19.12.19

Morna da Langorosa

Espirra-lhe o vinagre nas virilha
Silva lhe o cuspo entre os podres
Mal achados dentes

Desmaiam todos no barraco 
A fila da possessão 
Marram com as trombas no chão 

Lá fora macabros jacarés 
Resvalam nas tojeiras do esgoto 
Estridulam de amor a noite 

21.10.19

Lascas de Melão

Das 7 almas acrisolei 4
Outras ficaram couxas

Eclipsam se os sois nos abismos

A corola da flor em crescimento
Abana de um lado ao outro
Do universo
De autêntico diálogo 
Grego 

Não temos mais tempo
Esfarela-se a tarde em lascas de atum

Não me confundas mulher
Estou a filosofar
Não a morrer

Dentro de ti goiaba entumescida
Guina meu acordeão corpóreo 


8.10.19

Novos Adoes

Nas margens da linha do comboio
As canas de ribanceira
Plantações que nada dão

Combinações às margens da vida
Com vista pro outro lado da rua
Maçãs Pra cada Adão que te partem as costelas
Na linha do comboio

Comboios de moscas

Eu vi o meu amigo
Na estação de comboio
Eu viu e não lhe falei

As moscas andam de volta

Mas eu não as enxotei

4.10.19

Michi

Era tão fresco esse teu olhar ferino

Tuas cores dançando na luz da calçada
E ecoam até hoje sorrisos como vidros partidos
Nos mármores frescos ecoados entre as altas sacadas
Gira gira gira
Os folhos e os tornozelos
Gira o riso em dança líquido
Um clarão que banha e enfurece todo o jardim de alegria e grita cintila como as fontes que fervilham do teu abismo
Como um espirro de sangue em pleno Verão recortado em câmara lenta contra o céu mais azul assim tu és de vermelho
O gozo livre que põem os animais em alerta e me espicaça desde aquele dia

3.10.19

Faluas

Escuta como lançam seus maus olhados sobre praias de Verão e ondas onde não mergulharam
Vem tudo em movimento
Como que de lado
Tudo se lhes afasta lentamente com um fado
Numa eterna melancolia num espaço nunca habitado
E das suas vozes jamais sentirás o golpe
Porque tudo é fugidio e cinza e esparso
O mundo é estatificado e entre o cascalho liquefaz-se seu espírito de lágrima e cinza macerado

Segredos

Aprendeste assim a falar como eles
A deixar-nos em suspenso dos teus sopros
Desenhas te com um silêncio a curva dos seus cabelos?
E com um nó na garganta transmitis-te
Em silêncio
Que jamais chegaste a vê-los
Eram tudo sonhos
Pedras esparsas no areal que se estende até ao mar tão calmo
E o piar dolente de um pássaro embrulhado no escuro
É tão perfeita e dura a frieza da noite
Que um grito vem dum suspiro
E um novo sol
Iluminar um mundo

A Foz

Subiste até
Não teres pé
Beijaste a tona do mar

Teu corpo eu tomo
Deformado
Cos pés na areia do fundo do mar

Beijaste em mim o reflexo
Do sol que deito no mar

A Foz gasta-se no mar
Afogas Afogas te

Paz Animal

Vem quem traz paz
Pra mea calmar
Vem rapaz

Cachorro animal
Vendido
Por carinho.porcaria

18.9.19

Almerinda

Almerinda almendrada
Trastomba Flambêbada
Nas noite em beira estrada
Escalavra a meiavidro
Arreaça saia

Deslavra a barranca
E cospe sanga

30.8.19

Não o verão

Não o verão crescer 

não é assim com quase

quão todos os frutos?

Salsa o Verão solar
qual ventro na mesa
arrasão com o braço
a grão solta o ar

entre as tábuas da mesa de jantar
acumula-se um barro sem tempo
esgravata com palito e a perfeição
torna-se lixo nas costas

esquecidas da mão

o mesmo barro que solta
nas pedras entorno
na mesa da calçada
tanto pó e tanta chuva calcada

é só lama é só aluvião
é só sonho de  uma tarde
de verão

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...