Mãos sapudas de noite
Percorrendo as sebes e cercas
Destas ruas até a mão ficar dormente
Correm os cavalos no ginásio
Até de madrugada
Fizeram fogueiras junto ao mar
Barrotes de armar barracas
Borbulhando o aroma
Do petróleo queimado
Na cama penso sem interrupção
Num como pai o outro o mais velho irmão
Corre corre corre corre
Corre corre corre corre
Toda a noite num sufoco
Ansiando a madrugada
Corre corre em alvoroço
Mãos sapudas de noite
Percorrendo as sebes e cercas
Destas ruas até a mão ficar dormente
Passei com a minha avó
De visita ao apartamento duma sua
Amiga cubana
Num prédio pouco iluminado do Bairro Alto
Dona I. Cantora conceituada de Cabarets
Bem afamados
Jogam as duas crapot
perdido entre armários tapetes e vestidos
no escuro envolvo-me nos veludos
perdido sem ar toda a noite entre mantas e sobretudos
num muro iluminado a lampião
ressequido e ensopado
ressequido e ensopado
de mau cheiro
bem a vermelho com pontos
de exclamação
Vamos Ochupar Lisboa
Mãos sapudas de noite
Percorrendo as sebes e cercas
Destas ruas até a mão ficar dormente
No cadeirão de veludo
Gania o meu tio
Uma idade existe em que os meninos
Parecem meninas e as meninas
Parecem anjos
Desligado o candeeiro
Não conseguia dormir deitado
Verde-hirsutos de porte
Esbelto conformam as alamedas
Com eles chora
O vento sobre
A campa da minha ofélia
Mãos sapudas de noite
Percorrendo as campas
Destas ruas até a alma
ficar dormente
Zé Chove
15.4.08
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