7.5.15

Casa

Era uma casa de acumulos
onde tudo se acumula e o tempo não passa
onde se espera que apenas o tempo do esquecimento exterior passe
e vença a sensação de que ninguém nos note
para que nada exijam desta casa e ela possa assentar em paz

toda a arte é amontoamento, criação de bases, dispersão de enfoques
descoberta de atalhos
acumulamos experências, desejamos reconhecimento das nossas originalidades
e isso é ser artista, aspirar a um reconhecimento lento no tempo do valor
da forma como pensamos o mundo
essa forma de olhar deve ser original mas sem vir do acaso
buscar o original racionalmente ou abusar da razão até que azede
e corrôa as matrizes da realidade

eram salas e salas de acumulos
uma de livros empoeirados (que imagem tão gasta, tão gasta que peço que a apaguem
juntamente com todas as ideias secundárias alapadas dentro de parêntesis)

havia salas com muitos tipos de paredes
e entre as paredes descansavam lagos com diferentes cores e transparências
onde se mergulhava para outras salas que soluçavam
em pátios com paredes estucadas lavradas em combustões geométricas

e brotavam de dentro das salas cheiros
que dançavam cebolafrita e terramolhada limão e pão no forno
e cheiro de casa de férias fechada e formol e cheiro banho e cheiros podres
de paredes mijadas paredões batidos de sargaço e óleo de barcos

e havia acumulo de tetos
uns de telha outros de cimento bem baixos uns descascando de gesso
eram esteiras bem planas onde dormitavam de noite as escravas

Enxergamos ao longe através de gastas placentas

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