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16.6.11

Drave

Eu já desci a  serra em direcção à aldeia de Drave
Por entre encostas ruças e empinadas
onde se ouviam os pios melancólicos do milhafre
e o berro folgado da cabra

Maria Vouga

28.5.11

Realidade Abatida

quando se abate a tarde
a machadadas lentas sobre o horizonte magoado
dá-nos a vontade de comer
e refastelados pensativos sem rumo
rastejamos sem matéria de cuecas no sofá
e desejamos uma aura mística sobrevoando
a nossa vida de cães cronometrada
os olhos percorrem a perspectiva de candeeiros
da avenida e um arroto satisfeito
traz-nos de novo à realidade

Diniz Giz

26.5.11

Oh Vento Norte

vem além de toda a solidão
das brumas de todo esquecimento
entre as ondas tristes do entardecer
com o som da revoada oh vento norte
terei para ti a carne no fogo
e a cama vestida de lavado
as portas abertas ao teu corpo etéreo
e o teu espírito pela janela há de entrar
vem com as brisas entre os sobreiros
desce pelos vales da sombra de pinheiros
que te aplaudam as braçadas rio acima
e as copas dos salgueiros

Paulo Ovo

4.2.11

Género

Detecto sempre qualquer falha e comprazo-me na superioridade subtil que a correcção aos outros me alcança. Cruzo as ruas e maldigo interiormente a inépcia dos meus congéneres que deixam os seus cães cagarem na rua.

Rui Barbo

25.1.11

Secret Aria

Docu-
Mentos
e coca-cola
sobre (a)
mesa
oh
secret
aria
amor
desalento
dos meus finais
de seman
aaaaaa
vou aí
bota e saia alta
e sê me traz
meu Docu
mento nem me
sento
e aban
dono
minha secret
aria


Henrique

25.10.10

Revoltas

Dás comigo em revoltas
Tens o coração em permanente esforço
E não o disfarças com o rosto
A tua maquilhagem distorce a carne e mata
O enquanto....
A tua maquilhagem é um mapa
onde se destacam as linhas de água

Mário Mosca

8.10.10

Chumbada

As puxadas devem ser de fio fino e que não enrodilhe. Três anzóis em cada madre e na extremidade a chumbada. 160 ou 200 gramas eram as minhas perferidas. Uma bela chumbada em forma de pera de aço frio como o sal e o sol de inverno juntos. Atirava-a contra a areia com brutalidade e contemplava encantado o seu olho de sol reprovador incandescente.

Henrique

26.7.10

Refeições

Tua boca a pérola e a ostra
A caverna nacarada a louça
Em que me sirvo e sorvo
Com deleite o leite do amor

E desço desfaço-me em teu pescoço
Deslaço os gestos sem controlo
E fecho os meus olhos adivinhando o calor
Do teu sopro gracioso alvor

Não me dês do veneno não me dês
Esconde o sereno arrebol do teu rosto
O escol de minha vaidade o estremeço
Não me dês o mel condescendente dos teus olhos

Manel Bisnaga

4.7.10

Insensibilidade

Insensibilidade das mãos
Cobertas de resina seca
Enjoado do espólio de imagens
E ambientes inertes sem história
Que os vivifique: o paúl de nebelina madrugadora,
O prado de sequeiro definhando ao sol.
Não estou disposto a provocar emoções
Recorrendo à pornografia ou imundícies
Desse calibre e não tenho vontade de provocar o riso.

Não era criatura etérea que paira nos céus.
O seu olhar era bastante sexy.

- fui à feira do artesanato e encharquei-me em essência
De Sândalo enquanto enfardava
Cubos de gengibre cristalizado.

Mário Mosca

2.7.10

Barbárie Pop

Se fossemos pacientes talvez
tivéssemos assistido ao nascimento
da Barbárie Pop o duelo
histórico entre Black
Francis e o Kurt Cobain

oiço gritos ali ao virar da esquina

Diniz Giz

11.6.10

Scum

Inferno de rapaz que não sossega
Vais bater com os costados num colégio interno em inglaterra
O teu padrinho leva-te por uma orelha mares afora o mar vai esquecer as tuas lágrimas
Alimentado a tabefes britânicos

Paulo Ovo

31.5.10

Dark Throne

As ondas increpam aos céus numa extensa revolução de braços erguidos. A multidão que brame. As fauces do pélago arreganhadas abocanham os limites do céu que se ri profundo bréu.
Abrenúncio! Gritam as vozes
E o céu desperta a chorar. Negro como o dorso do tubarão. Mansidão de negrume a perfeição da noite.

Valter Igor

25.5.10

Choldra

Mar-sonho
Provações de cílica

O seu lugar na sociedade passava por divertir o povo. Trabalho pro-bono. Algumas tarefas não são devidamente valorizadas – falta-lhes um apoio empresarial...

Foi te dada a possibilidade de transgressãoNinguém lerá jamais o que escreveste logo anavalha a imaginação e deixa que o mistério te invada a cela.

Afoga-te num doce suicídio.

Dá-me a provar dessa taça de sofrimento, golpeia, mantem-me vivo, nesta concreta dança macabra, quebra a máscara tíbia da complacência, prefiro morrer esvaído pela verdade que adormecer no regaço da mentira.

Diniz Giz

18.5.10

Forças

Os prédios e assassinos a soldo, torres
Persistentes nos túneis, passem-me o
Microfone, passos perdidos nos
Becos ecoam nos ocos
Oprimidos dos peitos tegúrios
Da raiva incontida. Máfias
Caseiras, refeições ligeiras
Roupas foleiras
Serviços secretos esqualidos
Movendo-se em silêncio
Nos prédios abandonados
Conspirações nos transportes públicos, agentes
Que pedem que me cale

Rui Barbo

Tudo São Paralelas

Tudo são paralelas embrulhadas em novelos
De relações de intrincadas palavras que sustêm seus sentidos
Em infinitos sentidos – fios tendidos
Agarrados a outras palavras
Emaranhando as coisas e a gadanha
Da Fala liberta e rasga e polvilha de sangue
As planícies e canta incendeia a alma
Que vagueia na garganta

Brás

8.5.10

Melra

Poiso o olhar em tuas penas de melra arisca
Mas escapa-me o teu olhar
Não que o não tivesse prescrutado
À sombra dos antigos roseirais por onde te resguardas
Esses olhos de menina incandescente demais
Para tão delicado rosto
Não que os não tivesse tentado
Ler na centelha da tua asa negra
Escondido atrás da arma de lágrimas
A mira fica cega


Manel Bisnaga

4.5.10

Melra Arisca

Poiso o olhar em tuas penas de melra arisca
Mas escapa-me o teu olhar
Não que o não tivesse prescrutado
À sombra dos antigos roseirais por onde te resguardas
Esses olhos de menina incandescente demais
Para tão delicado rosto
Não que os não tivesse tentado
Ler na centelha da tua asa negra
Escondido atrás da arma de lágrimas
A mira fica cega

Manuel Bisnaga

30.4.10

Tendões

Sonhei a tarde toda
Com um estilhaço de vidro duma montra
A cravar num joelho flectido
E ao esticar a perna com a dor
A lâmina a alavancar a rótula
Que fica ao pendurão amparada
Nos esfrangalhados tendões

Rui Barbo

21.4.10

Focar

Abrenúncio
Clavicórdios de paixão
Abrogo absolto absalão
Rémora engalfinhado golfinho
Núbil ignóbil grácil
Gravoso bálsamo gangreno baleno
Lanudo lineu lontano
Sublimação estampido
Sardoalhos escalpados no pescoço
Clemonceau lamermont
Bulício lamuriento lábio lévre
Lastro trambolho escaravelho
Escalfado esclerótico
O tumulto loiro incontido
Desperta da felpuda boina
Havemos de assistir às agressões
E aos choramingos em pleno metropolitano
Em Havana aos Domingos
As mulheres agarrando as têmporas
Não se esvaia o decoro e o pudor
Resguardai os vossos sentimentos.
Ceifai o viço do vosso coração estiolado
Manel Bisnaga

4.3.10

Sagas

O grão de poeira original
Morreu no mar indiano profundo
Na calmaria dum outono sem ondas
Não chegou o oxigénio vital

Secas como carapaus espinhudos
As suas palavras ferem
Espiralantes redes de alguém
Em busca das sagas cegas nos oceanos mudos

Ivo Lascivo

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...