho amor vivo.
Seu amo ficou perturbado com tamanha mostra de amizade,
quando chegou ao pé da princesa esta dirigia-se ao altar com o seu,
pior inimigo,
dor.


Madalena Nova

12.7.07

Traumas de Infância

O pequeno colega invejoso viu-os juntos no galpão escondidos,
e fechou o grande portão metálico,
lá dentro ficou escuro.
Indignados correram tentando impedi-lo,
as suas vozes ecoaram aflitas no cofre.
O bufo correu entre as urzes sob o sol escaldante satisfeito com a sua façanha,
só ouvia as pancadas surdas dos prisioneiros cada vez mais longe.

Moderno

Será que alguém ainda faz estes cestinhos de vime?
que grande trabalhão....
deixem as máquinas trabalhar,
deixem as pessoas descansar,
e usarem o tempo em seu benefício próprio.

Diniz Giz

Rock_2

Não interferirei,
o único som que tens de ouvir é o meu suspiro,
deixa-me ser a melodia na tua cabeça que embalas nos transportes.


Vasco Vides

Mais uma manhã.

Mais uma manhã, mais um dia imposto,
posso forçar-me a dormir,
porquê enfrentar mais um dia?
- quando posso ter-te nos meus sonhos.


Vasco Vides

O Coração

O coração bate só na esperança do teu perdão,
e quantas mais me perdoas mais eu te quero,
só tu podes ver a minha vida do avesso,
não me negues jamais,
não sei que fazer mais,
eu quero-te.



André Istmo

Perdia-se sozinho

Perdia-se sozinho no meio da imensidão do seu país,
andava silencioso por fora,
em que é que pensava?
Provavelmente rezava.

Eu seguia os seus passos feliz também eu absorto em pensamentos,
ou orações ou ideias para o futuro já não sei.
A paisagem grandiosa está sempre calada,
mas diz muito deste mundo,
vai nos dando pistas sobre como devemos pensar.

“És pequeno parecia querer dizer” e outras coisas,
mas nunca se intrometia,
ali à solta as coisas ficam diferentes,
não sei explicar.

Paulo Ovo

Memória

Ficava horas sentada na cozinha,
pensava olhando a mata lá fora chovendo.
Dias que não deixaram marca forte na sua memória,
passam tantas pessoas pela nossa vida,
situações que decerto nos cinzelaram, deixaram o seu cunho,
nalgum canto obscuro da nossa personalidade,
mas não tiveram uma continuidade.

Por isso passaram a um estado que não misturamos com a nossa história,
ficam guardados num depósito pouco acessível,
como algumas salas do hospital de Santa Maria,
que só visitamos se por acaso nos perdermos pelos corredores,
atravancados da nossa memória.

Por vezes essas trailers surgem-nos claramente como se tivessem ocorrido dias antes,
-tia Alice - os tipos das noites no Cais Sodré - um amigo da pré-primária -
o Natal em casa da tia Bola - um jogo de futebol com o Feijão no parque do Alvito - plantar tâmaras nos vasos com o avô Tranito -
um beijo – Lúcia - Vasco - Ana - uma frase - um excesso - êxito - lágrimas -
Que Deus os guarde - que Deus nos permita ver a nossa história toda em cima de uma mesa para que nos possamos arrepender na sua presença para que possamos, compreender o desenho da tapeçaria.


Diniz Giz

Quando eras pequeno

Quando eras pequeno vibravas com as histórias de terror e do inexplicável,
vampiros espíritos e outros monstros,
à solta em noites ventosas,
nalgum castelo ou floresta perdida nos balcãs.

Esperavas que toda a casa estivesse já a dormir quando o silêncio
era mais manso e à luz de um pequeno candeeiro
lá ias sofrendo aquelas doces sensações de medo.

Paulo Ovo

Nesta Antiga Pedreira

Nesta antiga pedreira,
rasgada a céu aberto,
à beira da falésia alcantilada,
à muito que a vida se foi.

O sol realça as agudas arestas,
as casitas dos antigos trabalhadores morrem em silêncio,
no fundo sempre em sombra
poças de água turva jazem.

Olhei do alto como um estranho,
desci num arrepio expectante,
sonhando com a vida desaparecida,
quebrei a pétrea monotonia.

Coelhitos escaparam assustados,
ante os meus passos decididos,
que o grande anfiteatro ecoou,
misturando-os com o barulho do mar.


Carlos Marques

Rua de Pedra

Rua de pedra envolta na neblina matinal,
luz do sol crepuscular,
demasiadas sílabas oclusivas,
encalhavam meu fluído caminhar.

Enveredei por um atalho,
no meio do ondulado e verdejante prado,
vi uma casita ao fundo,
chegaram-me cheiros de lareira.

Bati na porta já gasta,
abriu uma criança olhando receosa,
quando entrei fiquei espantado,
dezenas de miúdos saltavam pela casa.

Falei mas quedei vidrado,
em vez da voz saiu um gemido,
de puto novo chavalito,
olhei minhas mãozitas pequenas e sorri.


Diniz Giz

Focos de luz

Focos de luz dispararam um a um,
alinhados na escuridão,
a recta infinita rasgou o espaço.
Segui aflito com duas certezas,
o chão plano e duro e as luzes do caminho.

Segui a direito sem pensar,
determinado no destino alcançar.
Por vezes clarões laranja,
brilhavam no negrume,
avançava mecânico sem descansar.


Mário Mosca

Trombones do Fim

Trombones do fim do mundo,
chegaram sem estrépito,
alguns nem acordaram,
todos ouviram a doce música,
dos anjos em delírio.

Ficaram moles nos seus leitos,
uma luz intensa brilhou igual em todo o mundo,
fugiram os recantos e as sombras,
calma paz derramada doce,
sobre as almas adormecidas.

Cantos profundos despertaram nosso sono,
onde estão os raios e o trovão?
Fomos atraídos para as águas cristalinas,
mergulhámos no fresco vitalizante dos rios,
seguimos embalados na corrente.

Vimos tudo num segundo,
família amigos e memórias num conjunto,
que nos fez sorrir de alegria,
cheiros puros de flores garridas,
envolavam nossas vidas.

Então um brilho mais intenso explodiu,
ficámos extasiados em tensão,
suspensos no fluído,
era Deus que nos olhava,
sentimos um calor no coração.


André Istmo

Sons apaixonados do tango

Sons apaixonados do tango,
choro de lágrimas do fado,
fumo triste dum cigarro,
no bar noturno fiquei apaixonado.

Bela donzela de negro,
agora as guitarras choram mais alto,
bebi o último copo,
rodopiei á sua volta e saímos para o bairro.

Sozinhos com frio na noite histórica,
mãos dadas com carinho,
cobria com a jaqueta,
e ficámos a contemplar o rio.

Amanhecia quando terminou o filme da sua vida,
sonhámos de cabeças juntas no futuro,
abraçámos quentes e chorámos de alegria,
fatos negros numa massa flutuante.


Carlos Marques

O que é que me distancia

O que é que me distancia dum Pessoa ou de dum Camões?
Será que sentem de maneira diferente?
O que é que os distingue?
Como é que alcançaram tamanho império?
Também me sei expressar.
Será que é importante aquilo da métrica?
Será que tudo tem de rimar?
Que tenho de fazer para que leiam os meus escritos?
O que é querem que eu diga?
Acho que não tenho um divino jeito.
Vou agora olhar os poemas dos conceituados,
para perceber como poderei escrever como eles.
Será das palavras caras?
Terei de comprar um dicionário?
Donde lhes veio tanta vontade de falar?
Será que escreviam para ganhar dinheiro?
Ou seria uma vontade irresistível de exprimirem as suas almas?
E qual seria o seu método?
Trabalhoso ou de rasgos e de génio?
Pelo menos não podem dizer que escrevi pouco,
tenho aqui matéria para um livrito de bolso.
Mas será que vale alguma coisa?
Vou-me comparar com os grandes?

Li alguns só para me inspirar.
Todas as rimas certinhas e a métrica exacta.
As palavras são rebuscadas,
e os sentidos que nos querem transmitir são vagos,
porque a forma é exigente,
e não se podem alongar em extensas prosas,
palavras bem escolhidas e airosas.


Madalena Nova

Corrias no teu carro

Corrias no teu carro pela cidade,
o frio agradável da excitação no ventre.
As luzes desfiavam-se na escuridão,
o cheiro do rio à noite iluminou-me a mente.
Arrepios na pele de maldade.


Filipe Elites

Abandono

Abandono,
ao sol em passos lentos,
sinto ainda o peso do teu corpo,
larga tu também o meu.
Não quis ficar só.

Mário Mosca

A Morte

A morte dançou bem junto,
procurava o beijo de abandono.
Cego cheirando de longe o abismo,
sentia nela algum conforto.

Torpe agarrado ao ventre,
entranhas de gelo repugnantes.
Caiu sorrindo de joelhos,
-vozes longínquas breves conselhos-
gritaria interior "já nada é como dantes".

Os olhos não querem ver...

Lúcia

Metal

Ventre quebrado de bronze tiniu,
o oco frio em sombra brilhava outrora,
na esperança de calor intenso,
aproximaram-se em busca de abrigo,
ofuscados foram pelo metal frio.

Zé Chove

11.7.07

Aurora meu Amor

Segredos de Estado #1

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #1

Estamos aqui para ouvir
histórias curtinhas
e divertidas
monstros, fadas e mitos
novos ideais
de alcançar impossíveis

Madalena Nova

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #2

Sejam benvidos os novos selvagens
rastas de cheiro nauseabundo
preguiças líquidas as urbes invadem
silvas daninhas adormecem o mundo


Filipe Elites

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #3

Não nos importam as questões
que perturbavam a mente dos antigos
A morte a glória, as almas as nações
A praia o sol, cervejas e amigos

Vasco Vides

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #4

Hoje chegaste à cama
sem teres metido conversa
com qualquer bela dama
vais repassando no cérebro
situações perdidas por falta de chama

Ivo Lascivo

Rock_5

Riff básico, bateria fenomenal,
gritos de ordem islâmicos,
terror permitido jovial,
controlado dentro dos fones.

Ninguém ligou ao seu poder,
bem os viam amansados,
mas nas orelhas gritavam-lhes brutos,
trovas de sangue enlameado.

Raiva miúda que vai crescendo,
no imaginário frágil da criança,
corrompida desde início,
por marchas violentas de matança.


Zé Chove

10.7.07

Máquinas de Guerra

Forças que se engancham uma na outra,
cada uma com seu ritmo,
batem forte tempestivas,
guiadas do alto em uníssono.

Cavalgada marcial pelos pântanos,
brutas correm para o embate,
colidem chapas gritos insanos,
morrem brutas de enfarte.

Já diminuídas seguem juntas,
novo corpo de guerra mais perfeito......
(inc)

Zé Chove

Vaidoso

Olhei-me no espelho orgulhoso,
tirei a camisa inspeccionando,
meus melhores ângulos vaidoso,
estou à tua espera, vai te preparando.

O nosso amor é um barco,
no lago do Campo Grande,
poucas ondas, já estou farto,
tenho uma ideia fascinante.

Diniz Giz

O Meu Remédio

Atravessaram o corredor da escola,
armados em cavaleiros da idade média,
ri de desprezo afastei levantando a gola,
olhei as miúdas com acédia.

O frio entrou debaixo do casaco,
nada para fazer aqui morro de tédio,
como mais um bolo insatisfeito,
as miúdas devem ser o meu remédio.


Filipe Elites

Rocha de Som

Rocha de som cuspida em turbilhões,
brutos arrastou a multidão,
vieste contra mim aos trambolhões,
apanhei-te como uma pena na praia.

Tratei de ti que voavas despida,
no meio do mundo desamparada,
olhaste para mim não disseste nada,
juntos enfrentaremos toda a raiva.

Vasco Vides

As madeiras

As madeiras começaram a ranger,
correste escada abaixo sorridente,
saltaste na rua de ar no peito,
gritaste de alegria animalesca.
Cadências novas na cabeça,
não queres incomodar ninguém,
assumes o desafio do autocarro,
olhas de cima as miúdas.
O baixo sedutor fê-las vibrar,
danças ancestrais reboladas,
guitarras de bar mal afamado,
passaste loira rabo de cavalo.
Assobiei guloso rebarbado.
piscaste o olho fiquei pasmado.
Rouca mota do desejo,
acelerei sem capacete contra o vento.
A tua voz demasiado miúda,
fazia-me palpitar de desejo,
repetias infinitamente o meu libido.

Vasco Vides

Loucura_9

Velhote entra no casino,
tiras as calças e salta na roleta,
um negro gordo canta sedutor no palco,
um careca chora por ele apaixonado.

Uma velha grita com um troar de tempestade,
álcool puro em cada ferida,
despojos humanos vidas perdidas,
uma quarentona loira vende rosas tristes.

Falta de memória gritos índios,
tribos devastando Nova York,
putos governando em lisboa,
aviões roxos largando serpentinas de ácido.

Gritos roucos, furiosos,
leões espojados em suas mansões,
gordos arrastados no asfalto,
rímel desbotado em caras feias.

Samba frescos mal dançados,
luxúria gasta e cansada,
más apostas, desânimo à chuva,
vasos de ira barroca rachados.

Cantos angelicais popularizados,
jogando tetris em retretes de ouro,
raiva bruta, cornos de touro,
corpos mortos, estraçalhados.

Pancadaria em trombas de água morna,
breguilha aberta de sono,
adeus normalidade,
viva o grito inox do jovem louco.

Zé Chove

Adolescência

É fácil lutar sozinho,
o que mexe é para abater.
Do mundo escondido
adolescência amarga, dura de roer.

Madalena Nova

Missão

Descem das montanhas com a mesma missão.
Seguem cegos de fúria nas ventas.
Largam tudo: mulher, pai, irmão.
Esmagam tudo quando passam, paixão violenta.

Luzes rápidas com rastos,
fujo rasgando, o vento brutal,
olhos vermelhos dentes cerrados,
estratégia do ataque final.


Paulo

Xutos e Pontapés

Quando pensaste que o ritmo não podia acelerar mais.
Bum! Expludo, rasgo dou-te mais!
E quando pensaste que já arfava.
Pam! Chuto, parto e esmago!
Fica longe!
Em português eu canto e brado,
pensas que fico calado?
Destroço, subjugo, mordo e estrago!

Vasco Vides

Ata-me

A guitarra dedilhada de arame farpado,
sangrou lágrimas de dor,
partiu sozinha errante,
em busca de uma alma semelhante.

Ainda te quero,
é verdade, chama a polícia,
vou te perseguir louco,
ata-me com o teu amor de força.

Filipe Elites

Jovens

Bar halogénico,
problemas da puberdade,
raiva mal contida,
companhia divertida.

Cambada de putos loucos,
aos saltos pela rua paranóicos,
baterias tribais rebaldaria,
rasto de devastação.

Roucos chafurdam na lama juntos,
cantam hinos desesperados,
brilhos nos olhos conquistam mundos,
sonhos heróicos alados.

Rimas podres mal paridas,
saltam da mente como o sangue das feridas,
surgem gastas pouco sentidas,
amalgama de cenas já lidas.

Não querem saber dos outros,
dominam impérios nos seus quartos,
saltam loucos furiosos,
quando os mandam ir jantar.

Mário Mosca

Adulto

Às vezes parece que o sol vai despontar,
aguento com esperança continuo a jogar.
A vida não corre assim tão mal,
vou deixando as coisas seguirem o seu rumo,
não me vou preocupar.

Às vezes lá levo uma cacetada.
Descarrego nos putos,
a mulher lá me amansa.
Vou continuar calmo a caminhada,
o esforço inútil cansa.

Filipe Elites

España

Sonidos de ordenador,
perritos saltitando,
colores garridas en la flor de la juventud.

Filipe Elites

Funeral

Prepararam o funeral com toda a pompa,
mantas roxas nas varandas.
Todos os homens com as melhores roupas,
velhas chorando roucas,
sombria tarde sem fim.

Foi a traição que os levou,
febre,
dor,
onde estão os nossos filhos,
febre,
ardor,
faca aguda cortou seus trilhos.

Ainda soam seus risos marciais,
aldeia em festa orgulhosa.
Recebe agora muda os pueris destroços,
carne podre misturada na guerra.

Febre,
Senhor,
onde está o meu filho.
Lancinante,
amor,
quem levou meu doce milho.
Morte,
dor,
fardo esmaga sufocante peitilho.


Zé Chove

9.7.07

Salto na lama

Salto na lama de novo,
não faz efeito.
Grito no chuveiro,
não se mexe.
Como à bruta,
não se agita.
Bato com a cabeça,
já aflito.
Corro no prado,
desesperado.
Lassidão.


Zé Chove

Ouvi a sua voz

Ouvi a tua voz na distância, tinhas novidades.
Ela entra distraída no meu território,
louca criança esplendorosa,
ela safaneia o meu peso parado.

Pensava que não era assim que se processava,
tá doida só quer dançar, fito inerte.
Sua dança á minha volta desenfreada,
esboço sorrisos polites envergonhados.

Filipe Elites

Lágrimas

Nunca o tinha visto chorar,
juntos na noite conversando,
como se soubessemos tudo um do outro,
e de repente no meio das conversetas,
uma pergunta mais profunda uma chamada de atenção ou repreensão,
e a necessidade de explicar e o pôr a intimidade assim exposta,
doeu-lhe e as lágrimas correram.


Lúcia

ROCK_4

Rock! Já tou cansado de saltar nas dunas,
ao pôr do sol atiro-me sobre as canas.
Miúdas! Já tou farto atiro-me sobre ondas geladas,
soa a mentira, mas são verdades.

Vasco Vides

Na praia

Na praia cheia de ondinhas alinhadas baixas,
vi uma borboleta no contraste das nuvens negras,
choveram lágrimas por ti,
e a borboleta perdeu a cor.

Contemplei dorido o horizonte,
pensei nos nossos disparates.
Acorda borboleta antes do sol se pôr,
tenho a esperança no amor.

Mãos nos bolsos impotente,
ninguém me veja neste instante.
Palhaço triste e desbotado,
borboleta mortiça ao meu lado.

Mas a vida é mais bonita faz te ao largo,
levantei-me brusco irritado,
a borboleta estremeceu de vento,
olhos frios, corpo determinado.

Cravei as mãos na areia fria,
preparado para explodir.
Ouvi tua vós atrás de mim em lado incerto,
parou a chuva e a borboleta voltou a subir.


Lúcia

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...