24.5.12

Vidas de Merda


A minha vida são estas águas. Sentia-me como um cagalhão de pois de darem a descarga, turbilhão e um sistema branco, duro e frio que se regozija com o meu afogamento. Ficaram só com o meu cheiro que é como quem diz a minha identidade e recambiaram-me para outro setor na esperança de nunca mais me voltar a ver. Por isso admiro a boa e velha latrina, a terra abraça a merda mas constrói algo com ela. Eu trato os outros como merdas mas abraço-os assumo o seu cheiro e segredo-lhes ao ouvido : “juntos venceremos”.
Em casa do meu avô havia uma torneira de descarga sanitária que dizia qiluvio. Em criança eu partia a cabeça tentando desvendar o significado, pensava porque não seria quiluvio, o que queria dizer, com os anos deslindei a possibilidade de ser diluvio ao rodar a torneira e ainda hoje penso na maldita palavra, penso também no diluvio vetero testamentário quando a ira divina puxou a descarga, talvez esteja próximo uma nova limpeza da face do planeta. Vários indícios históricos e geográficos atestam que houve um dilúvio à escala planetária. Recentemente um grupo de cientistas defendeu que os gases dos dinossauros contribuiram para aquecimento global. Penso que diluvio tambem contribuiu para uma renovação do ar.
Penso que vi aqui no Rio de Janeiro uma freira que costumava ir à Missa em São João de Brito. É baixinha e duma velhice louçã que as pessoas de Deus são conservadas numa espécie de juventude sorridente, lembro-me que ela costumava fazer a leitura antes da proclamação do evangelho e muitas vezes fazia a leitura da oração dos fiéis e que na altura de pedir pelos rapazes e pelas raparigas para que encontrassem a suas vocações, ela substituia a palavra raparigas por meninas porque raparigas no brasil se refere a uma mulher prostituta. Lá ia ela na Lapa perto da igreja do Carmo. Sempre sorridente atrás dos seus óculos redondos.
Se o tempo vai passando cada vez mais rápido, entreguemo-nos ao tédioe ao desleixo que hão de tornar a nossa vida mais longa.

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