As areias pesadas da praia da figueira da foz
que se demoram a chegar ao mar e nos atrasam
o lá chegar
levantam-se com o mínimo vento
começam junto ao muro da marginal onde cheira a mijo
e onde dizem que no inverno chegam as ondas do mar
as areias amarelas e tontas de calor
arrastam-se passando pelas barracas
em direção ao infinito que se estende debaixo das ondas do mar
imagino mergulhar nestas areias quentes e tensas de pó calcário
e mergulho sempre abrindo toda a extensão da costa da praia até ao mar lá ao longe onde se vêm tão pequenos aqueles grandes navios
bate por entre os grãos da areia
como um rumor bruto
o homem seco em busca dum mar interior
e os grãos de areia
ribombam no seu corpo
de encontro ao peito dolorido
embatem impedindo os esforços de mergulhar
de sentir a envolvência fresca do mar
e sofre os embates e o aperto dos milhares de grãos que o engrenam na multidão
e o secam de dor e penetram
enrijecem-no na aquela areia húmida que cheira a mar bafiento ou tabaco demolhado
adentram as covas dos olhos e punçoam o seu cérebro picotam os seus lábios e esterilizam-no em sal e cadáveres calcários
a areia prende-o e ele só queria morrer afogado no mar
fulminado desejo que enrubesce a pesdra e ribomba em unissono com as longinquas ondas que se esmagam no areal da praia
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