31.7.12

Odisseia Entre o Seixal e Chelas



E ao longe à sombra das chaminés
da acearia soluçante
as crianças de pés no Coina de águas tóxicas e coloridas
vislumbram:
Chelas que te esfumas
entre baldios com teus prédios anónimos
toda cruzada de largas estradas
mesclada de tantas raças
tanta ignorância em tuas avenidas pardas
Oh cidade cinemática sem horizontes
onde estão tuas quintas
quem rebentou teus antigos muros
abandonaram-te os eremitas
secaram tuas árvores de fruta
Sobrou escrito no tronco da decrépita nogueira:

"Todos os benefícios somados segundo as respectivas intensidades subtraídos de todos os malefícios deixaram-me de bolsos vazios de ponta de orgulho ou recordação prazerosa que me alegrasse. Passei a degustar com felicidade as maiores provações e angústias e o meu peito encheu-se de melancolia e suspiros. Passei a vaguear entre os baldios conversando com os anjos do Senhor e praticando a renúncia. Alimentava-me de raízes e bebia dos lagos poluídos nas redondezas da grande cidade"

Vagueando ao longo da marginal ferrugenta matuto:

acordas no carro, através do volante o sol nasce
em teus olhos e carregas no acelerador em direcção
ao precipício, (prepúcio arregaçado carícias?)
é tão fácil ser estúpido deixar a última gota no pano
no vinho benvindo, (infindo, enfado?)
fotografo as filhas do vizinho
(um suspiro?)
um copo de água e bochecho, talvez puxe um escarro
caio pelo precipício e principio um novo percurso
regressivo, tropeço em todos os escolhos (do meu futuro?)
e engulo todos os momentos do meu passado que não cheguei
a viver e afogo-me num presente que não deveria (ter acabado?)


Tem que ser um bocado cabrão. Algo que desperte. Uns clips pornográficos.
Uma provocação dos instalados. Um safanão na filha do colega.
Uma javardice com as crenças dos pacíficos. Uma granada deitada ao lago dos patos.
Ou diria, ou melhor falaria, ou passaria eu por um outro sistema de ver a realidade.
Encarno? Primeiro descarno. Dobro. Rasgo. E fodo.
E alivío oh se alivío!
Que o cadáver já boia no rio. Tingindo as margens dos humores de putrefação.
Tingindo as margens onde as pobres mulheres entre os canaviais lavam as camisas dos maridos…
e eu canto-lhes de mansinho:

dá-me as chaves deixa que te aparte desse momento
dá-me as chaves do teu silêncio
impertinente almejo o teu segredo
dá-me as chaves do teu apartamento

Recomendação:
Para uma renovação do electro pop em Portugal

Integrando valências do Grime, Dub acente nos valoress clássicos do Dance-hall e derivantes do Disco sobretudo a versão Italo.
Cantão alemão / Italiano

tipo:
Uh nhaf nhaf zu
Uh nhaf nhaf zu
Irg lhaf lhaf ver
Irg lhaf lhaf smer
I never break mirrors

Som som som intenso tom
Rum rum rum fill the room
Tum tum tum bato coraçum
Como com cum a tensum


ANAGRAMA
ANAGRAMAS
ANAGRAMASME
ANAGRAMASMEL
ANAGRAMASMELANCIA
ANAGRAMASMELANDCIANETO

Ale e Ele e Ela

Ele bate ela sai
Ele corre ela cai
Ele toca ela vai
Ele coça ela ai...

Ele chora ela ri
Ele troça ela a ti
Ele droga ela sim
Ele moca ela ri

Ele choca ela em si
Ele choça ela aqui
Ele goza ela ali
Ele louva ela alá
Ele implora ela dá

Elektro choque

Bizarre pizarro
Sonhos matam
Batatas matam
Ruas matam
Famílias matam
O dinheiro mata
Drogas matam
Alcool mata
A pátria mata
Escola mata
Tou ma cagar
Vai-ta matar
Ciganos matam
Preguiças matam
Sujar matas mata
Comer demais mata
Tudo demais mata
Sonhar mata
Tou ma cagar
Vai-te matar
Não te me esqueças.
Today i didn’t take the bus
Indecisions and perplexion
Froze my steps people
Door and I just do nothing

Just Fucking Tell Me What To Do

Nemátodos
Richtig Oder Falsch

Bla bla bla da cla mitá
Faq faq rag ma grasca la bita
Ssa ssa sol ep tadrá clash crack mitash

Fra fra bra ma la drap
Papcrag da mast xa la fae ah fae ah
Umblap catrá bap ba la bap bap bap

Ras ras ras ars ras ras
Ras ras ras rsas ras rasgás palavras
Gásgás gás gás gásgás gastas palavras
Pá áp pá pápápá pá pá para com isso pá pá
Just fucking tell me what to do.

Som som som intenso tom
Rum rum rum fill the room
Tum tum tum bato coraçum
Como com cum a tensum

Horen Antworten
Arbeit Lehrerer schue ich heisse
Abendessen früshtucke
Stunde es regnet tut
Mir leide lielings sind
Zeitgeist

Einkaufen mit dem rad
Ge+mach+t
Perfekt
Sehr Gut

Fernsehen
Matharbeit
Eine stunde – durante uma hora
Ich heiß Fábio. Ich bin 28 jahre alt.
Ich habe eine Hund.
Meine eltern heißen Fávio und Fábia

Losango amoroso
Um estúdio em malta
uma palhoça em Capri
9400 Merdapíxeis

Passadiço não pissadaço
Passadiço não pissadaço
Passadiço não pissadaço
Passadiço não pissadaço

Buncker em neuchatel
I’ll keep dancing on my own
I’m not the guy your taking home
I lost my faith in science
So I put my faith in me
Make it out on the train
Got this little girl singing
On repeat in my head

falência do mundo da música
fuga ao fisco
prisão-humilhação

Sou o ex-presidiário
Liberto à sombra do muro
Num escaldante dia de Junho
Trouxa vazia ao ombro
O que é que eu faço?
Já tou às portas da cidade
Algo me diz que me afaste
E o corpo que esse se cale
O que á que eu faço
As estradas refletidas
Nas lentes poeirentas
E as canções das cigarras
Secas na garganta
O que é que se faz?
chuto os contentores de lixo

Entalado entre dois camiões contemplo o escrapanoso baldio à minha frente onde dançam entre os arbustos secos e sem nome os sacos de plásticos papéis de uma feira recente. Ali fico vigiando num torpor a miragem do calor sobre o asfalto e a terra quente tudo ondula ligeiramente e todos os limites das coisas parecem ondulados de calor, os arbustos, os postes ferrugentos, os vultos ao longe carregados com sacos de compras. e nesse transe memorou:

Medrou nele a veia poética. No dia em que teve de escrever um requerimento ao reitor do seu estabelecimento de ensino a fim de que lhe reavaliassem um exame, aí, foi o flagelo da lógica que despontou. Na manhã seguinte tendo sido acordado pelo avô jazendo ébrio ensopado em vómito à porta do elevador do prédio esboçou uma máscara de sofrimento, aí, despontou dionísio.

relembrou amores passados:
A besta bonacheirona à segunda tentativa logrou conquistar a beldade envergonhada da sua condição social. A submissa. Aquela com que vários homens sonharam e preteriram por não trazer vantagens financeiras. É uma bela moça. O bonacheirão já fora casado com uma gordita que ao sentir-se instalada começou a expandir-se dentro das licras e a descurar a frondosa penungem que então lhe começou a vicejar na papada do pescoço tendo numa fase final encapelado em forte barba.

Pelo carinho que a viu empregar
Na ajuda da criança desconhecida
Que resolvia os deveres no ondear do autocarro
Instintivamente compreendeu
Que a rapariga não poderia ter filhos
E se entregava com todas as potências

Fervilhou no rapaz o amor de compaixão
E deixou arrastar-se pelo olhar
Dom da infertilidade mais fértil.

E não mais podia viver sem ela
Querida acordei em agonia de febre eram 3 e 33 de encharcado suor
Dei por mim sem ti sem teu robe de cetim acetinado e tua pele pelos 50 soprada
E caía caía dum balão sem ti caía de roupão vexado pela população
Que gozava com meu brasonado roupão de turquesa e pelas ligas das meias
E caía e caía e na queda envolvido pela espiral das nossas vidas
Quanto interesse mútuo quanto conforto o aroma do meu cachimbo
Tingia a paisagem de câncro amortalhado no teu cabelo negro recém pintado

era a musa dos seus poemas
Aparência da aparente suculência do fruto
Esfuma-se ao toque polvorento
Fruto esboroa-se a imagem da grossa maçã
Encarquilha-se em crosta velha

o amor gera tensão, tensão que explode
Virou-se para trás e esmurrou o puto. Pumba, pumba, pumba. Sangue no vidro e silêncio – sinais exteriores de mudança no semblante ranhoso. Por o dentro o consolo do enquadramento pessoal num papel social de encarregado de educação como justificante. E para sublinhar o papel formativo prenhe de razão volta-se, o braço direito agarra a cabeceira do banco, o rosto sereno e assesta-lhe um soco na testa. A paz interior sussurra-lhe “a vida não está para brincadeiras”.

Como é que um olhar pode
Transparecer tanta esperteza
Concomitante com tanta lerdice
Pois lá vai ela abanando a cauda
autocarro fora mascando o resto
do seu cérebro. Uma coisa é verdadeira
o sorriso era falso.

chegava entretanto a noite e as pernas queriam andar
o corpo queria algo indefinido
acendem-se as luzes nas ruas desertas
e o bafo guardo nas entranhas da terra liberta-se
os grilos e cigarras gritam com força
ao longe ruge esparsamente o arranque dum autocarro
mas as ruas estão desertas
acendem-se as luzes capturando outras formas de vida

os pensamentos vão caindo com a cadência dos passos
como uma oração ou um diálogo que se tem com as coisas
alimentado pela visão e pelo relentim da alma

Um som estranho deve soar primeiro
Uma baforada de incerteza
Que desperte a curiosidade
Um ronco vindo de longe
Aveludado e ancestral
que hipnotize rasgando as planícies da memória
e desperte a vontade de “dançar”
dançar enquanto acto essencial
de expressão dum sentimento
que as palavras não saibam dizer
que o cérebro não saiba formular mas
que um frémito irreprimível da vontade
se derrame em calda de movimento interior.

E vai caindo a noite
tudo cai nos extremos
tudo provoca sensações extremas
porque à noite ou se tem muita luz, um brilho intenso
ou se vive na escuridão

E como um sino longínquo chegam-me à lembrança o Eleanor Rigby,
rituais de ablussão e imagens de salmões sorridentes
saltando um rio qualquer sem ursos que os abocanhem

"Através da cidade esférica
na sedosa limousine
és o fulgor na bracelete metálica
no cetim indiferente nos lábios da lepra

és o balançar da city desperta
és o balançar da desgraça
sem sexo sem cheiro sem identidade
glamour inebriado um miasma
uma convulsão a morte sem dignidade
um perfume despedido pelas ruas da cidade"

"Carinhosamente ou meticulosamente compões o alinhamento e a côr perfeita a dar às frases de forma a não magoar ninguém e a todos convencer. Poderemos viver com menos depois de nos embrenharmos na fartura? E uma vez sentidas todas as costelas do torso terás empenho suficiente para suportar a engorda?"

De peito cheio percorro a alameda. O queixo ligeiramente levantado, os ombros gingãos e a leveza de espírito. Tão cheio e tão leve... escorrego na relva húmida. Um segundo; a mão que sai em defesa aparasse num cagalhão com aparência de salsicha e consistência de diospiro. O adónis perde a parra. Fechem as portas do museu.

oh cidade cidade
quem fala assim são os teus filhos-dejetos ajatos
Na segunda sessão profetizou o início da idade do ócio. Como estado livre e alegremente procurado. Com o advento do Progresso Automatizado o homem deixará de pensar no futuro absolutamente confiado de que o melhor possível lhe será dado pela Máquina. A Máquina não é racional, a Máquina não é passional. A Máquina é Estatítica. No número depositámos a nossa confiança com carácter de Fé. Seremos embalados porque não haverá Injustiça...

caminho pelos becos e ruelas sem saída para onde deitam os halogênios das cozinhas...

Branco-halogénio
restos. a laranja violentada
sobre o mármore da cozinha.
o sumo reprimido com pudor
se aflora aos citrinos lábios.
A pele é derramado leite
apodrecendo sobre a bancada fria
o corpo inerte como farinha
não leveda
esfriam-se as cores nos azulejos
sem reflexo

revelações

reverbera nos milénios
atinge-nos a todos por igual
dispersos por filmes rezamos
que não se enrodilhe a fita

ecoam as vozes em salas
insonorizadas nunca sentiste
girarem-te as voltas
liberta solta não deixes que parta

sustém a dança abranda
se tensa - é só escuridão
é só escuridão - a agulha é
aguilhão amansa segura
nas pontas

cinemática teia de veludo
perdida nas cabines da vida
revela distorce corta e seca

e a noite continua fresca cheia de começo cheia mistério
e a melancolia embebe-nos desde as pálpebras
dos olhos até à franja das calças

e

Quando misturo
Sentimentos de culpa
Com o pouco sono
Traço com mais tristeza
O desenho do desalento
E de estupidez inocente
Dos rostos do outro lado
Da estrada junto ao semáforo

Contemplo em contra-picado
Os tectos estucados
Dos palacetes vagamente moçárabes
Das avenidas quando volto dalgum trabalho
Acendem-se candeeiros aos centos
Acolhedores de memórias
De vidas quase sempre
Com vias pouco
Definidas

Chelas que me viste vaguear nas tuas avenidas por onde o Tejo sopra

Bem me fica memorar-te Chelas
Como os amantes que ao perdê-las
Suas amantes desejam vê-las
Em mil reflexos de mil janelas

Pouco resta no saco
é infindo o asfalto
vou enfim passo a passo
Pelas estradas de chelas
sem ver as estrelas

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