19.8.12

Rochedos Mar e Suicídio


I
entre os rochedos
junto à baía
com vento na cara
sinto me almirante
um gigante que enfrenta o vento
rebenta a espuma entre as gargantas
com um silvio arrepiante das fossas
engasgam-se as entranhas das covas e grutas
e arrota com estrondo o peito da praia
por sobre os chapadões recobertos de cracas aguçadas
que o mar engole com terríveis remoinhos

II
à tardes que saudade me sufoca a garganta
então venho até aqui ver sofrer o mar
e já não me sinto afogar sozinho
toda a costa soluça com a brutalidade das vagas
e as fossas soluçam de espuma até ao céu
a ventania substitui-me as lágrimas
pelas gotas salgadas do atlântico
e nessas noites sinto-me respirar Lisboa
encalhado no sopé do Pão de Açúcar
a saudade é um exílio
quem a sofre é uma andorinha na gaiola
o desespero é um suicídio

III
Venho até aqui ver morrer o mar
suicidando-se com estrondo
rebentando seus múltiplos crâneos
contras cabeçudas rochas
como um almirante aqui ao vento
sozinho enfrento o rugido
infernal das vagas impotentes
tentando subir eternamente
para a terra que lhes é negada
uivando de saudade e sal
como um moisés nos muros
da sua nunca jerusalém
só tocada pelos seus filhos
a intensa chuva purificada
aqui me tenho procurando ver mais
fundo por entre os remorsos
revoltos do oceano cheios de raiva
súbita que logo engole transbordante de paz

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