1.7.08

Não penetra

Não penetra o pássaro a copa do pinheiro?

Dos vossos filhos proclamai
Foi Deus quem no-los concedeu
Para que não pecássemos mais
São mel do nosso favo
E fibra da nossa cepa
Perpetuação duma raça

Os textos são como moradas
Onde vagueiam vultos
Definem uma sugestão
De paisagem habitada
Cada palavra que constitui o
Texto liberta vultos nessas moradas

Revulsivo
Sinónimo de corda de fios…

Deixo a sua luz penetrar
As pétalas dos meus olhos
Não impeço o seu calor
De dissecar os meus olhos

Andorinha solta da pálpebra do teu olho
Esvoaçou desmaiada à volta do teu corpo

Deixei-me cegar pelas agulhas
Do sol de fim de tarde

Os pardais roubam tinta ao sol
E serpentinam de luz a cidade

Tobol das dunas a música secreta
Mkristu miye niko salama
Shetani we, si nyie
Arrrgh o ar não tem ar.

Não vêm também o céu os porcos
Reflectido nas poças?

O sol ilumina rectilíneo
O poço de Babel
Logradouro alegre de ritmos
Em espiral torvelinhos de suspiros
E aromas de roupa lavada
Assados, qualquer coisa podre
E qualquer coisa longínqua
Maresia

Não penetra o pássaro a copa do pinheiro

Orlando Tango

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