Sou o que mais sofre e ainda
me incitam a pagar a rodada
olho desconsolado na cerveja
uma mosca morta a boiar
só se está bem na cama
Acordo mole no escritório
com medo que o patrão
veja esta bagunça e lhe
chegue ao nariz o cheiro
a ropa e carne estufada
de olhos embotados como
batatas, vagueio secretárias
durmo sempre em agonia
com ideia de ser apanhado
de pijama por um funcionário
De novo o acne do adolescente
De novo mau génio e raiva impudente
De novo os sonhos grandiosos
De novo os serões ociosos
De novo na cama deitado
A música é foleira – não contesto
Mas atiça-mo sentimento
Não faço grandes considerações
Já estou deitado na cama
Alguns poemas ficam espinhados
Quando vagueio na cama já deitado
Dos riscos de contar as sílabas
Parece que brilham, parecem cactos
Secando nas dunas do deserto
Marco Íris
4.4.08
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