7.10.10

Extermínio Tropical

As 4 baratas viviam assim num compartimento circular por onde se poderia limpar as canalizações do duche em caso de entupimento. Viviam num rebordo da câmara em betão. Um lugar fresco, húmido e lodoso. Viviam aí e tinham um plano. O primeiro casal sairia de casa em busca da prosperidade e os seus filhos viriam chamar o casal recluso depois da instalação e da bonança que os primeiros assentamentos são sempre tormentosos. 
Assim saíram e entraram no meu quarto que é ao lado do banheiro. Um chão de pranchas tropicais e bolor nas paredes. Peguei a primeira com uma chinelada quando se maravilhava atrás dum vidro gigante com o qual eu viria a fazer uma mesa.
Seu noivo foi chorar angustiado e medroso para trás da sanita. Peguei ele e trespassei-o com o piaçá. E as duas foram descarregadas sob um lençol de papel higiénico para as imensas águas da Baía de Guanabara.
O macho do casal recluso sentindo que o plano borregara partiu em busca duma explicação não sem antes ter aliviado a carga deixando descendência no seio da sua amada. Eu peguei ele atónito com a imensidão do meu quarto passeando como um turista e dei-lhe a provar da farofa nacional com uma chinelada na quitina. Ficou estrebuchando no laguinho da retrete.
Parece que oiço os gritos abafados duma prenha enquanto chocalho uma garrafinha de lixívia e me preparo para visitá-la. No íntimo eu sei que as gerações vindouras vingarão mas agora o extermínio satisfaz a minha sede.



Sor Flamengo

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