29.12.09

Melhores Discos de 2009

1. The xx - The xx
2. Grizzly Bear - Veckatimest
3. Animal Collective - Merriweather Post Pavilion
4. Fever Ray - Fever Ray
5. Bat For Lashes - Two Suns
6. Girls – Album
7. Dirty Projectors - Bitte Orca
8. Micachu and the Shapes - Jewellery
9. Various Artists - Dark Was the Night
10. Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz!
11. Real Estate - Real Estate
12. Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix
13. Bon Iver - Blood Bank EP
14. The Flaming Lips - Embryonic
15. St. Vincent - Actor

16.12.09

Paul Newman at the Actors Studio, New York City, 1955

Para a Tinola

Consagração

Somos gota de água a teus olhos
Em queda reflexa sobre o vinho.
Ruborizado no manancial da tua oblação
O suor mínimo das nossas vidas.

Orlando Tango

Fall and Rise

As papas fermentam no bandulho até provocar azia, o corpo aquece em demasia, a carne repele qualquer agasalho, louca de febre, os pés exploram em vão réstias de frescura na esquadria da cama.

Numa nuvem de vapor de robe em fresca fragrância de chá molhado gotejando das axilas sobre a alcova te reclinas aspirando o ar jovem da manhã num movimento único através do espaço perfume matutino.


Lúcia

Insônia

Separo a carne e como só as cartilagens numa farta malga de alumínio em que se reflecte a solitária vela que conjura nesta não-cozinha todos os espíritos que procuram algum conforto entre as sombras. Mas nunca o encontram - foi vendido. O nível do vinho – a escuridão engarrafada – sussurra o esvaziar das horas. Quando não existe posição para dormir o melhor é ficar acordado...

Zé Chove

Sevilha

Oh leaving again! This city is so succulent! And again we leave the best for the everlasting moment! And I let the tears in my eyes melt with lights outside the bus melted in the night! I felt so sick to ear the Lusitanian language: Boa noite! The experience is over for three days I was the emperor of Sevilha. Te hablo en inglé me siento internazionalle almost roman com tudo o que isso implica.
Senti o conforto do tijolo de burro, enquanto os olhos explodiam de lágrimas fulminados pelo espraiar dosol no lagedo granítico. “I’ve measured this street. Exactly two steps between facades.” E rodeado de africanos e nipónicos e sumérios e nabatenos e ciganos sigo pelo túnel negro que me despejará em Sete Rios. As vermelhas horas cintilam digitais em múltiplos reflexos. Na boca fervilham ainda as papas alioli. O alho é supremo na sua humildade. Festas-fiestas-Sevilha-Sevilha-pagãs e religiosas- one step religious and another pagan, mas verdadeiramente molhado de lágrimas. Poetastro grita-me ela aos ouvidos. O rosto guarnecido com sobrecamadas de base. Base sobre base. E umas pontas de olhos atrevidos redesenhados com vigor sobre um olhar naturalmente tradicional. What the fuck is this? 3 red hearts shinning over a tower in the middle of nowhere? Naturalmente se não tens uma forte imagem diante dos olhos a que se te apegue o coração acabarás por divagar num marasmo de fantasmagorias inconsequente.
Vais caminhando pelo denso entramado do pueblo docemente fulminado em cada praça. Com a cadência dum pachá deixas que todos te ultrapassem nas suas fonas, tão lento que te tornas o reboco das casas. Y mi hermana surripia primaveril essência da banca da l’occitane. O melhor de Sevilha é a primavera, as gordas laranjas boiando garridas, pesadas, nas límpidas e rumorejantes fontes salpicando o ar da sua fragrância rainha ornada de magnólias e príncipes perfeitos matizandonoite e dia num só corpo feminil com solavancos de anca e palmadas na coxa, rodopia a primavera sevilhana do vestido vermelho.
Tapas cerveza, tapas cerveza. Pátios e terraços de branco ferino da giralda a cidade é ferozmente árabe, árabe a perder de vista. Presuntos ao alto, o giz no balcão do rinconcillo!
Por momentos fui o príncipe do islão entre as abóbodas argilosas que encerram a penumbra duma piscina de águas um tanto mornas e um ligeiramente sagradas.
“But she’ll cry if I lie”, ”Oh but your wish is my command”
Oh and once I was the gemstone of the catholic monarchy transpirando devoção recolhido sobre o altar de la capilla real.
Albero calcado sobre o teu peito desnudo de orgulhosas e fúteis palmeiras, sinais da tua riqueza cigana-pura. Tão, tão dramática...
Mi Alma! Cariño Mio!

Tomás Manso

Lua Nova

Esta noite a lua redonda cosida à manta do firmamento faz fugir as nuvens apressadas, temerosas do seu império. A rainha dos astros desvenda-se nua e deixa que a contemplemos, entrega-se-nos e nós na nossa mesquinhez não vemos um corpo mas um furo, um grande óculo na tenda da noite. Um grande óculo que nos promete que uma vez levantado o véu uma brilhante e luminosa realidade nascerá para nós, e por isso choramos ao vê-la porque as nossas paixões esvoaçam de noite e é à noite que nos alimentamos. Temos medo do sorriso opressor do sol que ruge de fastio. A lua é nossa mãe.

Tomás Manso

4.12.09

Traças e Osgas

Oh como compreendo as traças... A fria, gélida luz branca dum lampião ao lado dum casebre branco intermitente à beira da auto-estrada atrai-nos como uma lareira numa tarde de Outono. Expresso Lisboa Sevilha. Meios-tons, tudo se reveste de meios-tons, Aljustrel embebida na nebelina acolhe-nos numa paragem de 20 minutos. Daqui podia partir, fugir das obrigações. Em vez de Sevilha por aqui fico. Meia-hora e lá vou eu rumo a Madrid. Sem poiso, sem ninguém, como a traça. Nova paragem, uma vila perdida no centro da Ibéria e novo golpe, agora rumo a Marselha e assim até ao Cáucaso.
Paragens de vinte minutos podem mudar a vida dum homem. Paragens em estações de serviço desertas, as portas da camionete abertas à geada, abertas como um convite aos estranhos. A caminho, o ronronar dos pneus no alcatrão, crioulo no banco de trás, o americano esquálido à direita na coxia e se alguém ronca com mais paixão: tosses nervosas e pigarreios anónimos. Meios-tons. Iluminação pública rasgando o nevoeiro e as silhouetas das solitárias oliveiras. Mas falava das traças. Confiamos uns nos outros, conforta-nos uma espécie de alívio quente ao sermos recebidos pelas geladas luzes de qualquer erma povoação. Em cada corpo humano pelo menos 36 graus centígrados emanados, assim à cabeça, como uma dádiva involuntária... caminhamos convictos auto-estrada fora, como a traça se acerca da esfera, do globo luminoso, felizes. Dançamos. Nessas casas brancas esculpidas pelo vento à beira da estrada esperam pela nossa leveza de espírito, esperam, as osgas para nos matar.

Zé Chove

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...