16.5.12

Post Title


corre corre entre as ruas sem luz
adivinha as esquinas no bréu
é o caráter falhado
mais um beco fechado

ouve o arrrepio dos gemidos
vindos das janelas entreabertas
sem vida
os gemidos do desespero

mergulha na cegueira urbana
atravessa a fronteira
e deita-te no passeio
com o pescoço na soleira

e sente com alivio
todo o peso da nação que estaciona
na faixa proibida
da esquina e te arrebenta
o pescoço sem que ninguém veja

partes o cordão em silêncio
um último passo rasga a última fímbria
de pele que te envolve a vida
e a espuma derrama-se em borbotões convulsos
na libidinosa língua de alcatrão

Lúcio Ferro

pingo


pingo nos tanques de água gelada
uma gota pequenina na nuca da serra
que se arrepia e solta pelos vales
as neblinas que envolvem as matas

Ohs


Eu sou a ventania entre as vinhas
eu sou o socalco da cereijeira em flor
oh passos perdidos sobre o horto
vem salvar-me oh Redentor

perdido nos terreiros
ecou-o nos vales sem chão
porque eu sou filho pródigo
vem a mim oh salvador

12.5.12

Guaiamum


A banda deste Verão xx/08 = xixis Agosto

Hino

a garganta da viela sugava o tom laranja da iluminação para um negrume húmido que envolvia os passos que se vão tornando mais silenciosos quando deixam de ecoar nos muros da viela para se perderem na imensidão aberta ao espaço dos baldios. saímos do conforto urbanizado que nos encarreira o vaguear adentrando na amplidão dos terrenos selvagens, são eles que suportam a cúpula da noite, transpiram de orvalho o peso milenar das estrelas que os subjuga como a um escravo de uma grande rainha que lhe toca no manto e lhe decora a beleza distante sem nunca lhe tocar.

Orlando Tango

Petiscos

Quem consegue dormir o chinfrim
do homem do lixo às 3 da manhã
quem consegue dormir
com um corpo morto ao lado


botecos ao sul do equador
onde a vista não alcança
lonjura da selva tropical
a proximidade do que está a mais
árvores, lianas, cipós

Fossas Marinas


antes de nos irmos quero te mostrar
tudo o que podiamos ter feito
antes das mãos do tempo nos separar
quero prencher o fosso

antes de ires
quero que saibas
quem te pariu
pra que não caias

antes que saias
quero que vejas
quem são os teus pais
e que não esqueças

quem foi a terra
se foi do ar
dentro da água
não há mais mar

A Mulata e o Tuga


Mulatinha curvilínea
vem ser minha rainha
me ensina o carioca
que eu te ensino
O luso egrégio
mulatinha linda
você me tira do sério
você me tira da linha

Filipe Elites

De Partida

Se me cheira a compaixão faço-me à estrada
nada me detem nem sequer uma lágrima
ponho os pés no chão e a vida numa mala
vou partir sem pensar adentro da madrugada

e se no nascer do sol ouvir
os lamentos esparsos da passarada
tingidos os pensamentos doutra vida
as memórias duma pessoa amada

assobiarei ao céu distraído
para afastar do coração os fantasmas
para o brasil vou partir
não me esperem para jantar
eu depois mando umas cartas

Zé Chove

Pregando


A glória derrama-se sobre os que a não procuram
Os que caminham alegres entre os fracos e esquecidos
Os que abraçam a pobreza como a um filho querido
e a alegria os envolve como uma perfeita carapaça

Sôr Flamengo

Olhar D'Onça


os olhos da onça furiosa
que agora me estão a ameaçar
se os vira naquela hora
nosso namoro nem iria iniciar

como é que tão manso olhar
respirando tanto amor
vira depois fera tamanha
quando sente o temor

Ses

oh tua poesia é só ses
como se tudo fossem indefinições
se assim não fosses
eu não teria ilusões
seriam certezas as nossas preces
e mais concretas nossas paixões

Nicolau Divan

Quadrilha Trovão

agarrado à àgua de cana
ensinava toda a menina
a dançar soltinha o Baião
de mossoró a João Pessoa
lá seguia quadrilha
com o fogo na alma ardendo
todo mundo dança maravilha
ronca a sanfona embala a bomba
salta larga o sertão
larga no céu o trovão
ai que aí vem a chuva
muito obrigado São João
já entoa toda população
num glorioso rojão

Loa Retirante


retirante era uma trabalhador da terra
quando a safra não é boa
o sabiá não entoa a sua loa
cantando o seu rojão o retirante
a erva cresce à toa
como se fôra da terra o sangue
fluindo em direção aos céus
em mil rios verdes de paixão
e um tio caipira meu

Capim Novo


certo mesmo é o ditado do povo
para cavalo velho o remédio é capim novo

1111111


a enxorrada do medo
inundou o açude da solidão

8.5.12

Forte da Baralha


Como se uma bala me atravessasse o pulmão do meio

Vamos ser Rococós
vamos dançar num baloiço de corda
à sombra dum alto chorão
vamos ser rococós
endireitemos os bosques
de cócoras e calções
às curvas, sempre com as cabeleiras encaracoladas
Por entre as copas das árvores brilham ao sol decrépitas
cúpulas de abandonados centros comerciais
Mas havemos de pintá-los
com doces capas de açúcar rosado
chuparemos todo mau gosto das populares amêndoas
de Páscoa, que asco
Os esqueletos decrépitos das torres emergindo
de fumegantes pântanos
Os chimpanzés catando harmoniosamente o cocuruto
do meu filho cedendo para deleite da minha mulher as lêndias mais gorduchas
exibindo a sua dentadura sorridente.
O meu sogro caga num casco enferrujado
E eu meio abichanado descrevo tudo
nas minhas mangas de balão enfunadas
em tons de lilás, azul cueca e verde esparregado

Natural de Bensafrim

Oh bendita safra enche meus bolsos e meu ventre.
Oh céu que chova no meu casamento.
Matrimônios molhados e sopas de bacalhau suado.
Oh rita não me irrites 'stou farto de fado
Rita sinfonia incompleta e insatisfeita de experiências
musicais e delírios sexuais de câmara. indecências
Rastejo exultante com as trombas serra abaixo
brilham as luzes dos barracões onde se bebe
Quem me Rita e me enfarda o ventre não percebe
Porquê festejar o que já está morto? bebe, bebe

sonhos

um sonho sobre uma festa num morro verdejante, uma tenda ao alto, o casal recem casado o safadinho que se mete com ela, ela engraça o marido começa a bater e ela expulsa o marido e fica com o outro a brincarem como crianças, tudo como crianças qual é o mal...

o final termina com uma viagem de comboio voltado para o céu admirando uns reflexos de luz loucos e antigos.
e aquele sonho dos operários que construíram um empreendimento na Barra pelo qual desenvolvem tal amor tal paixão que decidem não abandonar o prédio e lutar contra os legítimos donos.

queimaduras degelo

A tua pele escaldante sobre a minha mão pesada
Esconde-te na sombra do meu peito guarda-te
vamos entrar no mar e arrepiemo-nos no gelo de nós dois
Jorge era uma calçada dura de obstinação e trabalho árduo.
A maioria das vezes serve para pisar mas, nalgumas tardes o sol puxa-lhe um lustro que cega os transeuntes.

Canção 2

Yeh yeh
um rosto carregado
yeh yeh
um rosto carregado
se a queres convencer
se a queres convencer
vende-lhe a alma
em troca do olhar
vende-lhe a alma
em troca do olhar
vai rapaz
pela noite
pela noite
vai rapaz
de alma carregada
e rosto sem olhar

Vasco Vides

Pão de Forma

O amor entre os dois começou a tomar forma. Uma forma de cama.
Uma cama atravancada de filhos e um cão pesado.

Post it

--Não julgo?
Claro que julgo, meu amor. Um juizo pessoal trespassado de carinho.
Porque é que será melhor julgar que não julgar?
Não estará embebido numa fragrância de indiferença a suspenção do juízo?
Será que estou a defender que julgar é bom ou será que ajuizar é o último limite que me é permitido?
Não pretendo condenar. Ou melhor condenarei apenas a categoria do acto, jamais a consciência ou a disposição alheias, compreende querida?

cançonetas

untam-se as peles suadas
mistura sensual de tempêros  
no fogo ...


é um hábito que vai dando na gente
de a cada passo da vida cantar

amor desde que te vi

Não ferem os cornos do capricórnio
não existem mas ferem só de os ver
não perfuram os dentes do vampiro
delírio tal criatura mas arrepio só de ver

adeus que me quero ir
o tacão de madeira sobre o soalho pautava o ritmo da tarde sob um zunido baço de automóveis preguiçosos no início de tarde pesada de calor. A mulher com saia dançando nos joelhos reacertava pela décima vez com o mesmo carinho o ângulo do vaso dos antúrios

Mai La Manga Da Camisa

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...