Assustaram-nos de morte,
Deixámos de sair para a luz do dia.
Vivemos nas trevas ansiosos,
Pelo fulgor da nova luz e da paz.
Polícias por todo o lado,
As crianças correm no fundo do metro.
O sol não nasce há três dias,
O fundo dos cinzeiros anuncia a morte.
Corremos desastrados ao longo do hangar.
Gritaram que não bebêssemos do espelho,
Torpes e sem forças deitámo-nos em esconderijos,
E agachámo-nos por séculos.
No silêncio mais absoluto,
O vento chiou sozinho,
Alegre por ser tudo dele,
A face da terra manchada de luto.
Sonhos de tragédia acordaram em praias de sol,
As palmeiras deixavam cair os seus cocos,
Rachados deixavam fluir o mal,
Do seu ventre, molhando a terra de ódio.
Um cavaleiro fustigava o Tempo,
A fúria dos mares engasgou-se à sua passagem,
Bradou com rachas nas paredes,
“Ainda não é o fim animais!”
Estarrecidos sofrendo com o cheiro pestilento,
Continuámos a morder a lama,
Chafurdámos na morte sem poder gritar,
Esperámos a nossa vez de nos esmagarem pelas costas.
na vastidão do areal,
corremos sem destino ao sabor do vento,
de olhos cegos do sol brutal,
em busca de felicidade por um momento.
Mas uma nova luz vai brilhar,
E envolver-nos do leite sagrado,
Gritaremos de prazer e pureza,
Como bebés brincando no regaço do seu pai.
Zé Chove
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