1.6.08

Crimes #1

Sempre achei piada – sabem?
Sair de casa sem
Dizer nada a ninguém

Custa um bocado a princípio
Abandonar os domínios
Só para abocanhar uma pita

Hoje estava frio
2 graus 2º o painel publicitário
luminoso no topo dum prédio

pareciam espadas jedi
as cancelas iluminadas por baixo
e ao longe são naves os sinais

a irmandade da roulote
é família que se junta à noute
debaixo das suas asas sou mais um filhote

ainda hoje choro ao comer shoarma
Jerusalém na boca mais que na alma
No transistor o kizomba brama

De regresso a casa barulhos
Estranhos marulhos
Entre os arbustos

Já o estacionamento
Todo o betão estranhamente
Em profundo silêncio

Tentei não pensar no caso
Mas não fiquei sossegado
E comecei a sentir-me observado

Flashes reflexos de histórias
Quase todas escabrosas
Cometas na noite memórias

Açaimes, cães raivosos
Kostoglotov o traga-ossos
Seres escondidos em poços

Estalactites de imaginação
Das penumbras de grutas uma visão
Onde embatemos cegos com aflição

Tudo são fantasmas
Fagulhas inertes em caves mal oxigenadas
Que brilham sem chamas

Aproximei-me do muro
De casa e morri de susto
um rosto branco dissolvido no escuro

o coração bombeou cavalgante
mas nas veias gelou-se me o sangue
e de alma evoquei todos os santos

agora no meu quarto ainda
tremendo mas sorrindo
relembrando o episódio agora findo

quem conhece melhor minha casa que eu?
Ainda que sepultada no profundo breu
Nem sequer os anjos do céu

Revirei tudo em silêncio…


Carta encontrada debaixo
De Marco Íris morto na secretária
Do seu quarto

Com uma broca
Espetada nas costas
E um sorriso espetado na boca

Paulo Ovo

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