22.6.08

Lisboa II

Neblina negra, densa e fria.
Molho os lábios de sede,
na língua ressequida.
A dúvida donde estou...
Vagas lentas a morrer.
A luz verde corta o breu.
Passos incertos no asfalto.
Vislumbro desfocados,
antigos pavilhões industriais.
A madrugada não deve tardar.
Nos carris de ferrugem abandonada,
uma carruagem em mau estado.
(sons estranhos de novo)
Estou sozinho.
Dançam melodias na memória
e um desfile de caras conhecidas.
Vou pesando a vida,
numa balança apodrecida.
Um tom laranja no horizonte
desponta pálido atrevido.
Para afastar o sono, assobio,
falta menos pró meu destino.
O rio sereno e adormecido,
vai me encantando,
fluindo de mansinho.
As pernas ganham asas,
no cansaço mecanizadas.
Ao meu lado um tanque gigante.
O sol nascente faz brilhar,
de azul intenso o Tejo.
Um halo róseo pinta a neblina,
ganham contornos as fábricas.
Acordo de súbito dos meus sonhos,
outrora negros e sombrios,
ganham esperanças e sorrisos.
Um carro em sentido contrário,
fulgindo do sol matutino.
Nuvens d'ouro no horizonte
e na alma uma doce paz!

Zé Chove

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