13.7.10

Mareado IV

Graças à exaustão física, esses "quase esqueletos" ficavam incapacitados para quaisquer ações violentas e, assim, "dóceis" às rígidas imposições da instituição.
Além disso, a exaustão imposta funcionava como um tratamento de choque emocional antidelírio: os pacientes enfrentavam, além do sofrimento físico e da sensação de impotência, a impressão angustiante da morte iminente. Uma impressão que poderia despertar neles algum instinto de defesa, capaz de ligá-los, de novo, à vida real. É uma explicação que se aplicaria também a outros tratamentos somáticos ditos "de Afogamento".

“A fé sustem-se também na nossa experiência de realidades adjacentes, inerentes ao acreditado. A fé cimenta-se num revelador de confiança. Sim acreditamos em mistérios.
Perturba mas consola. Perturba e consola.
Já não estamos dependentes das vicissitudes históricas só dependemos da sua Cruz”. Proclamava o prior cigano da aldeia piscatória da Cova do Vapor.

Lopes no seu quarto proibido de falar com a tia louca. Olhou através da vidraça e contemplou-a absorta no prédio em frente dois pisos acima. Quando o viu esboçou um sorriso amável e cúmplice. Em vão tentou disfarçar que a vira, foi denunciado pelo subtil trejeito do lábio e  um arreganhar da narina como se sentisse um mau cheiro. Ela acenou. Incapaz de ser antipático para quem quer que seja. Queria que lhe recebesse uma encomenda. Um simples pacote que lhe fez chegar com uma cana de pesca enferrujada que ameaçava quebrar-se com o peso da encomenda. Suava sob o seu olhar alucinado e amistoso com medo que o surpreendessem falando com ela ou que a encomenda o contaminasse com a sua loucura. Procurava não respirar e ser rápido ao mesmo tempo. Pousou a encomenda na mesa de trabalho, sorriu enjoado em despedida, e fechou a janela. Limpou o suor das mãos nas calças e acometido de calafrios. Os olhos saltavam ao ritmo do coração entre a porta e o malfadado embrulho. Duas cascas de ouriços do mar.

Tomás Manso

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