4.9.07

Sem querer cravei a unha na gengiva

Sem querer cravei a unha na gengiva
o sangue deitou a correr
um rio quente e vermelho
fluxo de vida com sabor a ferro

atravessou muros brilhante marfim
galgou em borbotões meus túmidos lábios
ensopa já toda a almofada
torrente incontrolável e trágica

é já poça no quarto
em que meu chanatos flutuam
sou eu que fluo
cascata rubra escada abaixo

chove o tecto da sala
estalactites de plaquetas
os bolbos das lâmpadas são ameixas
vivos como olhos de diabos

tapetes mornos e negros de coalho
paredes carniceiras de talho
sai à rua, jorra pelas gretas do esgoto
purificando as artérias da cidade

misturando toda a imundície
carcaças de animais afogados
no ardente e espesso líquido
"Holocausto vetero-testamentário"
turbilhões em túneis torrentes sem fim

maré vermelha em valsa grotesca
batalha com as águas do oceano
cavalgada até ao infinito
até habitarmos um glóbulo vermelho.


Carlos Marques

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