As teias flutuam como algodão
cabelos de árvores nuas e velhas
manhã esboroada a água de limpeza
dos pincéis duma morta natureza
o coado entre os ramos
atrai-nos vagabundos mais uma vida.
Às vezes oiço vozes que não me deixam dormir
sussurrando me coisas mecânicas
martela bota parte envolve-te em dinâmicas
e é a graça que flui agora
pela raiz dos teus ossos e deixaste de ver
bate o sino ao longe entre as serras de campanários
que rasgam os céus sobre as nossa cabeças
não deixes que te interrompam
não percas a desconcentração
fixa-te no incerto e deixa borbotar
o que te vai no coração
mata qualquer sintoma de razão
afasta a vontade de rigor
arrota sem formar represa
avança sem temor
escreve o que te dá na gana
nem tu mesmo dês opinião
Lúcio Ferro
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