Pode o homem viver dessas poças que evaporam
nas rochas expostas pela maré
evola-se o marisco, aquece a água
perde-se o olhar em tanto brilho
mergulha a imaginação nessas esculturas do explosivo mar
desvendam-se no Verão os labores violentos do uivante inverno
deleita-se o homem também ele salgado
recoberto de viçosos limos e aguçadas lapas
poderá sobreviver aqui alguém? alimentando-se de anémonas
e raiados caranguejos?
não falta sustento ao sonho!
adormece-se de peito quente no sufoco do sol a pino
rasga-se a pele nas arestas vivas dos rochedos
e o sangue dançando pelo mar é engodo para cardumes
de minúculos peixes
as límpidas águas aquietam-se sem nunca se alisar
o calor suprime o vento
as galerias de pedra de estagnada água
voltemos a contemplar
tudo o que é vivo se esconde ou emula
com movimentos rápidos
e os cristais de piscinas milenares
meandros, bojos, paredes, arcaboiços, chapadões
refegos, cúpulas, nichos e todas as formas onduladas
da imaginação feitas pedra rasgam e moldam-se te pelos olhos adentro
e disso te fazem viver?