Dois Demónios Fenícios costumavam assaltar as noites dos turistas que se alojavam no largo do Chafariz de Dentro. Esta reentrância na cidade era uma baía de fundação dos barcos mais pobres dos fenícios que não podiam pagar as taxas do cais das colunas.
Os turistas acordavam deitados no lodo da doca seca ladeados de corpos de fenícios decepados. Todas as noites se ouviam gritos lancinantes na emparedada Alfândega. As canções antigas de escravos com fome nos porões de caravelas.
Muitos alemães com a descrença no Führer passaram a consultar cabalístas judeus refugiados em alfama de onde haviam sido expulsos mas que um tal de Sousa Mendes voltara a realojar.
As primeiras discotecas a surgir em Portugal começaram em pavilhões industriais e cilos abandonados na zona do poço do bispo. A Lisnave andava num frenesim, eram os loucos anos do Canecão e do babyboom lusitano entre prostitutas de Famalicão perdidas na margem sul e latagões alentejanos que precisavam de descansar do trabalho nas docas.
Existem dois tipos de ciganos o oleoso e colorido que costuma vender pensos e posters religiosos e o cigano que veste de negro e é desdentado e vende roupa. O oceano sempre foi uma maldição para a raça.
A antiga cozinheira do canecão habituada à fama da melhor moamba com galinha do campo fez uma última moamba com uma gaivota e algas como legumes antes do restaurante fechar as portas. Ninguém sobreviveu a esta última refeição. Uns desconfiam que a gaivota estivesse carregada de radioactividade outro supõem que uma osga tenha caído no caldo outros afirmam simplesmente que a direcção do afamado restaurante era composta por espíritos com uma missão e que simplesmente se retiraram.
Tomás Manso
Sem comentários:
Enviar um comentário