O barraco era nos arredores da praia da Luz andava-se meia
hora pela serpenteante estrada de terra que leva à praia da Luz. Por entre a
mata aos solavancos deixando uma nuvem de pó, cruzávamos pesebres com gente
negra de olhar vago ou alcoólatra, casas distantes umas das outras como se
todos prezassem a sua solidão ou tivessem algo a esconder da comunidade, por
vezes a vegetação acachapava-se escondendo braços de mangue. o sol chapava o
tejadilho do carro. Um barraco do tamanho de um quarto todo feito de madeira.
Há volta só mato e floresta, lá dentro na penumbra um cheiro a merda de gato
misturado com o caldo de piranha, um negão que a cada movimento levantava um
cheiro de cu talvez por estar todo aberto e o velho que o comia chupando as
espinhas .”come aí isso é casa de pobre mas tá tudo limpinho”. eu recusei sou
um pouco enjoadinho. os gatos andavam para todo o lado e os pássaros saltavam
frenéticos nas gaiolas levantando penas. não dava para ver os limites do cômodo,
a luz que entrava pela pequena janela cegava. Mais tarde pensava no que leva um homem casado,
com filhos adultos, fama de bruto e amigo da bebida a aninhar-se nos braços dum
negão em busca de afeto, carinho e sexo selvagem. Depois de descarnadas as
piranhas e decepados os temas de conversa começaram a entoar macumbas e o negro
acendeu um charuto velho, o breu ganhou densidade. Sentimos abater-se o sono e
a custo saímos de casa, entardecia e o calor do dia emanava agora da terra
escaldada numa onda morna e pestilenta de mangues em decomposição. um batalhão
de mosquitos foi destacado para nos chupar. seguimos a pé rumo à praia, de lá
chegava-nos entrecortado pela frondosa floresta, o som dos fanhosos sound systems dos botecos
da praia. Assaltavam-me sonhos de jogo ilegal, caveiras, diabos de new orleans.
Por que sigo eu com estas pessoas porque me juntei a elas. Poderemos cortar
abruptamente laços de sangue? Ou em certos refogados é nos lícito desejar a
morte? O cortejo seguia fúnebre e lancei mais um tema: ” Alguns assassinos são
muito burros na hora de encobrir a sua matança. Não falo daqueles que vão até
ao posto de saúde tentar matar uma ex-parceira (feia como entulho) à frente de
uma fila de espera de velhos com doenças indefinidas, não, falo daqueles que
tendo cumprido bem a primeira parte, a da matança cometem erros estúpidos na
hora de esconder os despojos da sua selvajaria.
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