27.6.07

DOIDO

O malandro andava desvarido, uma coceira louca rebentava-lhe o corpo num desejo agoniado de fazer qualquer coisa. Desperto e cheio de força, andava de um lado para o outro como um pêndulo sem sair do mesmo sítio. Olhou atordoado à sua volta, estava tudo arrumado... Tentou lembrar-se de alguma coisa urgente, nada. Pegou na caneta e voltou a posá-la um pouco mais à frente. Começou a vestir o casaco. De soslaio reparou que estava a chover. Procurou em vão o guarda-chuva. Voltou a tirar o casaco irritado. Ainda são 10:30 já tomei o pequeno almoço... Não sabia o que fazer. O seu coração estava meloso, os olhos atentos, os pensamentos frenéticos... Há noite a luz era atraído pelos néons, o cheiro despertava, as ânsias cravavam-lhe as unhas no estômago e arrastavam-no pelo chão. Os amigos sempre foram um apoio à busca pela felicidade. Todos nos rimos e os corpos jovens criam uma energia incontrolável de dínamo espontâneo. A razão não está sempre do nosso lado. Por vezes é irónica engana a consciência fraca e o demónio ajuda.
Eu detesto-me a mim próprio? Direi: “que nojo é este?” ao pensar em mim.
Quando o corpo se exalta e empina também o espírito embarca. Oh que ironia, nunca vi tanta falsidade como quando nos enganamos a nós mesmos...
Pedi com insistência e lá me beijaste na boca – a minha vida está escrita nas músicas, quando as oiço recordo os tempos de outrora – que doce é um beijo na juventude.
Medo de novo. O calor intenso e censurável. Tanto prazer, tantas emoções novas. No dia seguinte ao nosso encontro não fui capaz de dizer que gostava de ti. Agora olho para trás e não sei dizer porquê. (talvez por orgulho... que estúpido). Talvez voltasse a fazer o mesmo. Bem vistas as coisas deve ter sido mais uma intervenção divina.

Zé Chove

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