Em todos os seus gestos adivinho recados divinos. Sussurros. A tendência do seu corpo é resistir. Toco-lhe com respeito ainda agarrada ao anzol abocanhando o ar que lhe falta. Todos têm uma leitura diferente das mesmas realidades. Apesar da naturalidade com que procedemos existe sempre um conjunto de verdades de que não abdicamos. Perante o estertor final uns riem, outros choram, uns emudecem e outros dão urros de júbilo. É preciso força e um certo jeito de pulsos para puxá-las para dentro do barco. Falo não só dos peixes como dessas iluminações que nos queimam a pele do pescoço e nos fazem reflectir: usa um chapéu se não queres sofrer ou não o uses e entrega-te docilmente ao delírio de fogo do Verão. Quando parecia que finalmente recuperava a razão…
Orlando Tango
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