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3.2.10

Fundamental

Como é que um olhar pode
Transparecer tanta esperteza
Concomitante com tanta lerdice
Pois lá vai ela abanando a cauda
autocarro fora mascando o resto
do seu cérebro. Uma coisa é verdadeira
o sorriso era falso.

Filipe Elites

DNÇ

Um som estranho deve soar primeiro
Uma baforada de incerteza
Que desperte a curiosidade
Um ronco vindo de longe
Aveludado e ancestral
que hipnotize rasgando as planícies da memória
e desperte a vontade de “dançar”
dançar enquanto acto essencial
de expressão dum sentimento
que as palavras não saibam dizer
que o cérebro não saiba formular mas
que um frémito irreprimível da vontade
se derrame em calda de movimento interior.

Filipe Elites

1.2.10

In the City

Através da cidade esférica
na sedosa limousine
és o fulgor na bracelete metálica
no cetim indiferente nos lábios da lepra

és o balançar da city desperta
és o balançar da desgraça
sem sexo sem cheiro sem identidade
glamour inebriado um miasma
uma convulsão a morte sem dignidade
um perfume despedido pelas ruas da cidade

Filipe Elites

Cuidados

Carinhosamente ou meticulosamente compões o alinhamento e a côr perfeita a dar às frases de forma a não magoar ninguém e a todos convencer. Poderemos viver com menos depois de nos embrenharmos na fartura? E uma vez sentidas todas as costelas do torso terás empenho suficiente para suportar a engorda?

Filipe Elites

19.11.09

Fim da Exibição

De peito cheio percorro a alameda. O queixo ligeiramente levantado, os ombros gingãos e a leveza de espírito. Tão cheio e tão leve... escorrego na relva húmida. Um segundo; a mão que sai em defesa aparasse num cagalhão com aparência de salsicha e consistência de diospiro. O adónis perde a parra. Fechem as portas do museu.

Filipe Elites

16.11.09

Profecias

Na segunda sessão profetizou o início da idade do ócio. Como estado livre e alegremente procurado. Com o advento do Progresso Automatizado o homem deixará de pensar no futuro absolutamente confiado de que o melhor possível lhe será dado pela Máquina. A Máquina não é racional, a Máquina não é passional. A Máquina é Estatítica. No número depositámos a nossa confiança com carácter de Fé. Seremos embalados porque não haverá Injustiça...

Filipe Elites

27.10.09

Violação

Branco-halogénio
restos. a laranja violentada
sobre o mármore da cozinha.
o sumo reprimido com pudor
se aflora aos citrinos lábios.
A pele é derramado leite
apodrecendo sobre a bancada fria
o corpo inerte como farinha
não leveda
esfriam-se as cores nos azulejos
sem reflexo

Filipe Elites

25.3.09

Revelação

reverbera nos milénios
atinge-nos a todos por igual
dispersos por filmes rezamos
que não se enrodilhe a fita

ecoam as vozes em salas
insonorizadas nunca sentiste
girarem-te as voltas
liberta solta não deixes que parta

sustém a dança abranda
se tensa - é só escuridão
é só escuridão - a agulha é
aguilhão amansa segura
nas pontas

cinemática teia de veludo
perdida nas cabines da vida
revela distorce corta e seca

Filipe Elites

23.3.09

Definições

Quando misturo
Sentimentos de culpa
Com o pouco sono
Traço com mais tristeza
O desenho do desalento
E de estupidez inocente
Dos rostos do outro lado
Da estrada junto ao semáforo

Contemplo em contra-picado
Os tectos estucados
Dos palacetes vagamente moçárabes
Das avenidas quando volto dalgum trabalho
Acendem-se candeeiros aos centos
Acolhedores de memórias
De vidas quase sempre
Com vias pouco
Definidas

Filipe Elites

25.1.09

Chelas

Bem me fica memorar-te Chelas
Como os amantes que ao perdê-las
Suas amantes desejam vê-las
Em mil reflexos de mil janelas

Filipe Elites

1.1.09

SPQR

Modorras post-prandiais
Reclinadas sobre os corpos
De pálpebras maceradas
Em delírios ambrosianos
Os espíritos fremem
Viandas imperiais, alcachofras
Corno gratinado, puré de ostras
No percurso inverso vertem
Ante o vomitório quem se prostra

Filipe Elites

16.11.08

Boletim Meteorológico

vi um torvelinho de paquidermes
em ventania repisando o céu
nuvens elefantinas em manadas
bramindo as árvores com trombas de água

Filipe Elites

13.10.08

XXX

Só em contra-luz…
vislumbro os seus reflexos
na cadência manuseada
dos negativos cinemáticos
de memórias desconexas

Filipe Elites

10.10.08

Cesáreas II

as trapeiras ao céu imploram com olhos tristes
furtadas nas águas sombrias dos telhados
almas esquecidas de pobres e humilhados
choram de noite o Tejo em desempregados gemidos

Filipe Elites

12RB8ª678

um frade meu freguês
compra fruta e fio de arame
prefere pagar a pronto
à minha oferta à Madre Igreja
aparece em setembro
com dia e hora marcada
a mesma mercadoria
sempre

Filipe Elites

Eu à beira da marca amarela do metro e tu

trespassas a turba
em passada curta e hirta
nada te perturba altiva
de olhar que morde
um drapejo que mal te cobre
nos lábios um baton alegre
num sorriso marca d'água
de quem sofre

Filipe Elites

24.9.08

Baratas Tropicais

Camisas tropicais
Aquários com néons
Palmeiras
Gel no cabelo
Tez morena
Baratas junto dos boeiros
Iluminados por lampiões
Através da humidade tropical
As baratas
O cheiro intenso
O clichè dos carros fora de moda
Frutas garridas
Salvas de prata
Cavam na areia das praias em busca do império
Alguns charutos
Olhares vagos
As baratas tropicais
Cais barcos atracados
Pessoas baixas de estatura
Bebidas fortes
Ilhas baratas perfumes exóticos
Alamedas enquadradas por palmeiras
Sem história
Ansiãos
Tédio modorra
Baratas

Filipe Elites

18.9.08

Stress I

Quem construirá cúbicas colmeias
No baldio onde explode constante
Bolas pedras gritos melopeias
Reboliço do jardim de infância

Uma dama em coma na avenida de roma
Ambulância lancinante noite de Natal
Sigo seguro da minha insegurança
Toda a vida em viva vigilância

Nariz e boca sufocante de sangue
O alarme vermelho o garrido pânico
Nas orelhas os zumbidos das abelhas

A vertigem em queda da criança
O rapaz de rosto sem réstia d’ânimo
O homem maduro com duro medo

Filipe Elites

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...