19.3.15

em jeito de despedida

escreve na terra seca com o dedo molhado na saliva
e o pó levanta-se como uma nova lei
ou escreve com a unha mais crescida do dedo
como um cigano
escreve entre gemidos sob uma pauta de ódios
escreve com os olhos cheios de sangue

Só flores agora e coisas belas céus extremamente abertos
com passagens de cores que me arrancam suspiros
animais pequenos de que ninguém tem nojo
todas essas beldades gratuitamente na minha frente
aperfeiçoando a minha tarde
e vários jantares encomendados representando
gastronomias de diversos pontos do orbe
sem pressões
imagino-me esfregado em mil massagens diferentes de acordo com diversas técnicas milenares
e roupas todas de tecido cru
e uma casa simples com vários pátios em que se vive mais lá fora que dentro
perto de cascatas e vistas e paisagens de tirar o folgo
e dinheiro para sustentar tudo isso sem que ninguém saiba de onde ele vem
e o aconchego de várias religiões que me pedem doações pelo correio prometendo-me paz interior
e acariciar todas as catástrofes naturais, banhar-se em água de tsunami
secar o cabelo numa tempestade de gafanhotos, aquecer o chá em lava viva
gritar para ouvir o eco em crateras de permafrost
e ter vários filhos com todas as mulheres importantes e ensiná-los a ler
e ter vários projetos artísticos
e um corpo de Adónis e conviver com tecnologia de ponta
e argumentar com os donos do mundo
e estar sempre feliz

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