1.7.13

Caldeirada de Piranha

O barraco era nos arredores da praia da Luz andava-se meia hora pela serpenteante estrada de terra que leva à praia da Luz. Por entre a mata aos solavancos deixando uma nuvem de pó, cruzávamos pesebres com gente negra de olhar vago ou alcoólatra, casas distantes umas das outras como se todos prezassem a sua solidão ou tivessem algo a esconder da comunidade, por vezes a vegetação acachapava-se escondendo braços de mangue. o sol chapava o tejadilho do carro. Um barraco do tamanho de um quarto todo feito de madeira. Há volta só mato e floresta, lá dentro na penumbra um cheiro a merda de gato misturado com o caldo de piranha, um negão que a cada movimento levantava um cheiro de cu talvez por estar todo aberto e o velho que o comia chupando as espinhas .”come aí isso é casa de pobre mas tá tudo limpinho”. eu recusei sou um pouco enjoadinho. os gatos andavam para todo o lado e os pássaros saltavam frenéticos nas gaiolas levantando penas. não dava para ver os limites do cômodo, a luz que entrava pela pequena janela cegava.  Mais tarde pensava no que leva um homem casado, com filhos adultos, fama de bruto e amigo da bebida a aninhar-se nos braços dum negão em busca de afeto, carinho e sexo selvagem. Depois de descarnadas as piranhas e decepados os temas de conversa começaram a entoar macumbas e o negro acendeu um charuto velho, o breu ganhou densidade. Sentimos abater-se o sono e a custo saímos de casa, entardecia e o calor do dia emanava agora da terra escaldada numa onda morna e pestilenta de mangues em decomposição. um batalhão de mosquitos foi destacado para nos chupar. seguimos a pé rumo à praia, de lá chegava-nos entrecortado pela frondosa floresta,  o som dos fanhosos sound systems dos botecos da praia. Assaltavam-me sonhos de jogo ilegal, caveiras, diabos de new orleans. Por que sigo eu com estas pessoas porque me juntei a elas. Poderemos cortar abruptamente laços de sangue? Ou em certos refogados é nos lícito desejar a morte? O cortejo seguia fúnebre e lancei mais um tema: ” Alguns assassinos são muito burros na hora de encobrir a sua matança. Não falo daqueles que vão até ao posto de saúde tentar matar uma ex-parceira (feia como entulho) à frente de uma fila de espera de velhos com doenças indefinidas, não, falo daqueles que tendo cumprido bem a primeira parte, a da matança cometem erros estúpidos na hora de esconder os despojos da sua selvajaria.

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