15.4.08

Nocturnos

Mãos sapudas de noite
Percorrendo as sebes e cercas
Destas ruas até a mão ficar dormente

Correm os cavalos no ginásio
Até de madrugada

Fizeram fogueiras junto ao mar
Barrotes de armar barracas
Borbulhando o aroma
Do petróleo queimado

Na cama penso sem interrupção
Num como pai o outro o mais velho irmão

Corre corre corre corre
Corre corre corre corre
Toda a noite num sufoco
Ansiando a madrugada
Corre corre em alvoroço

Mãos sapudas de noite
Percorrendo as sebes e cercas
Destas ruas até a mão ficar dormente

Passei com a minha avó
De visita ao apartamento duma sua
Amiga cubana
Num prédio pouco iluminado do Bairro Alto
Dona I. Cantora conceituada de Cabarets
Bem afamados
Jogam as duas crapot
perdido entre armários tapetes e vestidos
no escuro envolvo-me nos veludos
perdido sem ar toda a noite entre mantas e sobretudos

num muro iluminado a lampião
ressequido e ensopado
ressequido e ensopado
de mau cheiro
bem a vermelho com pontos
de exclamação
Vamos Ochupar Lisboa

Mãos sapudas de noite
Percorrendo as sebes e cercas
Destas ruas até a mão ficar dormente

No cadeirão de veludo
Gania o meu tio
Uma idade existe em que os meninos
Parecem meninas e as meninas
Parecem anjos
Desligado o candeeiro
Não conseguia dormir deitado

Verde-hirsutos de porte
Esbelto conformam as alamedas
Com eles chora
O vento sobre
A campa da minha ofélia

Mãos sapudas de noite
Percorrendo as campas
Destas ruas até a alma
ficar dormente

Zé Chove

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