Volto a casa depois deum dia de trabalho no Rio. É feriado em Niterói e as
ruas estão desertas. Os ventos correm na Amaral Peixoto e sinto-me ridículo. Só
eu tenho emprego nesta cidade? Os vagabundos sumiram das praças que parecem
maiores sem pessoas. As chuvas arrastam tudo o que é mole. A cidade fica dura e
brilhante nem que seja só por uma noite. Subo o morro desejando ter abertura
para que mais pensamentos e sonhos escorressem pela memória. Até nisso somos
limitados. Não comportamos mais que 2 ou 3 imagem em malabarismo mental. Num
setor pensava em Artur, Merlim e na Inglaterra pré cristã, no outro setor
equilibrava um desanimo pessoal por não concretizar nada, noutro vórtice negro
pairava a sombra das dívidas e via o sorriso negro de múltiplos credores e a
dependência de trabalhar para patrões malvados, tentava empapar tudo num ritmo
tipo doors – killer on the Road, de facto chovia como na música, a alegria de
ter uma família rasgava-me um sorriso na cara, no centro do peito tentava
compreender a angústia dos deportados para os gulags. Riders on the storm. O
Nick Cave dizia que escrevia como um espectador atirando para um palco
imaginário personagem antagônicos e esperava que interagissem. Dificilmente o
antagonismo vem empapado de amor. Existem versões do The Wasp (Texas Radio) em que se entendem melhor as palavras do
shaman. Penso nas cidades irmãs: Niterói, Almada e as cidades dos pântanos da
América negra é um amalgamado de soul, repressão, negritude e lama que nunca
seca. Funk, Alligators canoando pelos canais da seca do bacalhau nas imediações
da praia da luz onde escovam o casco dos navios, porta de entrada de drogas
leves e berço de raivas por chegar sempre em segundo lugar e por ter méritos
concedidos por complacência das cidades maiores das vizinhanças. Subo o morro
em paralelepípedos de basalto talvez trazidos dos açores ou serão de gnaisse?
14.8.15
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Estava à espera de comentários acerca do oriente :)
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