9.9.08
Inclino
Sílabas assentei-as sossegadas
Lado a lado alinhadas paralelas
Bastiões de xisto ferrugem lascas
Espartilhei a natureza em talhões
Ortogonais rasguei rectos caminhos
Forçando serras urzes aluviões
Lavrei a verdade em palavras minhas
Oh preguiça que afogas os desígnios
Semeias a discórdia no império
Vacinas o terreno de cizânia
Exangue me exijo sem jactância
Inclino contra as em forças declínio
Um homem morto de alma poeta
Nicolau Divan
28.8.08
Existencialismo Crítico
Dizer o que são as coisas?
Negar a existência?
A incapacidade da definição
Um vórtice branco em permanente movimento
Infuso nas coisas
Já na noite nem flúi o rio
Mas divido o vento segundo a segundo
E adensa-se o frio
E penetramos a água com nossos ramos
Vivemos materialmente vivos
Mas vemos nossos reflexos
Na superfície espelhada do rio
Definha o risco em brilho curvo arisco
Suspiralívio o novo início
Gemendo
O galho que se partiu.
Zé Chove
Mais Meditação Mística
Entro o abismo branco e o abismo vermelho
Caminho na helicoidal fímbria que os mistura
Desisto de andar resplandeço de tontura
O silêncio de ouro encharca-me de medo
Filipe Elites
Oi de mim!
Afasto o ombro à trajectória
Do velho em peito cheio que sai de mim
Se vou falhar encolho os olhos
Afasto meu bafo afoito se mofam de mim
Tenho a auto-estima escatimada só
Pelos escolhos da vida em mim
Nicolau Divan
Pensamento Moral
Agoniza envolta em transparência
A transparência vertiginosa da aragem
A da água que agudiza o gume
Que divide alma em lento lume
A flébil superfície moral
É emulsionamento do espírito
Melodioso de melífluo mel flutua mole na libido
(palavra feminina?)
Abstraia a mosca do maldito caramelo
Mas não a mate
Tenha vergonha abstenha-se
Destilado em tanta clareza
Talvez seja divisado
E escondo gemendo como as gentes
E bento me sinto iludindo transparente
Lúcio Ferro
Éden
Também somos esse Gan
Não tem de correr a fonte
São necessárias as árvores de fruto
A fonte ao centro do jardim murado
Ínflasse a analogia
Transborda a realidade do cálice
Enche-se de aromas o jardim
André Istmo
CIT - 23 - ELIOT
we have lost in knowledge?
Where is the knowledge
we have lost in information?
T. S. Eliot
27.8.08
Superfícies
A rosa roda volteia gira e afunila
A roda a moda
As essências o ouro
O diamante
A carne ao abrir a porta
O luxo o relógio
Segundo o belo
Não serve de nada
O dinheiro o fresco
Montra de superfícies
A pela a marta a água o rímel
É tarde é tarde a sociedade
La suciedad
A novidade
Conjuro o requinte
O tesouro a foto a foto e a foto
Seguinte
Desmedidamente no mundo me afundo
Madalena Nova
Arrebatamentos Místicos
Guardo o brilho latas e vidros
Num recanto resguardado na estante do meu quarto
Na escuridão escaravelho descanso cego
De ânsias com ânsias de criança anseio
O recorte a sorte aquela parte
Da tarde em que o sol mais arde
E a sua saia saraiva de esguelha e espalha
Faíscas esfiapos faúlhas e farpas de luz
Aplanando os planos banhando as paredes de branco
E num momento a sombra dos recantos
Do meu recanto empurra
Trespassa de cor e água as vidraças
Gonzos espalhados de anjos tantos halos
Reflectidos nas garrafas frias
E grossos frascos de gelo frácteos
Explode um lago em sol fulmina a fonte de fotões
Festa alegre flores festões
Rendas de luz em folhos molham as sendas
Emersos frondam os olhos submersos
De lágrimas fisiológicas incontidas patológicas
E um sal de sol aguado na saliva
É onda profunda mandriona
Afundado num edredon
O peito de ser em vento satisfeito
Vento de lento alento acalentas o pranto
Pronto vento que arejas a areia da praia
Com sopradelas desmazelas os cabelos das donzelas
Ouves e escondes nas florestas as conversas
Impetuoso imperas à chuva imensa
Enfunas os vestidos no estendal e amparas as aves contra o sol
Varres oh vento as folhas às árvores
Vagueias as veredas os verdes vales
Desvendas verdades enfunas a densidade
Crivas de raiva o rochedo na sua vaidade
Investe e reveste de vigor o teu servo
E vinga oh vento a valsa da minha vontade
Paulo Ovo
Cavadelas
Entre a hifenização do indivisível
Ou a proposição entre aspas
Dos artigos artilhando artigos
Ou a semeadura de sinalefas
Nas traseiras da folha
Tudo cavadelas estéreis
Na retina-opalina do olho menina
O nome-monumento o santo monte
Fluiu sangue água e sal eflúvio da luz do sol
Dei à costa a palavra
Nicolau Divan
Canzonetta
Um peito de ser todo sol lamento
O incremento em ouro do teu beijo
Suspiro um pó que traz eterno
Adorna a seiva o puro lírio
Lúcia
26.8.08
Zen
A cryptomeria de fuste bifurcado
Clama
Deixa-me provar dessa vida
Separada
Seca o fuste gordo
Que ribeira imersa no tempo
Me engula a memória
Esse substrato enraizamento
E diluída a imaginação
Florirá na noite o outro fuste
De auto-contemplação
Dos verdadeiros frutos
Lúcia
VII
O egoísmo imanente
Da árvore só
Devora podre o seu fruto
A pedra a noite compacta
Não o sabia
Mas não és o rio
Permaneces
Com a unção da nata
A luz, o ouro, a prata
23.7.08
Hino ao Irmão Vento
Não é o tempo que afoga é o momento
Nada fundo pranto sob-desalento
Ninguém assiste à queda pára o tempo
Nunca alcança o proposto alcanço
Nenhuma inércia aguenta tal balanço
Não não é a luz que dá o avanço
Nada aponta o vento sem descanço
Não basta um folgo intermitente
No girar do mundo pendente
Nalgo mais constante mais permanente
Necessita o barco do sopro fulgurante
Não é da luz potente o movimento
É do vento é do vento incessante
Orlando Tango
Sequência X
com paralelas de luz
a clareira é possuída
a metade observa a metade
já tomada num silêncio emprestado
todo o ser noite
Zé Chove
Substracto I
dilui-se em contacto com o segundo
o suspiro grava a vergastada
no campo de areia virginal
onde se encavam destroços
doutras palavras
Zé Chove
Vertigens
da desolada aldeia
é casa de aranhas
contemplo os campos celestes
sentado numa ameia
perto duma densa teia
à vertigem que revolve as entranhas
dobro-mesobremimmesmo
e caio desamparado na teia
Ivo Lascivo
22.7.08
Convento dos Capuchos
palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...
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Entre 1241-42 os mongóis invadiram a Hungria. Lamento pela Destruição do Reino da Hungria pelos Tártaros Escrito por um clérigo da época. Tu...
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palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...