9.2.15

Cidades Baleares ou Baleáricas?

vamos abandonar as cidades sem medo de ver sair dos nossos bolsos todo o dinheiro que elas nos dão
vamos montar cidadelas nos terrenos abandonados dos ermos onde nos parecer mais sustentável
e belo para criar nossos filhos deixe de combater junto com seus vizinhos o peso das instituições
e deixe-se combater solitário pela natureza que só quer segurá-lo como às crias pelo cachaço seguram os gatos



estabilizo acalmo-me imaginando as cidades
baleares desertas calcinadas de apartamentos
onde o bafio de verões mortos ascende das tubulações
descolo-me das paredes com estalos de papel
espiava os bares dos que aguardam o retorno dos turistas
sorrindo no sonho das coxas das nórdicas escaldadas
pouso como uma gaivota na praia gelada e conto os detritos
palitos de sorvete, garrafas, trastes de algas negras
o sofá e a luz triste que não ilumina ninguém todo o ano
a disposição clínica  dos alumínios de sorvete
sinto pena de todas as javardices tradicionais que a higienização do governo extinguiu
alguns bairros infernais cheios de áfrica e drogas e prostituição
alguns petiscos passarinhos fritos, coiratos mal barbeados
lembras-te pedro? ninguém te conhece mas a ti me dirijo
como a uma lembrança boa que só eu identifico
imagino as migrações da burguesia pelos bairros de Lisboa
bairro de são miguel benfica, telheiras, alvalade, areeiro
esquematizo estes mapas da minha cidade no coração e canso-me de cartografá-los enquanto trabalho nesta cidade do rio de janeiro
traço os mapas dos operários que vagueiam entre chelas e algés
toda a informação nos chega agora sem custo e sem necessidade
ninguém bate palmas ao poeta?
ele declama eu sei que almas o rodeiam
mas ninguém aplaude…
derramam informação às portas dos ouvidos e turbilhonam-na contra os olhos que se deliciam com a pornografia
dos mapas de mundos que não nos interessa nada
são terrenos de esquecimento em que lavram afincadamente especialistas
somos ossadas acampadas nos montículos que são as cidades
são cemitérios que por preguiça não abandonamos
no seu abandono elas tornam-se entidades iguais às palavras que ninguém usa como salsugem
quero visitar de surpresa todas essas cidades que se pensavam hibernadas
fazer espalhafato nas praias e discotecas vazias
comer batatas fritas e hamburgers e ketchup  coca-cola
nesses dias de inverno gelado e mar violento
quero andar nos mercados de verduras e peixe
falar alto com as vendedeiras para que se imaginem no Verão
quero deitar-me na areia fria da praia e espantar os bandos de gaivotas que acampam nos areais
quero despertar o Verão no Inverno instalado
quero assar pimentos na churrasqueira empoeirada e enferrujada
quero recolher os panfletos dos supermerdados esquecidos nas caixas de correios e triturá-los e lançar uma chuva de papelinhos vermelhos das coberturas destes edifícios dos anos 60 côr de beata pisoteada
lançar esses papelinhos como uma dama de honor
que abre os passos à chegada da  noiva primavera
e depois chorar porque sem gente não me consigo divertir

não desculpem não era isso que eu queria
queria pedir uma sopa fria numa tasca agora que não tem glamour
meditar junto ao paredão que adentra no oceano onde as meninas bem vêm namorar no Verão
e meditar na função destes leprosários de Verão para ricos que se dão
ao luxo de ter férias
enquanto alguns povos se desintegram noutras beiradas do planeta
sentir a violência da realidade do mar enfurecido
de que tudo morre
que as habitações perdem as almas
e as tubulações fedem a morto
as gelatarias ressecam
os playboys se esvaem em sangue e
as beldades murcham de sida
e a as drogas, bem, das drogas não me atrevo a dizer nada
que bela invenção é o turismo
que escola de emoções e que belas lições de vida
divirtam-se sintam-se americanos ainda que por dois dias
e chupem um mini milk a pensar em mim
beijos, cactus na bunda e escaldões nas dobras das orelhas
voltadas ao sol de Verão é o que vos designo

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