19.6.09

A culpa não é minha
A soma é real
Decalcam-se na vidraça de meus olhos
Extractos de objectos que me enquadram
Me impedem de cair
Uma estrada de alcatrão
Duas dolentes calçadas como asas
E um escorço do exército de alinhados plátanos
De troncos manchados pela chuva
Adensando o fundo de verdes férreos
Ordenando a matéria as matrículas dos carros
E a sequência finita dos pilares junto aos lancis enferrujados
A tentação é o infinito.
E no entanto estanco a cada passo e gravo
Mais uma prancha de volumes sintetizados
Um parque de parda relva macerado verde
E várias pedras incrustações na terra pedras
Uma bic cristal sem carga carregando o brilho do sol
Sal pisado, elementos que se multiplicam em mil reflexos
Carteiras de instantâneos desdobradas
Individualização do que se prova colado.
A perspectiva jorra sobre o plano-chato
Que se arquiva na memória
A memória é ávida como um sótão
Jamais se enche na sua aleatória arrumação
Que o que se perde não ocupa espaço
Não conhece nem o dia nem a noite
Onde apenas baloiça esquecido um vago candeeiro de tecto
Entre caixas e mais caixas e concerteza muito mais caixas
Cheias e vazias lado a lado juntas segundo algum critério
Mas com critério aquele que é mutável.

Orlando Tango

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