30.4.10
Tendões
Sonhei a tarde toda
Com um estilhaço de vidro duma montra
A cravar num joelho flectido
E ao esticar a perna com a dor
A lâmina a alavancar a rótula
Que fica ao pendurão amparada
Nos esfrangalhados tendões
Rui Barbo
29.4.10
Somos o Sol
Com toda a confiança nós somos o sol
Sobremaneira resplandecentes
Igualmente fogosos sobre todas as superfícies.
Os vales escarpados de árvores velhas,
As cidades com as suas tampas de esgoto
Equilibradamente horizontais,
Os olhos das mocetonas casadoiras e os do pedinte
Sem pernas perto da ponte por onde passa, em
Tudo o sol resplande e para todos
É excelentemente igual
Tomás Manso
Corredores
Compartimentos vazios
Tinta branca de areia
Chão de tacos húmidos
Halogéneo nas lâmpadas
Corredores mais corredores
Sons fechados:
Os meus passos,
As traças excitadas
E um estranho rumor de gerador emparedado
O tecto é baixo
E sufoca a solidão
Asma respiração
Sinto-me demasiado perto
Porquê continuar?
Não têm fim os meus passos
Neste oco labirinto
O meu corpo cresce
Torna-se desmesurado de tudo é medida
Detesto o meu vulto
A sua omnipresença desconfiada
E tento humilhá-lo
Vergo-o e cuspo
A redenção não virá
E mordo-me em confirmação
Da verdade
Lúcio Ferro
28.4.10
Massa
Uma e outra vez se corta a branda
Massa e de novo amassa o tenro
Bolo. Incha. Um sopro
Um beijo em movimento
Incessantemente solto.
Abraça, estica o pão leveda
E exala o coração azedo
Da semente lacrimosa
Profundamente macerada,
Esmagado sufocado
Pelas mãos famintas
Eternamente famintas
Zé Chove
Átrios Teus
Átrios teus configurações da pureza, ares de pedra
Colunatas que suportam a tua sombra que sobre tudo desce
Onde os passos ecoam solitários por entre o buxo e as fontes jovens
Colunatas que suportam a tua sombra que sobre tudo desce
Onde os passos ecoam solitários por entre o buxo e as fontes jovens
Lúcia
21.4.10
Folks
Eu vi o que vi
As lanternas só iluminam os nossos passos
E neste rio perdidos na noite
Cegam-nos os galhos dos salgueiros nos olhos
Eu vi o que vi
E as nossas vozes já só se encontram ecoantes
Separadas por montes e vales de escuridão
Eu vi o que vi
Nos reflexos da água escura refluem as memórias
Lúcia
Coração-sicário
Amordacei meu lebre-cão
Vermelho em cilício de adamântio
E atazanei-o sangue enebulizado
Nos interstícios do focinho-arame
E vê-lo assim submisso
Fez coalhar na língua o louro
Do Império sobre o Coração-sicário
Diniz Giz
Vermelho em cilício de adamântio
E atazanei-o sangue enebulizado
Nos interstícios do focinho-arame
E vê-lo assim submisso
Fez coalhar na língua o louro
Do Império sobre o Coração-sicário
Diniz Giz
Focar
Abrenúncio
Clavicórdios de paixão
Abrogo absolto absalão
Rémora engalfinhado golfinho
Núbil ignóbil grácil
Gravoso bálsamo gangreno baleno
Lanudo lineu lontano
Sublimação estampido
Sardoalhos escalpados no pescoço
Clemonceau lamermont
Bulício lamuriento lábio lévre
Lastro trambolho escaravelho
Escalfado esclerótico
O tumulto loiro incontido
Desperta da felpuda boina
Havemos de assistir às agressões
E aos choramingos em pleno metropolitano
Em Havana aos Domingos
As mulheres agarrando as têmporas
Não se esvaia o decoro e o pudor
Resguardai os vossos sentimentos.
Ceifai o viço do vosso coração estiolado
Clavicórdios de paixão
Abrogo absolto absalão
Rémora engalfinhado golfinho
Núbil ignóbil grácil
Gravoso bálsamo gangreno baleno
Lanudo lineu lontano
Sublimação estampido
Sardoalhos escalpados no pescoço
Clemonceau lamermont
Bulício lamuriento lábio lévre
Lastro trambolho escaravelho
Escalfado esclerótico
O tumulto loiro incontido
Desperta da felpuda boina
Havemos de assistir às agressões
E aos choramingos em pleno metropolitano
Em Havana aos Domingos
As mulheres agarrando as têmporas
Não se esvaia o decoro e o pudor
Resguardai os vossos sentimentos.
Ceifai o viço do vosso coração estiolado
Manel Bisnaga
19.4.10
Amor meu amor
Querida acordei em agonia de febre eram 3 e 33 de encharcado suor
Dei por mim sem ti sem teu robe de cetim acetinado e tua pele pelos 50 soprada
E caía caía dum balão sem ti caía de roupão vexado pela população
Que gozava com meu brasonado roupão de turquesa e pelas ligas das meias
E caía e caía e na queda envolvido pela espiral das nossas vidas
Quanto interesse mútuo quanto conforto o aroma do meu cachimbo
Tingia a paisagem de câncro amortalhado no teu cabelo negro recém pintado
Filipe Elites
18.4.10
Sem Fim o Fundo
Catatónicos face ao esfácelo
O mar interior da alma
Sem fim o fundo do Abismo
Vorazmente sôfrego num ronco
A escancarada goela atrai-nos
Mergulhamos e embatemos no espelho
Dum outro pélago o das estrelas
E entre os dois infinitos nos rasgamos
Orlando Tango
16.4.10
Impulsos
O ar tinge sulforosas manhãs de gelo nos sonhos gris:
Os acontecimentos e as imagens presentes são amalgamados e
Trefilados num fuso até que se produza uma só nota, um tom primitivo ancestral que
Ondeia como um mantra até ao infinito, produzindo uma certeza indelével.
Essas certezas que impulsionam a alma. Se sonharmos muito multiplicam-se as certezas e
O corpo densifica-se de inércia e dissipa-se a vontade, a alma passa a vaguear junto
Dos precipícios e falésias sobre o mar com ânsias de infinito, mas
Sem se mexer: a loucura do mergulho
__________________ eternamente
_________ansiado e
adiado
Nicolau Divan
Cabras
Engrossa a destreza de esgravatar o mal o cómico e o desagradável
Filtros ocres que tingem a volumetria do teu quarto
Expandem os valores da tarde escaldante das cabras arfantes
Junto aos muros e se os seus sôfregos galhos se engancham nos da azinheira brava
Ai a malvadez dum olhar satânico transpirado
O nagalho, a faca, o sangue, o corte, o espasmo
Orlando Tango
14.4.10
A Glória é o Peso do Ser
Secreta utilidade
Olhos teus alqueires da glória
Aliviai-me do lastro da imundície
Com vossas mãos peneirai o joio
Com mão branda não
Com a mão firme calibrai a essência Oh
Argêntios dedos bisturis da aparência
E se da podridão inerte
Fluir infrene quiser a paixão...não
O permitas
Se ao menos nos ameaçassem
Os cactos ou as fauces da cascavel não
Tomai-lhe o peso
Mas no vosso Coração
André Istmo
M&M
Memórias amordaçam-me até
À mansão do sono mel morno
Embota-se o murmúrio mudo
Do moldar oleiro do mundo
Lepurino Cornudo
A Importância do Toque
Aparência da aparente suculência do fruto
Esfuma-se ao toque polvorento
Fruto esboroa-se a imagem da grossa maçã
Encarquilha-se em crosta velha
Filipe Elites
12.4.10
Escarpa Catedral do Mar
Escarpa catedral do mar
Flechas de quedas abissais
Faces escarpadas cegas de sal
Vergastadas de glória
Expostas fauces de dor
Rumor gutural-grutural
Escadas de pedra em queda
Do céu ao mar em flecha
Falésia debruçada sobre o mar
Reflexo malabar
Opalinas gaivotas
Gravadas nas covas ancestrais
Em voltas em voltas envoltas e voltas
Zé Chove
Asfixiantes Horas
Asfixiantes horas – teias de eteridade
Bolorenta em que me enleio
Horas-teias que me tendes traiçoeiras
Horas-teias que me tentas
Envolvência nebulosa de enfado
Covas suevas no cavername do peito
Em que me refastelo
Sois meu castelo de deleito
Largo preito
Muros densos de acobreado granito
Bolorento tenso bafio
Desconcentro da realidade alheamento
Lúcia
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