9.7.07

MERGULHO

Senti algo a remorder-me as entranhas,
algo frio e repugnante que provocava dor.
Remexia-se inquieto incisivo no meu interior,
decidi a medo combater o corpo estranho.

Contemplei as águas paradas do meu espírito,
cobertas por neblinas compactas,
gélidas, por séculos preservadas no silêncio intactas.
Contemplei expectante sem saber o que encontrar, aflito.

Pedi ajuda do alto ao meu Deus com temor.
A madrugada fria da minha alma era lúgubre,
senti o monstro agitar-se gordo e fúnebre,
adentrei no lago sem esperança sem fervor.

Agitei as águas com meus passos receosos,
o espelho sereno ondulou deformando as imagens.
O líquido ficou turvo dando à besta uma vantagem,
recuei enojado agarrado ao ventre pesaroso.

Uma centelha de sol pálido refulgiu,
através da névoa fosca da manhã fresca.
Sorri animado voltei á carga molhei a testa,
um fedor podre morto da poça fluiu.

Não conhecia o nojo da minha alma,
chorei sobre mim mesmo misturando as águas.
As negras do eu desconhecido e as das mágoas.
A luz do sol lambeu a superfície calma.

Distingui os seixos das margens brilhantes,
pressenti num ruído surdo o perigo vizinho.
Mergulhei repugnado no lodaçal ribeirinho,
no abismo negro gritei delirante.

Algo me puxava com força para o fundo,
tentei fugir numa angústia mortal,
cego perdido na escura fossa abissal,
em agonia entre as paredes do poço profundo.

Cuspi, de raiva à tona, sufocado,
como uma criança, trôpego cai no chão.
Fechado como um feto, adormeci de desilusão.
Quando acordei vim um anjo ao meu lado...

Zé Chove

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