estas pedras da calçada estão coladas
com pastilhas elásticas
na infância bebi champô
e comi baton
toda a tarde debitando
patranhas e ridículos planos
tomando concentrados de estupidez
arrotando como alarves
debatendo temas cada vez
mais sinceros – travertino – uns com os outros
e no final do mês
o total da despesa
enviado foi um enviado
que dominasse as nações
cresceu a flacidez debaixo dos braços
escrevo esta carta final
antes dum banho relaxante
estou todo pegajoso
nas zonas onde dobra o corpo
todo o dia não me saiu da cabeça
que a justiça é a mais cabal
prova de existência de Deus
Ela escrevia como os esgotos
desaguam no mar
chorámos juntos pelos pobres
comunistas e socialistas que ainda esperam um salvador
passam as noites tentando salvar o mundo
enquanto caem à velocidade da luz num poço sem fundo
vêm tudo rapidamente e não agarram o tempo e não sentem dor
estou aqui nesta alcova
quase beijando estes novelos de lã
beija beija antes
que seja selado o féretro
beija sem desmaios não se sobressaltem
os demónios estás perto
de completar o mais perfeito ritual
as formigas soluçam de dor debaixo da terra
unge toda a horta com escarros pagãos
Religiosidade e bem parecer?
Saltitas com cara de santo
roubando no supermercado
tiras de bacalhau (seco)
irritas-te com os filhos dos outros
se não se calam...
Entrega cabal exige-to protocolo
Em cada minudência
Aplicas toda a tua sabedoria
Mas não fazes as coisas ao acaso
Abdica, abdica, abdica
Ecoa o poço sem fundo
Engole a pedra e não devolve o som
Talvez já não haja vida...
Orlando Tango
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