5.1.09
Nuvens e Rochedos - 2nd Round
Infâncias outonais varridas de vento
E agressivas urzes
Eu por perto e tu tão dura
Forço por te alcançar no Inverno
Entre lamas revoltas
E o cheiro a chuva num céu tão cego
Sorris no verão mais solta e loira
Em feno de suave encosta
E cegas-me de sol e oiro
O fruto da primavera que rescende no teu dorso
É flecha vermelha liberta sobre a imensidão
Reflicto em onda e luz a escarpa do teu rosto
E estoiro
André Istmo
2.1.09
Terreno
conquistado às margens do rio
viceja com loucura no estio
rebenta em gretas no inverno
o solo macerado de aluvião
marcado na alma de lodo
é branda carne dum garoto
o barro em que moldas o coração
é o bastião em que assenta a vontade
a fortaleza jorra dum coração apaixonado
André Istmo
1.1.09
De Herodes
Estremecendo como a verde cana
Prostrado sob o teu brado
Aplanador
A plena dor
Vejo-te vires a mim
Sereis por ventura meu guarda
Meu irmão
Recolher-me, vaguear os desertos, de mim mesmo me vingar
Qual consolo
Talvez fechados de noite em cárceres lado a lado
Me reconforte ouvindo o teu sono
Lá fora oiço sobre o lajedo as asas de espadas
Do nosso anjo
André Istmo
23.12.08
Boi Faminto
de espinhosas rochas àguas lacrimejantes
mais loira sobre as escarpas
onde chapa o verão os estratos ósseos secos em pó
ordeno ao mar que te cinzele as pétreas omoplatas
prenhe da luz que cega o boi faminto
choro regatos gravetos vicejantes
André Istmo
Nuvens e Rochedos
Infâncias outonais varridas de vento
E agressivas urzes
Eu por perto e tu tão dura
Forço por te alcançar no Inverno
Lamas revoltas
O cheiro a chuva o céu cego
Sorris no verão mais solta e loira
O feno da suave encosta
E cegas-me de sol e oiro
O fruto da primavera que rescende no teu dorso
É flecha vermelha liberta sobre a imensidão
Reflicto em onda e luz a escarpa do rosto
E estoiro
André Istmo
19.12.08
Ordálios?
Que o indizível nos sobrevenha
E abafe o sólido choro
Algo terrível que nos ilibe de toda a culpa
Que emudeça a erva e nos impeça
A vontade
Per i morti reggio emília
Represálias – Sandálias
Comprovo que (deservo) mereço
Toda a dor todas essas dores
Não insisto mais na forma, desisto
Corta o ramo dum só golpe.
André Istmo
10.10.08
il cuore e la libertà
se não há uma rotina
uma vontade forte um esquema
sobrevirá a tirana rotina
de il cuore e la libertà enferma
André Istmo
28.8.08
Éden
Também somos esse Gan
Não tem de correr a fonte
São necessárias as árvores de fruto
A fonte ao centro do jardim murado
Ínflasse a analogia
Transborda a realidade do cálice
Enche-se de aromas o jardim
André Istmo
23.7.08
Vertigens
da desolada aldeia
é casa de aranhas
contemplo os campos celestes
sentado numa ameia
perto duma densa teia
à vertigem que revolve as entranhas
dobro-mesobremimmesmo
e caio desamparado na teia
Ivo Lascivo
7.7.08
2.6.08
Servo
Não me deste
Todo o tempo neste dia
Para fazer o que queria
Nem sequer chegou o tempo
De a tua vontade alcançar
De estares comigo
Deitei-me pois sozinho
Com a sensação
De a dois senhores ter servido
E sem senhor no coração
André Istmo
19.5.08
Haceldama
Haceldama
Submergiste a imensidão dos teus caprichos
Com o bálsamo do seu amor
Colado à pálpebra dos olhos
O abismo entre Lázaro e o Rico
É grande mas na terra era pequeno
Ter sido os melhores
E os melhores os priores?
Também lanças trigo bom para debaixo da terra?
“O coração é tudo o que há de mais astucioso.
E não tem cura.
Quem pode conhecê-lo?
- Posso Eu, que sou o Senhor: penetro os corações
E aprofundo os sentimentos, conforme o fruto das suas
Próprias obras”.
Um gesto pode inverter uma atitude
Bastava um pão dum lado e uma migalha de ódio
Do outro e ao contrário perante o abismo ficariam
Abismo que era um portão
O coração é tudo o que há de mais astucioso
Ou no triclínio sob tectos rebocados
Sempre sentiremos repugnados
As lambidelas dos cães impúdicas
Nos lambuzassem os olhos
E deixássemos de ser cegos
Amicus Dei essem si voluero
André Istmo
13.12.07
State of Things
bolsos e ânimos rotos
dois vultos para cada lado.
Horas e horas às escuras
No café. Fechado. Na penumbra
desfocando os transeuntes
lá fora o frio das geleiras
e as borras frias
entumescidas no cinzeiro
cornetas fogosas de orgulho ferido
memórias a dois sem trilho
dissipadas nas neblinas da floresta
passos solitários penando o troço que resta.
André Istmo
5.11.07
Crucificado
mar engole e logo sopra
paixão que inflama quem ama
insuflada a pulmão em tensão
cravado entre o céu e a terra
André Istmo
3.10.07
Mosteiro Abandonado
perdido na serra
escondido entre a respiração da vegetação
voto de silêncio eterno
pedras nuas
fonte fresca
só vivem as campas dos santos
recorte austero
pobreza em voto consumada
sol, chuva, granizo
espinhosas silvas mortificam a matéria
e a cruz ao alto abraça os céus
André Istmo
1.10.07
Mast Qallandaer
Pernas sobre o tapete
O tecto de barro tosco
No fogo ancestral o chá
Falamos e fumamos
À noite
Quentes e alegres cantamos
Rasgamos a garganta em louvor
A Deus dos céus e da terra
Abraçamos os nossos filhos
De madrugada
Gritam os pássaros
Acordam as crianças
Tudo brilha cheio de cor
A felicidade palpita nas veias
da aurora
Ivo Lascivo
14.9.07
Blocos
longe das casas e do céu,
fica perto o horizonte.
Nuvens que esmagam as montanhas,
montanhas que choram em silêncio.
Piam tristes as urzes crestadas de seco.
A minha única companhia são as minhas mãos,
Respiro estas pedras seculares,
Sinto o frio com uma dor insuportável.
Oiço os meus passos com um atraso de séculos,
Caio de cócoras agarrado ao ventre,
Faço lama das minhas últimas lágrimas,
E nasce uma flor branca defunta.
André Istmo
Cortinado de sarapilheira
anos oitenta com mofo
e flores cor de laranja
sobre um papel de parede
imitando barrocos azulejos
à beira da marquise de alumínio
Ivo Lascivo
Caiu no poço
sua mãe destroçada
desfaz-se na berma
espancada pelo marido que a ama
começar de novo com lágrimas
Ivo Lascivo
1.9.07
Hoje não há nada
está tudo desvendado,
já não temos trevas,
só o poder, o dinheiro e a fama
e a santidade.
André Istmo
Convento dos Capuchos
palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...
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