24.5.12

Sobre o Terror


Qual será o maior terror? Cada tipo de local tem os seus medos específicos. Quanto mais se nota que o tempo devastou um lugar, maiores as possibilidades que nele se tenha instalado algum tipo de malignidade ou bondade, sim refiro bondade que pode ser tanto ou mais assustadora que as manifestações malignas.  A ancestralidade e a decadência provocam em nós um temor, também tudo que que se encontre num estado mais selvagem. O desconhecido tem um ascendente sobre nós. A desordem tem quase sempre algo de desconhecido. A desordem pode dar-se em vários aspetos, um lugar pode ser muito organizado físicamente, um claustro mas som estranhos ecoam nas galerias como sons chicotadas extremamente fortes num ritmo acelarado ou o som de multidões de vozes dando indicações avulsas num tom monocórdico sem que se saiba de onde vêm as vozes ou se todo o claustro estiver submerso debaixo de uma água verde ou se ao atravessar o claustro de súbito os céus se põem num lilás surreal entrecortado por clarões esverdeados ou ainda se de uma escadaria no centro do claustro que leva às caves começamos a ouvir alguém que chama em sussurros clementes seria também uma desordem se das portas que dão para o claustro começassem a sair lentamente várias bestas felinas de todas as raças que no mundo existem e ao deixarem a sombra das galerias subitamente se atacassem umas às outras com rugidos ferozes.
Sempre que mudamos de meio sentimos uma excitação. O hábito dá-nos um controlo cada vez maior sobre o que nos rodeia. Perder o controlo da realidade é um fracasso ou descuramos a nossa racionalidade ou perdemos a rédea da nossa emotividade.
(por isso nos provoca repulsa a avistar súbito de uma serpente, é abstruso um animal sem pernas e que não faz qualquer som que denuncie a sua presença). Por isso nos assusta profundamente se o telefone toca a meio da noite, felizmente tenho o sono pesado e nunca fui perturbado por tamanha irracionalidade. 

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