14.8.21

Cerejas Verdes


forcei um pouco em busca dos teus lábios,

O terreno irregular conduzia correntes,

de ribanceiras de gelado veneno

O xisto aprumado das levadas

arrebenta o beiço animal esventrado

cães selvagens dos montes  uivam porque este ano

o mel está estragado


E ainda mal começara a viagem


Brilhantes lagos refletem o horizonte,

a dois a solidão partilhada de inverno

Sopravas no meu rosto,

teu vento norte

no granito distraído do meu rosto

Beijo a lama enganado,

o fel das azeda despenha-se na garganta

e é primavera


II


espreguiço-me,

oiço a água do teu duche,

a luz rivaliza em brutalidade

com a sombra no pátio


O sol esturricava os carros na praça

riscam de negro saguão 

Cheira a cano e são frescos os corredores

de acesso aos elevadores

na mesa do porteiro deescançam antigas faturas de electricidade e do gás

escadas sobem de tétano

Lá em cima as telhas despenham-se de ferrugem


a olhar a cidade as luzes e o jantar

há muito que aqui não chega o teu correio


escondido,

o teu tesouro que te tem trazido na solidão.


o chão de grelha enferrujada 

o frio distante das máquinas 

um gesto mal calculado

A grande basílica varrida por varandins técnicos

ecoa o mais silenciosamente que lhe permite a pedra


III


chapinhas fresca nos seixos

toda a pele rasguei

para a conquistar


paixões não as quero gastar

sentidos sob o teu comando

meu orgulho em tiras


Desce a memória do desenho do que se quer ser


Oiço a voz 

toca a campainha,

soltos em círculo

arrancamos as ladaínhas

rodamos e rodamos

aspergimos nossos passos


Um Castelo

pequena galeria de fogo

não me abandones,

ondas sensuais

o glaceado olhar encova a lareira


E quando aprendemos a rezar


estilhaçados arfamos na poeira prata

que desprende das asas da gaivota

é mar é madrugada 

 

Tempo do sonho

Arcos terrosos de ruína

tudo brilha despido

nu, resplandece da mais límpida tristeza


as asas do morcego matizando as sombras

O sino reflete no empedrado...

o desmaiado da torre

o frio da aldeia esvai-se em bruma pelo vale toda a noite


enregelados brotam aos lábios rezas

a batalha mais importante

sente o gozo de vencer

a noite clara

a serra já tomada

O cume não se vê


os becos da imaginação irrequieta.

textura do cheiro da noite.

manda no corpo 


O cinzeiro 

a maresia e os sons inesperados


O arrepio de incerteza

uma figura esboçada no pó da terra


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