17.2.10

Torre

Viver no prédio das mil fachadas
Milhares de janelas
Os rostos prisioneiros no inverno
Carne encarcerada no ascensor
Da botoneira negra e sangue escarrado no espelho
O sórdido betão inumano
As primaveras floridas de sardinheiras
No parapeito e os lençóis lavados
Pandos de tanto branco
Acampamento cigano no verão
Assados no carvão na escada de incêndio
O sol arrastado lento pelo saguão
Mil fachadas de oiro mil sombras nas varandas
No outono procuro um rosto
Esquecido nas paredes dum apartamento
Mas entre as esquinas de mil paredes
Só passa o vento, só passa o vento.



Nicolau Divan

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