19.5.08

Flutuante

Tenho de me vacinar todos os dias
Elevar a comoção até ao céu
E chorar inconsolável
No escuro da sala de cinema
Rodeado de artigos americanos
Engastado num conforto aburguesado
Que me faz dançar nos halls
Em pedra das empresas
Assisto a secretárias apaparicando
Ao patrão errado
Ensoparam o cacto de plástico
6ª feira dourado cara e casaco
Ofusco a plateia sou promíscua
Lantejoila
Pões no canal dois
E intelectual serei
“Amo ergo sum em justa proporção”
Mas se Zappas fico com fome, sou assassino,
Choro fungando a colcha
E incorporo ideais até ao fim da vida
E faço chacota
Do meu vizinho do bigode escafiado
De tanto chorar
Pelos emigrados filhos em Espanha

Marco Íris

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