18.7.07

Alpendre_4

Lavada era como estavas,
Ainda fresca a cheirar a sabão,
Esperaste por mim ao sol junto do estendal.
Misturando o teu cheiro com o da noite e o do jantar,
A lua já subia quando te segurei por trás,
Beijei a tua face tenra e bem cheirosa.
Dançámos lentamente para casa,
A mesa montada no alpendre.

Zé Chove

Tentei

Tentei segurar a rápida queda,
Ajuda-me por favor,
Caiu desamparado sem rede.

Henrique

Sou o Rapaz

Sou o rapaz da terra das sombras.
Poemas de paixão que não dizem nada,
Palavras bonitas coladas pela sua beleza.
Sou uma besta de merda,
Poemas de rua assentes no macadame,
Palavras negras cravadas na realidade.


Mário Moscva

Acabou de Chover

Acabou de chover, o sol brilhou,
Cada brilho deixava um rasto até aos meus olhos,
No silêncio matinal senti a tua falta.
Puro amor, puro ódio,
Pura destruição, pura criação.

Lúcia

Duas Notas

Mergulhado no silêncio que lhe havia de dar a morte.


Valsinha noitinha.


Diniz Giz

Cocei a

Cocei a garganta sofregamente com um som de estertor,
Mexi os lábios mas não sai nenhum som.

Brás

Passaste

Passaste sorrindo brejeirona,
Pelo meu pensamento distraído.

Filipe Elites

Açores

Entre florestas subaquáticas, trespassadas
por raios perfeitos de luz solar,
Senti uma paz inesquecível,
O azul intenso e infindo envolvia-me.

Madalena Nova

"Back Alley" by Anne Hart

17.7.07

Castelo Abandonado

Castelo abandonado no alto do monte,
Pedras vazias em silêncio,
Ao longe o mar num raio de sol,
Suportado por urzes raquíticas.

Muralha de força abatida pelo vento,
Rochedo calado pelo chilreio dos pardais,
Aspirei profundamente o cheiro,
Urzes mar pedra terra história guerra e paz.

Estás morto no pó da solidão,
Ossos negros cortam o meu horizonte,
Dentro de ti me vou esconder,
até ao dia em que o sol não nascer.

Brás

Complicações Venezianas

Complicações venezianas,
Corríamos com a boca cheia de esparguete á bolonhesa,
Por canais fétidos sob o sol mediterrânico.
Alguém gritou “arriverderci”.

Ri-me bêbado e cuspi sarcástico “ciau puerco”.
Arcadas de são marcos alagadas,
Chapinhando de calças arregaçadas,
Fugimos loucos de mota de água.

Na Ponte das beijocas, fui contra a pança do Pavarotti.

Mário Mosca

Morremos

Morremos juntos naquele acidente.

Zé Chove

Voz Roufenha

Voz roufenha de canhão,
Longas batalhas atrás das costas.
Deitado com o nariz perto da tua pele,
Aspirava o meu bafo devolvido encorpado com o teu cheiro.

Chorámos agarrados um ao outro sem nenhuma razão definida,
Só a certeza da dor.

Brás

Assustei-me

Assustei-me sozinho trabalhando noite adentro,
Com uma pequena mariposa desajeitada devolvida da escuridão.

Paulo Ovo

Ninguém quer ouvir

Ninguém quer ouvir as notícias,
Já sabemos que morreram mil pessoas,
Esquartejaram violentamente outras tantas,
O país está a afundar.

Marco Íris

Crânio Esmagado

Crânio esmagado contra a vidraça,
Pele delicada rasgada pela mordaça,
Cordas violentas no corpo doce,
Madrugada cinzenta de crime.

Marco Íris

Rock_7

Poemas de rua, poemas de nojo,
Música gasta de álcool, ritmos bravos de cidade.
Manhãs podres de angústia,
Quero cometer novos erros.

Velocidade nos fumos bafientos,
Luzes mortiças no alvor.
Sol braseiro de verão de horror,
Toda a gente me chateia como lagartos ao sol.

Pássaros loucos de tesão,
Flores intensas de baton.
Gatos fundidos arregaçados,
Cagaste a perna até à virilha.

Se te sentes mal junta te a nós,
Prometemos que te daremos bofetadas para te animar,
Se quiseres parte as mesas todas deste antro,
Berra até a garganta sangrar de fogo,
Depois corre pela rua aos saltos,
Mandando socos na barriga dos velhos preguiçosos.

Quando eu era um alien,
Ficava no quarto o dia todo fechado,
Jogos de computador a toda a hora ,
Segredos adolescentes abafados.

Tv sozinho fora de horas,
Paranóias relacionadas com biscoitos do Dia,
Pó debaixo das unhas,
Manhãs até ás 15:00.

Vasco Vides

Deitado

Fiquei deitado no relvado público,
De cara ao sol, bem bebido,
Enquanto cantavas sambas,
Sorrindo para o rio.

Henrique

Código da Estrada

Ab ba ab ba cdc ede

Filipe Elites

Lobo Voraz

Eu era devorada pelos seus olhos de lobo voraz,
Em seu redor eu saltitava, como um cordeiro.
Pinchava fresca e vaidosa, mas com receio,
Do seu ataque feroz.

Filipe Elites

Cravei três rosas brancas

Cravei três rosas brancas,
Na areia junto ao mar.
Como símbolo do nosso amor,
Ante a imensidão do grande abismo.

De manhã cedo estava o céu nebulado,
As nuvens baixas taparam o céu estrelado.
Testemunha silenciosa da nossa promessa,
As ondas vinham e refrescavam as rosas.

Vieram os primeiros e discorreram se seriam,
Algum símbolo satânico ou funerário.
Outros passaram correndo distraídos,
Por fim um cão rosnou-lhes e mijou-lhes em cima.

Caíram as primeiras pétalas vítimas do vento.
Por muitos dias os caules mantiveram-se hirtos e viçosos, descabelados.
Mas as ondas ficaram brutas,
Esbofetearam a areia que as sustinha e tragaram as rosas.

Roçaram desamparadas o fundo do mar,
Nos vagalhos flutuaram devagar,
Desfolhadas e estraçalhadas já não podiam chamar-se rosas.

Diniz Giz

Questionário

Onde ficam as abelhas no inverno?
Os pardais morrem nos seus ninhos?
Porque não cai a chuva toda junta,
como um lençol de água?

Vasco Vides

Carnes

Largou as suas voluptuosas carnes,
Ao longo da ladeira ingreme e suja.

Filipe Elites

Imagino-te a sorrir deitado

Imagino-te a sorrir deitado,
Na alcova quentinha, sorridente.
Olhos de pura alegria,
Cheiras a leite entre as pregas das tuas tenras banhas.

Fico horas ao teu lado a mimar-te,
Ris-te sempre das minhas brincadeiras.

Lúcia

Na agrura das escarpas de xisto

Na agrura das escarpas de xisto,
uma manta verde a rodeia,
Canta um riacho à sua beira.
Parou no tempo quedou igual.
Bendito seja Jesus Cristo.
Dorme a minha aldeia natal.

Carlos Marques

Chave da Semana

Senti o cheiro húmido das ruas,
Torpe - sorte - morte - sofre - enxofre
Ceia - feia

Filipe Elites

Uma parede de tijolos tosca

Uma parede de tijolos tosca,
Brilhava sob o sol abrasador.
Tu passaste à frente da fornalha ardente,
No contraste branco do teu vestido.

Mário Mosca

Lustroso Cabelo

Lustroso cabelo loiro, ondulado, beleza,
Sibilina, lasciva, linda.
Sorriso fácil glicodoce, límpidos, sinal verdade.
Ao som da flauta e do alaúde,
Alva pele branca de loiça e cristal,
Alegria jovial, semi-louca, dançava.

Diniz Giz

Broa de Sono

Sela o cavalo alado.

Lá flutuou fleumático através da esplanada!
Ao longo do salão saltou ligeiro!
Flutuou nos sapatos de fivela!

Voluptuosa, violinos, tocá-la.

Natural milhares vinham vê-la
Crianças loiras dançando à sua volta ultrapassá-la vala,
Luz vera.

Filipe Elites

Início de Soneto

Casitas coloridas numa malha
apertada de ruas de frescura.

Filipe Elites

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...