10.1.14

tele

Para lá chegar descíamos uma escadaria de incêndio com cheiro a mijo, saímos num plateau donde se avistava já o mar batido com espuma e lixo flutuando, sempre que lá ia o tempo soalheiro ia se fechando. Um caminho de terra com umas sardinheiras junto ao muro que depois caia em rochedos até ao mar dirigia-se de súbito subindo até a uma floresta meio careca e suja havia muito dejeto plástico ressecado espalhado na areia e os pinheiros pareciam atacados de acidez, eu caminhava com Paulo Portas e íamos em busca de votos naquela população medonha que habitava naquela colônia junto ao mar. Numa encruzilhada da floresta distinguimos no caminho que cortava o nosso uma gang com suas motos. Vimos o monte de jovens e ficamos assustados e aceleramos o passo. Chegamos à vila um aglomerado de edifícios dispersos pelas rochas e entradas de mar prédios baixos de antigas colônias de férias dos anos 70 de cores acidas corroídas pela humidade marítima e o desleixo. Todos os habitantes são rapazes adolescentes que para ali fogem fugindo da perseguição aos joy division, throwing muses, marillions e outros mijões de escada. A rapaziada move-se em cardumes não entrando nunca nos edifícios que se adivinham vazios como as suas almas e frios acolhendo no máximo móveis despedaçados ou plantas daninhas enfezadas. A rapaziada corre em fatos de banhos de cores frias em direcção ao mar sujo com urgência cruzando por nós sentido a nossa presença mas sem nunca olhar e jogam-se às ondas sujas que estouram nos pontões e vêm rebolando aos encontrões sufocados entre corpos e detritos plásticos coloridos que boiam eternamente

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