19.3.14

Derrocada

Os poemas deviam nascer de coisas herdadas dos nossos pais
Mas se só herdamos asfalto e apartamentos
Mas se só nos dão sociedade e bugigangas dos mercados
Refugiemo-nos em parques e monturos que nunca pisamos
Entremos nas noites sombrias de nossos quartos
Desenhemos uma nova lua com nossos braços
E mergulhemos em rios nunca dantes navegados
Apascentemos rebanhos de bestas incriadas
Deliciemo-nos com banquetes nem por romanos regurgitados
Nunca enterramos os dedos na terra
Nem nos ferimos ou estivemos da morte a um passo

Mais belas são as coisas em movimento
Mais bela é a contemplação da derrocada
Ou da construção do vitral da roseira na ala da catedral
A semente é a mesma, mas diferente o chumbo

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